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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CONEXÃO ANGOLA
Comissão apura denúncia de que empresários doaram R$ 1 mi para caixa 2 de Lula em 2002
CPI acha ligações de assessor de Palocci para angolanos
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
Dados da CPI dos Bingos apontam que houve, de dezembro de
2002 a agosto de 2003, 80 ligações
entre Ademirson Ariovaldo da
Silva, assessor do ministro Antonio Palocci (Fazenda), e a Cincotelecom Telecomunicações e Serviços Ltda., empresa oficialmente
ainda em nome do empresário
Roberto Carlos da Silva Kurzweil
e de dois angolanos ex-donos de
bingos em São Paulo.
Em depoimento à CPI dos Bingos, o ex-secretário de Palocci na
Prefeitura de Ribeirão Preto Rogério Buratti afirmou que a campanha do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva em 2002 recebeu
R$ 1 milhão de bingos de São Paulo, possivelmente em esquema de
caixa dois.
Em novembro, a Folha publicou, com base em depoimento de
uma testemunha ligada ao PT e
sob sigilo no Ministério Público
de Ribeirão Preto, que Palocci teria se encontrado com dois representantes do setor de bingos, supostamente angolanos, na casa de
Roberto Kurzweil para acertar a
doação de R$ 1 milhão. Palocci e o
empresário negam (leia texto nesta página).
Na mensagem ao Congresso em
2004, o governo Lula previa a regularização dos bingos, posição
da qual recuou após o estouro do
escândalo Waldomiro Diniz
-assessor da Casa Civil gravado
pedindo propina a um empresário do ramo de jogos.
Kurzweil é o dono do Omega
blindado no qual teriam sido
transportados, de Campinas a São
Paulo, em julho de 2002, dólares
vindos de Cuba para suposto caixa dois da campanha de Lula.
Já no cargo de assessor de Palocci, Ademirson fez, segundo os dados da CPI dos Bingos, nove ligações de janeiro a julho de 2003 para um telefone celular em nome
da Cincotelecom, cujo ramo seria
a construção de estações e de rede
de telefonias.
Do mesmo celular, Ademirson
recebeu, ainda conforme o relatório da CPI, 71 telefonemas, sendo
20 em dezembro de 2002, e as demais durante 2003, até agosto,
quando já era assessor de Palocci
no Ministério da Fazenda.
A CPI não sabe com quem Ademirson falou na empresa. Para a
comissão, há indícios que o contato não tenha sido com Kurzweil,
porém, essa informação não pode
ser confirmada, pois os sigilos do
empresário, quebrados a pedido
do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), estão lacrados por ordem do
presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Nelson Jobim.
Angolanos
Outros dois sócios da Cincotelecom são os empresários Artur José Valente de Oliveira Caio e José
Paulo Teixeira Cruz Figueredo.
Na Junta Comercial de São Paulo,
a nacionalidade de ambos aparece como sendo angolana.
Documentos, em posse da CPI,
apontam que Caio e Figueredo foram donos até 2000 dos bingos
Itaim e Alterosas Diversões, ambos de São Paulo. A comissão
anota no documento: "Supõe-se
que [os atuais proprietários] sejam laranjas".
No entendimento da CPI, com
base em informações da Junta
Comercial, Figueredo e Caio são
donos da empresa Fabama, que
fabricaria caça-níqueis. Por essa
razão, os dois empresários foram
convocados em outubro para depor na comissão.
O presidente da CPI dos Bingos,
senador Efraim Morais (PFL-PB),
afirmou que levará todos os documentos sobre a Cincotelecom na
próxima terça-feira a Jobim. Na
reunião, Efraim tentará mudar as
decisões do ministro que suspenderam as quebras de sigilos de
Kurzweil e do presidente do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio
às Micro e Pequenas Empresas),
Paulo Okamotto, amigo de Lula.
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