São Paulo, terça-feira, 03 de fevereiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NO AR

Sensação

NELSON DE SÁ
EDITOR DE ILUSTRADA

O seio de Janet Jackson pode ter ocupado os olhos do mundo desde o Super Bowl, no domingo.
Mas não é um seio, aliás coberto por uma estrela como no Carnaval, a imagem que mais fascina nos últimos dias, na sociedade do espetáculo.
Outras imagens, também de poucos segundos, 38 para ser exato, vêm exibindo outras partes do corpo.
Elas trazem um pé sozinho na calçada. Alguns pedaços de carne humana pendurados na janela de um ônibus. Um braço pela metade. E outras partes, aqui e ali.
É um atentado suicida. A guerra de propaganda no Oriente Médio avançou alguns quilômetros, com a novidade.
Perto das novas cenas, aquelas de dois suicídios paulistanos, que fizeram história no Aqui Agora e no Cidade Alerta, não passavam de um aperitivo -coisa leve.
 
- A prática de tortura, no Rio de Janeiro, está constituindo quase uma rotina.
Foi a declaração do ouvidor da secretaria nacional de Direitos Humanos, ontem na Globo, em comentário sobre a morte do estudante Rômulo Batista de Melo.
O jovem foi detido, "acusado de roubar um carro", e ficou seis dias numa delegacia. Segundo o Jornal Nacional, "o carro era de um amigo dele".
Morreu de traumatismo craniano, mas também sufocou no próprio sangue, que teria entrado pelo pulmão. No registro da Globo:
- Policiais disseram que ele tentou o suicídio, batendo com a cabeça na grade.
Estava em Cabo Frio, mas foi levado a um hospital em Maricá, depois de ter ficado preso sob o sol, no que o JN chamou de "ato cruel".
Já entrou no hospital em cadeira de rodas, com "a cabeça pendente".
Não se viram imagens. Só dos pais, em desespero.
(Ah, e o secretário Anthony Garotinho reclamou no JN que o governo Lula o persegue politicamente, ao dizer que a tortura no Rio virou rotina.)
 
Num dia horrível, com pedaços de corpos e tortura, lá estavam também, na televisão, as últimas notícias dos assassinatos de quem luta contra a escravidão no Brasil.
E não parou aí. No rastro da morte de dois adolescentes baleados na Febem, tomou posse ontem o novo presidente da instituição.
Que prometeu fazer da Febem um "sistema de educação", algo assim -e não mais, como hoje, um açougue.


Texto Anterior: Sindicalismo: Em ano de eleição, CUT lança "talk show" em rede nacional
Próximo Texto: Panorâmica - Atentado: Deputado e motorista são baleados em AL
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.