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JANIO DE FREITAS
A prioridade
Uma pergunta continua em
aberto, e sua resposta pode ser mais importante do que
pareça à primeira vista, a propósito do que a velha submissão aos jargões vem chamando
de reforma ministerial. Que
sentido têm, afinal de contas,
modificações ministeriais que,
a rigor, não foram motivadas
pela incorporação, quem diria,
do PMDB ao governo Lula?
Para quem tantas vezes acenou, na campanha, com o
atraente compromisso de que
seu ministério seria formado
pelos melhores em cada área, o
mínimo a dizer da nova configuração ministerial é que conseguiu ser tão ridícula quanto a
anterior. Embora apresente a
primeira inovação do governo
Lula: a simples condição de neto passa a ser bastante para
ocupar um cargo de ministro,
como se vê na nomeação de
Eduardo Campos, cuja consanguinidade com Miguel Arraes é
produtiva, mas sua relação
com Ciência e Tecnologia é
igual à de um pintassilgo com
uma Kombi.
Entre um neto e um dono de
rádios que vai ser ministro do
seu negócio de Comunicações,
entre Ricardo Berzoini ser sinistro da Previdência ou do
Trabalho, e coisas assim, não
surpreende que o realce da "reforma ministerial" recaísse em
quem nem mudou de lugar.
Mas recaiu pelo motivo menos
relevante. José Dirceu é, sim, a
expressão mais clara do sentido
da "reforma", não, porém, pela
tão especulada redução de poder decidida, como dizem, pelo
próprio Lula.
Se, de uma parte, o governo
formalizou a incorporação do
PMDB, tomou as providências
primordiais para o seu principal objetivo neste ano. É claro
que, em sua nova função de
"coordenador dos ministérios",
José Dirceu não terá o que coordenar em termos administrativos, pela razão absoluta de que
o Orçamento não dá margem
de ação aos ministérios e, Antonio Palocci já o admite de público, ainda vai sofrer mais cortes. "Coordenador dos ministérios" quer dizer, de fato, ativador eleitoral.
Por mais que esteja alheia a
certas realidades que se formam, a cúpula do governo tem
consciência de que sua política
econômica é incompatível com
bom desempenho eleitoral.
Apesar disso, sua estratégia de
domínio exige vitórias eleitorais expressivas nas disputas
municipais deste ano, a começar de São Paulo, Rio e Porto
Alegre. E a José Dirceu caberá
criar, acima do imobilismo recessivo, as aparências de dinamismo administrativo, de máquina governamental atirando-se a projetos e ações de
grande efeito. Tal como Dirceu
já fez a propósito de queda juros, várias vezes, de reforma
universitária e outros assuntos
de interesse amplo.
A transferência da "coordenação política" de Dirceu para
Aldo Rebelo, a que muitos têm
dado enorme importância,
transfere um prato pronto, já
entrelaçados que estão o
PMDB, o PTB, o PL, o PSB, e
quem mais interessa, com o PT
e o governo. Coordenação, agora, também ela é com o olho
posto nas eleições municipais. E
sua condução não está com Aldo Rebelo, mas com José Dirceu.
A propósito, está em negociação, para salvar Marta de Suplicy de riscos eleitorais, a costura que nem os detentores da
visão mais cínica, em matéria
de política, jamais imaginariam: a irmandade Lula/PT,
Quércia e Maluf. A que preço e
o que o pagará?
Eis, então, a "reforma": o que
deveria ser governo, e não chegou a ser, torna-se máquina
eleitoral.
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