São Paulo, quarta-feira, 03 de março de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Graciano dos Santos Neto, nomeado no governo Lula, foi até 2002 procurador da empresa, envolvida no caso Waldomiro Diniz

Presidente de estatal representava a GTech

RUBENS VALENTE
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

A empresa de informática GTech Brasil, sob investigação da Polícia Federal no escândalo que envolve o ex-assessor do ministro José Dirceu (Casa Civil) Waldomiro Diniz, tinha como um procurador de seus negócios no país Graciano dos Santos Neto, o atual presidente da empresa estatal Cobra Computadores, pertencente ao Banco do Brasil.
A procuração, à qual a Folha teve acesso, foi assinada em setembro de 2002, cinco meses antes de Neto ter sido nomeado pelo governo Lula para a presidência da Cobra, em março de 2003.
As assessorias da GTech e da Cobra informaram que Neto foi diretor da Transactive, um braço da multinacional norte-americana, entre 2001 e 2002. Segundo as assessorias, a procuração não é mais válida, porque Neto deixou a GTech em novembro de 2002, e hoje ele "não tem vínculos" com a empresa.
De acordo com a procuração, Neto integrava um grupo seleto de seis altos funcionários da GTech, entre os quais estava o atual diretor de marketing da empresa, Marcelo José Rovai -que, segundo a GTech e investigações do Ministério Público Federal, participou de reuniões em Brasília com Waldomiro Diniz para falar do contrato que a empresa tem com a Caixa Econômica Federal.
Pelo documento, registrado num cartório do bairro do Ibirapuera, em São Paulo, Neto tinha poderes para, individualmente, representar a GTech em "qualquer processo administrativo de licitação pública que venha a ser promovida por órgão da administração pública federal, estadual ou municipal, direta ou sociedades de economia mista", podendo "oferecer impugnações sobre a participação de outras empresas quanto à documentação, qualidade dos serviços, preços e outros assuntos".
Com mais um dos outros cinco procuradores, Neto poderia, "independentemente da ordem de nomeação", "emitir e assinar cheques para movimentar contas correntes da outorgante [GTech Brasil] nas agências dos bancos e instituições financeiras", além de emitir e endossar duplicatas, fechar contratos de câmbio e uma série de outros procedimentos.
A Cobra faturou no ano passado cerca de R$ 730 milhões em contratos com o Banco do Brasil, 20 prefeituras, incluindo a de São Paulo, e outros órgãos públicos. O valor registrado sob o governo Lula é quase o dobro do obtido no ano anterior -R$ 411 milhões.
A Cobra Computadores tem como clientes, além do Banco Brasil (com o qual assinou cerca de 70% do total de contratos), a CEF, o Banco do Estado do Espírito Santo e pelo menos seis prefeituras, três tribunais de Justiça e duas operadoras de telefonia.
A Folha apurou que o nome de Neto foi uma indicação do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. O BB e a Cobra não confirmaram a informação.
A indicação de Neto foi feita ao Conselho Diretor do BB, formado por oito funcionários. O nome foi analisado pelo conselho, que decidiu pela escolha, em votação. O critério, segundo o BB, foi a competência técnica. O mandato de Neto vai até março de 2006.
O BB detém 99,36% do capital votante da Cobra Computadores e Sistemas Brasileiros S/A -os outros sócios são o BNDESPar (empresa de participações do BNDES) e a corretora Atrium.


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