São Paulo, terça, 3 de março de 1998

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JANIO DE FREITAS
Amigos e aliados


É um governo de gente que esquece tudo, a começar do que foi escrito com o propósito de ser lembrado. Mas o sumiço, no Orçamento federal deste ano, de R$ 81 milhões não se deve a um esquecimento acidental, adotado como explicação pelo Planejamento e pela Presidência. Não é que os autores da explicação sejam mentirosos, Deus os livre. Apenas, mais uma vez, esqueceram de ser verdadeiros.
O dinheiro, resultante de um compromisso de Fernando Henrique com Mário Covas, seria aplicado na construção de nove presídios, considerados indispensáveis para deter, pelo menos deter, a progressão da criminalidade em São Paulo.
Ausente do projeto de Orçamento feito pelo governo, a verba foi incluída, porém, entre as propostas de alteração orçamentária apresentadas na comissão técnica da Câmara. E rejeitada. Não pela oposição, que nem teria número para isso, mas pelos deputados que votam de acordo com a Presidência da República.
O falso esquecimento foi, na verdade, um dos muitos rounds no enfrentamento velado entre Fernando Henrique e Mário Covas. A irritação do diretório paulista do PSDB com o prestígio dado a Paulo Maluf é atribuída por Fernando Henrique à incitação de Covas. A própria recusa de Covas à sua recandidatura é vista por Fernando Henrique e seu círculo como estocada no empenho fernandista de reeleição.
O sumiço e, depois, a derrubada da verba foram a recusa deliberada de apoio a um projeto que fortaleceria Mário Covas e o seu governo. Nada mais do que isso. E nada mais fácil: Fernando Henrique, esquecido aquele dedo da mão eleitoral que prometia ação pela segurança, só precisou esquecer o compromisso com Mário Covas. Afinal de contas, Mário Covas não é Paulo Maluf. É amigo, como dizem ambos, e correligionário peessedebista.

Ah, os escritos
Campanha lítero-eleitoral -é o que prenunciam alguns próximos lançamentos editoriais.
Em março, Cesar Maia e Cristovam Buarque estarão usando o selo da Renavan para escritos que, espera-se sobretudo de Cesar, não resultem de esquecimento do que escreviam.
A Companhia das Letras lançará no fim do semestre, bem mais perto da eleição, um livro com pronunciamentos de Fernando Henrique. Deve ser uma importante contribuição para o estudo psicopatológico da amnésia.



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