São Paulo, terça-feira, 03 de fevereiro de 2004

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BRASIL PROFUNDO

Um dos mortos teve coroa de flores encomendada 2 dias antes

Lavrador diz ter visto 2 carros no local da morte de fiscais

IURI DANTAS
ENVIADO ESPECIAL A UNAÍ (MG)

A força-tarefa criada pelo governo para investigar a morte de três fiscais do trabalho e do motorista deles, na quarta-feira passada em Unaí (MG), apresentou duas novas pistas ontem: o depoimento de uma testemunha que teria visto um outro carro perto do local dos assassinatos e a encomenda de flores para um dos auditores dois dias antes de sua morte.
Embora não haja suspeitos formais, a Polícia Federal investiga nove "gatos", aliciadores de mão-de-obra para a colheita, que atuam na região. Eles já foram indiciados em 2000 por terem feito ameaças a fiscais do Ministério do Trabalho, mas continuam livres.
Os "gatos" estão na mira da PF porque a ação dos fiscais assassinados era, justamente, regularizar as relações de trabalho nas fazendas. A maioria dos grandes produtores de Unaí usa "gatos" para conseguir trabalhadores de outras cidades na época da colheita.
A força-tarefa também começou a analisar informações dadas ao disque-denúncia. A maioria das mais de 20 ligações era de trotes. No fim da tarde de ontem, a PF investigava uma pista sobre os assassinos no Espírito Santo.
De manhã, um lavrador que mora perto do local dos assassinatos procurou a força-tarefa. Disse que ouviu tiros na manhã do crime e viu uma Fiat Strada e uma camionete Mercedes azul, modelo 680, na estrada onde houve as mortes. Seu nome é mantido em sigilo. O depoimento tem diferenças em relação ao que já foi apurado. O lavrador diz que os tiros foram dados a cerca de 50 metros do local identificado pela PF.
Essa é a primeira informação concreta da participação de outro veículo. Até domingo, sabia-se só da Fiat Strada, narrada pelo motorista Ailton Pereira de Oliveira, que ainda acordou após levar um tiro na face. Os policiais começaram a cruzar informações de carros roubados com o novo dado.
A encomenda das flores foi informada à PF logo após o crime. Dois dias antes, a subdelegacia do Trabalho de Paracatu (MG) recebeu o telefonema de uma floricultura da cidade para saber o endereço de Nelson José da Silva, um dos fiscais mortos. Havia a encomenda de uma coroa de flores para ele, das que são comuns em velórios, mas o episódio foi relegado por serem freqüentes as ameaças.
Na semana passada, a PF começou a rastrear a ligação e aguarda detalhes que a operadora dará. Ontem, o diretor da Polícia Federal, Paulo Lacerda, recebeu o primeiro relatório das investigações. A PF trabalha com as hipóteses de vingança de fazendeiros contra os fiscais, ação de "gatos" e assalto.


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