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NO AR
Sensação
NELSON DE SÁ
EDITOR DE ILUSTRADA
O seio de Janet Jackson
pode ter ocupado os
olhos do mundo desde o Super
Bowl, no domingo.
Mas não é um seio, aliás coberto por uma estrela como no
Carnaval, a imagem que mais
fascina nos últimos dias, na sociedade do espetáculo.
Outras imagens, também de
poucos segundos, 38 para ser
exato, vêm exibindo outras partes do corpo.
Elas trazem um pé sozinho na
calçada. Alguns pedaços de carne humana pendurados na janela de um ônibus. Um braço
pela metade. E outras partes,
aqui e ali.
É um atentado suicida. A
guerra de propaganda no
Oriente Médio avançou alguns
quilômetros, com a novidade.
Perto das novas cenas, aquelas
de dois suicídios paulistanos,
que fizeram história no Aqui
Agora e no Cidade Alerta, não
passavam de um aperitivo
-coisa leve.
- A prática de tortura, no Rio
de Janeiro, está constituindo
quase uma rotina.
Foi a declaração do ouvidor
da secretaria nacional de Direitos Humanos, ontem na Globo,
em comentário sobre a morte do
estudante Rômulo Batista de
Melo.
O jovem foi detido, "acusado
de roubar um carro", e ficou seis
dias numa delegacia. Segundo o
Jornal Nacional, "o carro era de
um amigo dele".
Morreu de traumatismo craniano, mas também sufocou no
próprio sangue, que teria entrado pelo pulmão. No registro da
Globo:
- Policiais disseram que ele
tentou o suicídio, batendo com
a cabeça na grade.
Estava em Cabo Frio, mas foi
levado a um hospital em Maricá, depois de ter ficado preso sob
o sol, no que o JN chamou de
"ato cruel".
Já entrou no hospital em cadeira de rodas, com "a cabeça
pendente".
Não se viram imagens. Só dos
pais, em desespero.
(Ah, e o secretário Anthony
Garotinho reclamou no JN que
o governo Lula o persegue politicamente, ao dizer que a tortura
no Rio virou rotina.)
Num dia horrível, com pedaços de corpos e tortura, lá estavam também, na televisão, as
últimas notícias dos assassinatos de quem luta contra a escravidão no Brasil.
E não parou aí. No rastro da
morte de dois adolescentes baleados na Febem, tomou posse
ontem o novo presidente da instituição.
Que prometeu fazer da Febem
um "sistema de educação", algo
assim -e não mais, como hoje,
um açougue.
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