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CHOQUE ENTRE PODERES
Apesar das críticas, presidente diz não abrir mão da medida
Controle do Judiciário opõe
novamente Lula e Corrêa
SILVANA DE FREITAS
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A polêmica sobre a criação de
um órgão de controle externo do
Poder Judiciário causou ontem,
em dois eventos distintos, divergências entre Luiz Inácio Lula da
Silva e os presidentes do STJ (Superior Tribunal de Justiça), Nilson Naves, e do STF (Supremo
Tribunal Federal), Maurício Corrêa.
Ontem pela manhã, na cerimônia de instalação do ano judiciário
de 2004, no STF, Lula deixou claro
que o governo não abrirá mão da
defesa do controle externo, ou seja, da participação de pessoas que
não sejam juízes no Conselho Nacional de Justiça, prevista na reforma do Judiciário, em tramitação no Senado. Minutos antes,
Corrêa havia criticado a proposta.
Não é a primeira polêmica entre
os presidentes da República e do
STF: Lula e Corrêa já haviam entrado em conflito sobre a reforma
da Previdência e uma suposta
"caixa-preta" do Judiciário.
Ontem, Lula lembrou que a reforma do Judiciário "tramita no
Congresso há 12 anos", disse que
"os temas mais importantes já foram objeto de intensos debates" e
concluiu que "já há amadurecimento suficiente" para a sua
aprovação, pelo menos em parte.
"O governo, eleito democraticamente pela sociedade brasileira,
não pode se omitir no debate
atual sobre a necessidade de se
realizar uma reforma do Judiciário. Trata-se de questão fundamental para o país", disse Lula.
Sobre o controle externo, Lula
foi afirmativo: "O governo já manifestou publicamente o seu posicionamento em defesa da criação
do Conselho Nacional de Justiça e
do Conselho Nacional do Ministério Público, compostos por representantes dos operadores do
direito e da sociedade civil, que
têm atribuições de planejamento
e avaliação administrativa, desenvolvimento de planos que assegurem autonomia e eficiência".
Corrêa, antes, afirmara que
"uma densa parte" dos juízes é
contrária à participação de pessoas que não sejam juízes no Conselho Nacional de Justiça, o órgão
de fiscalização das atividades dos
magistrados previsto na reforma.
"A criação de um órgão desse
gênero não vai responder à expectativa da sociedade brasileira, que
deseja mais presteza e eficiência
do Poder Judiciário. A sua adoção
transformará o Judiciário no único Poder da República que passaria a ter órgão específico de fiscalização externa de suas atividades."
Apesar das divergências, prevaleceu o clima de cordialidade,
com declarações de ambos a favor
do fortalecimento da Justiça. Os
atritos entre Lula e membros do
Judiciário começaram em abril de
2003, quando ele defendeu o controle externo e a abertura da "caixa-preta". Em junho, Lula teve de
ouvir calado críticas de Corrêa à
reforma da Previdência.
A proposta de emenda constitucional, já aprovada pela Câmara,
prevê a criação de um conselho
com 15 membros: nove magistrados, dois advogados, dois membros do Ministério Público e dois
cidadãos, escolhidos pela Câmara
e pelo Senado. Entre os próprios
ministros do STF não há consenso. Nelson Jobim, por exemplo,
que em junho sucederá Corrêa na
presidência do tribunal, defenderá a criação do conselho amanhã
em audiência na Comissão de
Constituição e Justiça do Senado.
"Vírus letal"
À tarde, Lula participou de outro compromisso com juízes -a
abertura da 4ª Reunião Preparatória da 8ª Cúpula Ibero-Americana de Presidentes de Cortes Supremas e Superiores Tribunais de
Justiça, no STJ. Antes de discursar, ouviu críticas contundentes
do presidente do STJ, ministro
Nilson Naves, ao controle externo. Para ele, as ingerências externas poderiam trazer um "vírus letal que inseriria atitudes e interesses políticos determinados a influenciar decisões dos tribunais".
Naves disse que a colocação do
Judiciário em "posição de subordinação" a outro Poder o exporia
a influências políticas, "o que, como sabemos, sucede nos regimes
totalitários". Lula não rebateu.
Como no STF, o vice-presidente
do STJ, Edson Vidigal, divergiu
do titular e defendeu o controle.
À noite, Corrêa fez pronunciamento em rede nacional de rádio
e televisão para defender a imagem da Justiça à nação. "Um Poder Judiciário que se apequene e
se amesquinhe perante os cidadãos tanto menos garantia proporcionará à sociedade e maior
risco poderá trazer à liberdade, ao
patrimônio e à cidadania."
O presidente da OAB (Ordem
dos Advogados do Brasil), Roberto Busato, disse que a entidade defende o controle externo pelo menos desde 1986 e minimizou a reação dos juízes. "Eles estão um
pouco rançosos. Os setores da
vanguarda já não pensam assim.
Muitos juízes da primeira instância o aceitam com tranqüilidade."
Colaborou a Reportagem Local
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