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SOMBRA NO PLANALTO
Graciano dos Santos Neto, nomeado no governo Lula, foi até 2002 procurador da empresa, envolvida no caso Waldomiro Diniz
Presidente de estatal representava a GTech
RUBENS VALENTE
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
A empresa de informática
GTech Brasil, sob investigação da
Polícia Federal no escândalo que
envolve o ex-assessor do ministro
José Dirceu (Casa Civil) Waldomiro Diniz, tinha como um procurador de seus negócios no país
Graciano dos Santos Neto, o atual
presidente da empresa estatal Cobra Computadores, pertencente
ao Banco do Brasil.
A procuração, à qual a Folha teve acesso, foi assinada em setembro de 2002, cinco meses antes de
Neto ter sido nomeado pelo governo Lula para a presidência da
Cobra, em março de 2003.
As assessorias da GTech e da
Cobra informaram que Neto foi
diretor da Transactive, um braço
da multinacional norte-americana, entre 2001 e 2002. Segundo as
assessorias, a procuração não é
mais válida, porque Neto deixou a
GTech em novembro de 2002, e
hoje ele "não tem vínculos" com a
empresa.
De acordo com a procuração,
Neto integrava um grupo seleto
de seis altos funcionários da
GTech, entre os quais estava o
atual diretor de marketing da empresa, Marcelo José Rovai -que,
segundo a GTech e investigações
do Ministério Público Federal,
participou de reuniões em Brasília com Waldomiro Diniz para falar do contrato que a empresa tem
com a Caixa Econômica Federal.
Pelo documento, registrado
num cartório do bairro do Ibirapuera, em São Paulo, Neto tinha
poderes para, individualmente,
representar a GTech em "qualquer processo administrativo de
licitação pública que venha a ser
promovida por órgão da administração pública federal, estadual
ou municipal, direta ou sociedades de economia mista", podendo
"oferecer impugnações sobre a
participação de outras empresas
quanto à documentação, qualidade dos serviços, preços e outros
assuntos".
Com mais um dos outros cinco
procuradores, Neto poderia, "independentemente da ordem de
nomeação", "emitir e assinar cheques para movimentar contas
correntes da outorgante [GTech
Brasil] nas agências dos bancos e
instituições financeiras", além de
emitir e endossar duplicatas, fechar contratos de câmbio e uma
série de outros procedimentos.
A Cobra faturou no ano passado cerca de R$ 730 milhões em
contratos com o Banco do Brasil,
20 prefeituras, incluindo a de São
Paulo, e outros órgãos públicos. O
valor registrado sob o governo
Lula é quase o dobro do obtido no
ano anterior -R$ 411 milhões.
A Cobra Computadores tem como clientes, além do Banco Brasil
(com o qual assinou cerca de 70%
do total de contratos), a CEF, o
Banco do Estado do Espírito Santo e pelo menos seis prefeituras,
três tribunais de Justiça e duas
operadoras de telefonia.
A Folha apurou que o nome de
Neto foi uma indicação do ministro da Fazenda, Antonio Palocci.
O BB e a Cobra não confirmaram
a informação.
A indicação de Neto foi feita ao
Conselho Diretor do BB, formado
por oito funcionários. O nome foi
analisado pelo conselho, que decidiu pela escolha, em votação. O
critério, segundo o BB, foi a competência técnica. O mandato de
Neto vai até março de 2006.
O BB detém 99,36% do capital
votante da Cobra Computadores
e Sistemas Brasileiros S/A -os
outros sócios são o BNDESPar
(empresa de participações do
BNDES) e a corretora Atrium.
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