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JANIO DE FREITAS
Amigos e aliados
É um governo de gente que
esquece tudo, a começar do
que foi escrito com o propósito
de ser lembrado. Mas o sumiço, no Orçamento federal deste ano, de R$ 81 milhões não
se deve a um esquecimento
acidental, adotado como explicação pelo Planejamento e
pela Presidência. Não é que os
autores da explicação sejam
mentirosos, Deus os livre.
Apenas, mais uma vez, esqueceram de ser verdadeiros.
O dinheiro, resultante de
um compromisso de Fernando
Henrique com Mário Covas,
seria aplicado na construção
de nove presídios, considerados indispensáveis para deter,
pelo menos deter, a progressão da criminalidade em São
Paulo.
Ausente do projeto de Orçamento feito pelo governo, a
verba foi incluída, porém, entre as propostas de alteração
orçamentária apresentadas
na comissão técnica da Câmara. E rejeitada. Não pela
oposição, que nem teria número para isso, mas pelos deputados que votam de acordo
com a Presidência da República.
O falso esquecimento foi, na
verdade, um dos muitos
rounds no enfrentamento velado entre Fernando Henrique e Mário Covas. A irritação do diretório paulista do
PSDB com o prestígio dado a
Paulo Maluf é atribuída por
Fernando Henrique à incitação de Covas. A própria recusa de Covas à sua recandidatura é vista por Fernando
Henrique e seu círculo como
estocada no empenho fernandista de reeleição.
O sumiço e, depois, a derrubada da verba foram a recusa
deliberada de apoio a um projeto que fortaleceria Mário
Covas e o seu governo. Nada
mais do que isso. E nada mais
fácil: Fernando Henrique, esquecido aquele dedo da mão
eleitoral que prometia ação
pela segurança, só precisou esquecer o compromisso com
Mário Covas. Afinal de contas, Mário Covas não é Paulo
Maluf. É amigo, como dizem
ambos, e correligionário peessedebista.
Ah, os escritos
Campanha lítero-eleitoral
-é o que prenunciam alguns
próximos lançamentos editoriais.
Em março, Cesar Maia e
Cristovam Buarque estarão
usando o selo da Renavan para escritos que, espera-se sobretudo de Cesar, não resultem de esquecimento do que
escreviam.
A Companhia das Letras
lançará no fim do semestre,
bem mais perto da eleição,
um livro com pronunciamentos de Fernando Henrique.
Deve ser uma importante
contribuição para o estudo
psicopatológico da amnésia.
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