São Paulo, sexta-feira, 03 de março de 2006

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Limpar a casa

A brindo edição em parte dedicada a Lula, o título do editorial da "Economist" soa quase entusiasmado:
- A mágica de Lula.
Mas o texto não vai bem por aí. Foi um editorial para ensinar, como de costume na revista, "o que o presidente manchado por escândalo deveria fazer com uma segunda chance".
Antes, a avaliação gerencial. Sobre a economia:
- Pelos padrões de outros grandes emergentes como a China e Índia, o Brasil continua a desapontar... Pelos padrões de seu passado recente, porém, o Brasil está indo bem.
Ou ainda:
- Está construindo sobre a base iniciada pelo predecessor, mas o faz com uma considerável coragem. Aferrou-se às duras políticas fiscal e monetária até quando ficaram impopulares. Ao mesmo tempo, começou a enfrentar a desigualdade social com um programa que alcança 8,7 milhões de famílias.
O que fazer, então? Antes de mais nada, "vencer na conversa, não apelar ao suborno":
- O Brasil é um país difícil de mudar... Na busca de maioria no Congresso fragmentado, líderes petistas são acusados de cortar caminho com uma arrogância leninista, subornando pequenos partidos-de-aluguel.
Mais à frente:
- O escândalo atingiu mais a imagem do partido do que Lula. Muitos dos brasileiros parecem sentir que seja lá o que tiver acontecido não foi pior que no passado... Se for reeleito, porém, Lula precisa limpar a casa.
Não só pelo país, diz a revista, mas pelo hemisfério:
- A maneira do Brasil -com uma construção paciente das instituições e do consenso- tem muito mais em seu favor em uma região onde o populismo de Chávez tem atraído mais atenção ultimamente.
Para encerrar:
- Lula não é só um político carismático, mas de sorte. Ele prometeu um governo limpo e presidiu sobre um escândalo de corrupção, e ainda assim parece capaz de ganhar uma segunda chance. Ele tem potencial de ser um dos políticos democráticos mais marcantes para a América Latina. Mas a maior parte de seu trabalho está pela frente.

 

A edição quase exagerada da "Economist" é preparatória da visita de Estado da semana que vem. A agência Reuters noticiou ontem que o presidente vai se reunir "com "o creme e a nata" empresarial e financeira".
De outra parte, Lula já surgia ontem nos tablóides de Londres, para ser preciso, em uma coluna do "Daily Mail".
Pelo que anuncia Richard Kay, "conhecido pelas boas fontes que tem junto à família real", no relato da BBC Brasil, a rainha Elizabeth 2ª deve transmitir a Lula "um pedido de desculpas velado" pelo assassinato de Jean Charles de Menezes.

A AGENDA
Se a "Economist" entrevista Lula, Larry Rohter reage com FHC, Tasso Jereissati e Bolívar Lamounier no "New York Times". Do primeiro parágrafo:
- Há um ano, Lula parecia imbatível... Agora, porém, com o presidente enfraquecido pelo pior escândalo de corrupção na história moderna do Brasil, o principal partido de oposição tem o problema oposto: dois fortes postulantes à candidatura que só um pode vencer.
Mas FHC, como sublinhou o blog Primeira Leitura, de Reinaldo Azevedo, se concentrou no que mais importa, citando a campanha de John Kerry em 2004:
- Eu estava nos EUA e fiquei chocado como o partido se deixou levar pela agenda do governo. Você tem que determinar a agenda. Se você deixa o outro lado fazê-lo, vai perder, porque eles escolhem o terreno onde lutar.
É o que está em jogo nas entrevistas mais recentes do ex-presidente sobre corrupção -e agora no noticiário pós-Carnaval, a começar do "Jornal Nacional".
 

Antes, porém, tem o enfrentamento dos "dois fortes postulantes". A Globo, que antes se recusou a noticiar a pesquisa CNT/Sensus, ontem destacou a Setcesp/Ibope, anunciando que "Geraldo Alckmin aparece com 40%" para o Senado e "Eduardo Suplicy tem 29%".
Segundo o Noblog, de Ricardo A. Setti, "por mais que não admita ter um plano B, Alckmin deverá concorrer ao Senado caso seja preterido". Segundo o próprio, não -ao menos pelo que se lia ontem no UOL.

EM OBRAS No comercial da Prefeitura de São Paulo, ouvem-se os versos "se essa rua fosse minha, eu mandava recapear", mais um locutor que anuncia: "Essa rua é sua, é de todos os brasileiros. Quase três milhões de metros quadrados recapeados, porque SP fica mais bonita com você. Visite esta nova cidade."

@ - nelsondesa@folhasp.com.br

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