São Paulo, sexta-feira, 03 de março de 2006

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IGREJA

D. Geraldo Majella faz críticas também a Bolsa-Família e a investigações

Para CNBB, presidente é submisso a credores

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Um dia depois de o secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), d. Odilo Pedro Scherer, dizer que o Brasil é um "paraíso financeiro", o presidente da entidade, d. Geraldo Majella Agnelo, elevou o tom das críticas ao governo Lula.
"Esse governo gosta de fazer comparações com outras administrações. Mas não existe na história um governo tão submisso às condições impostas pelos credores do que esse governo", disse ontem o cardeal primaz do Brasil, em Salvador, ao lançar oficialmente a Campanha da Fraternidade na Bahia.
"Eu ainda não vi um banco quebrar no governo Lula. Pelo contrário, os banqueiros estão lucrando cada vez mais", disse d. Geraldo Majella.
O principal programa social do governo foi duramente criticado pelo arcebispo. "O Bolsa-Família é assistencialismo, não é promoção humana. Em alguns casos, [o programa] estimula as pessoas a não fazerem nada em troca de R$ 60, R$ 90 por mês. O que nós [a CNBB] queremos é trabalho e educação para todos."
Antes da entrevista, ao participar de um programa de televisão, d. Geraldo Majella disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva "não tem a visão do povo". "O povo quer trabalho, o povo quer educação, e não campanhas de Carnaval."
Apesar das criticas constantes que tem feito à administração do presidente Lula, d. Geraldo disse que a CNBB não faz oposição ao governo. "Queremos contribuir para melhorar o Brasil, e vamos seguir com o nosso objetivo."
O cardeal primaz disse que a Igreja Católica está preparando uma cartilha para "orientar" os brasileiros nas próximas eleições. "Vamos distribuir o livro, que vai ajudar na formação dos eleitores, com as nossas recomendações para todas as comunidades", afirmou d. Geraldo.

Indicadores
O presidente da CNBB também citou estatísticas para criticar o governo Lula. "Os indicadores, nacionais ou internacionais, mostram que um terço da população brasileira vive abaixo da linha da miséria. É isso que nos preocupa. Aí eu pergunto: tem trabalho? Tem educação?"
O arcebispo pediu mudanças na política econômica, mesmo reconhecendo que alguns índices são satisfatórios. "Nós estamos dizendo sempre: escuta, é urgente, tem miséria, tem fome, tem desemprego no Brasil. Então, é preciso mudar a política econômica para privilegiar os mais pobres, os mais necessitados, os mais sofredores", concluiu.
D. Geraldo Majella disse ainda que os "acordos políticos" feitos para impedir a punição de alguns parlamentares acusados de participação no esquema do "mensalão" prejudicam a imagem do Brasil. "Já está provado que a corrupção existe. Agora, protelar prazos para não punir os culpados é inaceitável. A gente vê que os acusados conseguem muitos habeas corpus, não vão aos depoimentos, dizem que estão doentes. Isto não dá para aceitar."


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