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JANIO DE FREITAS
O que a Carochinha não sabe
Aí, dona Baratinha apareceu
sem ninguém perceber e roeu as
asas da Borboleta. Aí, os bichos todos ficaram muito espantados, e
dona Baratinha então disse: "Foi o
Grilo Falante que mandou. A Borboleta era linda, maravilhosa,
mas o Grilo Falante quer a Mariposa".
Aí está, para quem não a ouviu
na voz autorizada do ministro da
Fazenda, a explicação do governo
para a repentina defenestração do
recém-nomeado presidente do
Banco Central. Não houve, na versão carochinhamente ridícula,
mais motivo de exoneração do que
a oferta dos seus cargos por Pedro
Malan e Francisco Lopes, em dia
que o ministro não sabe qual foi, e
a resposta do presidente de que
"insistia em manter" Malan.
Só por coincidência, então, Francisco Lopes foi afastado em seguida a dois fatos notáveis: a disparada do dólar na sexta-feira, acompanhada da corrida aos bancos e à
poupança, e a chegada da missão e
da segunda maior autoridade do
FMI, antecipando sua saída do Fórum Econômico Mundial, na Suíça, para vir ao Brasil.
A Carochinha não sabe, mas o
que aconteceu foi que Pedro Malan ficou com a posição do FMI e
Francisco Lopes com a posição que
já tornara pública na semana passada, mais firmemente na sexta-feira endolarada.
A missão do FMI não escondera
que sua vinda tem, entre outras, a
finalidade de determinar os princípios de intervenção do BC, quando o dólar iniciar disparadas.
Francisco Lopes, por seu lado, defende e praticou, quando o dólar
iniciou a subida, a tese da não-intervenção, convicto de que a elevação a níveis despropositados não
se aguenta, seguindo-se uma queda que inicia o equilíbrio do dólar
(foi o que se deu, de fato, pelo menos na segunda e ontem, primeiros
dias úteis depois da alta absurda).
A concepção de Francisco Lopes,
que não era novidade para Fernando Henrique, Malan, FMI e Senado, foi responsabilizada pelos
três primeiros, quando posta em
prática, por tudo o que houve na
sexta-feira. E decretou o fim de Lopes. Ou abriu as portas para a nomeação de Armínio Fraga Neto, já
indicado por André Lara Resende
e bem recebido por Pedro Malan.
Agora o segundo aspecto do episódio. Para Armínio Fraga, presidir o Banco Central é uma honra.
E a escolha talvez seja um reconhecimento dos seus méritos, o
que só não se pode afirmar em vista das escolhas anteriores, que os
próprios presidente e ministro
acabaram condenando como desastrosas.
O governo, porém, não poderia
entregar o Banco Central, ou seja,
o controle de todo o sistema financeiro e o dos investimentos especulativos, a alguém que até ontem
assessorava um megainvestidor
especulativo com presença volumosa na ciranda brasileira. A honestidade de Armínio Fraga não
está em questão, a priori, mas os
deveres morais de um governo
-se não é exagero excessivo falar
desses deveres- exigem rigores e
inflexibilidades que são indispensáveis à moralidade do país, perante si mesmo e perante o mundo.
Em tempo: é exagero excessivo,
sim, falar nos deveres morais de
um governo. A pretensa justificativa dada pelos políticos governistas, quase todos, para o BC presidido por ex-assessor de Georges Soros é de imoralidade perfeita: o conhecimento que Armínio Fraga
tem da especulação vai servir ao
governo para combater os especuladores.
Sem qualquer alusão, aqui, à
pessoa de Fraga, o que, em última
instância, a tese dos líderes governistas no Congresso propõe é a entrega das secretarias de Segurança, a direção da Polícia Federal e o
Ministério da Justiça aos que conhecem de dentro as formas todas
do banditismo.
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