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ELIO GASPARI
A economia Curupira do Banco Central
O presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles, anunciou que a economia
nacional deverá crescer 3,5%
neste ano. Em janeiro do ano
passado ele prometia um crescimento de 2,8%. Deu -0,2%. Ou
seja, se em janeiro do ano que
vem o IBGE anunciar que 2004
fechou com um crescimento de
0,5% do PIB, ninguém poderá
reclamar, pois o desempenho estará dentro da margem de erro
do doutor. Quando ele trabalhava em banco americano, não
era doido de fazer uma coisa
dessas.
Na segunda-feira, o presidente
do Banco Central deu uma aula
de economia (em português hermético), monologando com um
"interlocutor imaginário" ao
qual ensinou que o caminho para a recuperação "passa pela capilarização dos efeitos da política monetária, que começa justamente em setores mais sensíveis ao crédito, se transmite em
seguida à demanda por bens intermediários e, a partir do aumento dos níveis de produção
desses setores, acaba induzindo
um aumento da massa salarial". Ou não. Nos últimos nove
anos, os efeitos da política monetária secaram as veias da escumalha, arruinaram as empresas, reduziram a massa salarial
e produziram os maiores índices
de desemprego dos últimos 20
anos.
A aula do doutor Meirelles foi
inquietante. É um texto tenso,
encalacrado, como muitos monólogos com interlocutores imaginários. Quem tem o gosto de
ler os serenos pronunciamentos
de Alan Greenspan, o presidente
do Banco Central americano,
atemoriza-se diante de Meirelles. Ele bota medo nas pessoas.
Ao fim de sua exposição, ensinou:
"É necessário resistir ao apelo
fácil dos cantos de falsas sereias
que nos convidam a repetir os
erros do passado. Trazer de volta déficits primários e baixar os
juros artificialmente, sem reduzir de forma consistente o risco
Brasil, seria repetir a mesma série de desastres vivida pela economia brasileira nas últimas
décadas. Não é isso que espera
de nós a sociedade brasileira.
Não é isso o que faremos".
O doutor produziu uma peroração de mitingueiro estudantil.
Pelo seguinte:
Qualificou como catastróficas
as conseqüências de uma política diferente da sua, mas quem
produziu catástrofe em 2003 foi
uma ekipe da qual faz parte
Henrique Meirelles. Os juros altos de Meirelles não são necessariamente reais e os dos outros
também não são necessariamente artificiais. Sabe-se apenas que os dele são ruinosos.
Referiu-se aos "desastres" das
"últimas décadas". Não disse
quantas são as décadas. Se são
duas, tudo bem. Além daí o
doutor não deve ir. Em 1974 o
Brasil crescia a 10% ao ano.
Se Meirelles faz contas com a
mesmo lógica com que sustenta
seus pontos de vista, o Brasil vai
à breca. Não há "falsas sereias".
Como elas não existem, não podem ser verdadeiras. Seria como
dizer que o Banco Central e o
Ministério da Fazenda foram
tomados por falsos Curupiras
que ensinam o caminho errado
a Macunaíma.
Há algo de Curupira no no governo de Lula, no doutor Meirelles e nos seus ilustres colegas de
ekipekonômica. O indiozinho
peludo de dentes verdes da sabedoria indígena brasileira ilude
os caçadores porque tem os pés
voltados para trás. Pensa-se que
ele foi para a frente e ele andou
para trás. Como o governo, que
em janeiro do ano passado
anunciou um crescimento de
2,8% do PIB, prometeu um "espetáculo do crescimento" para
julho e fechou o ano com uma
contração econômica de 0,2%.
Meirelles é um veterano Curupira. Em janeiro de 1999 ele dizia que em 2001 e 2002 o Brasil
cresceria a taxas de 7% ao ano.
Não se chegou a 2%.
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