São Paulo, terça, 3 de março de 1998

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CRIME ORGANIZADO
Secretário da Segurança alagoano diz que mortes podem estar relacionadas à "gangue da farda"
Polícia encontra 6 cabeças em praia de AL

ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Maceió

A polícia alagoana encontrou ontem seis cabeças humanas parcial ou totalmente decompostas na areia da praia de Sauaçuy (20 km ao norte de Maceió, AL). As outras partes dos corpos não foram encontradas.
As cabeças foram achadas a cerca de 700 m da casa apontada pela Polícia Federal como o "quartel-general" da chamada "gangue fardada".
As investigações para combater o crime organizado no Estado começaram em janeiro. Contam com a participação das polícias Federal, Civil e Militar, que apontam como integrantes da quadrilha policiais civis e militares, políticos e empresários.
Cerca de 40 policiais, a maioria militares, já estão presos.
Desde o início das operações, 32 corpos (incluindo as seis cabeças de ontem) já foram localizados em cemitérios clandestinos.
Ninguém foi identificado. Faltam recursos ao IML (Instituto Médico Legal) de Alagoas. Para as polícias, todos os esqueletos são de vítimas do crime organizado.
Ontem, o instituto não tinha condições de avaliar há quanto tempo as cabeças haviam sido decepadas. Algumas ainda possuíam cabelos.
"O pessoal está ficando esperto. Separa os corpos das cabeças para dificultar ainda mais as identificações", afirmou o secretário da Segurança, delegado João Mendes.
No final de semana, o assassinato de um sargento e as ameaças do coronel PM Manoel Francisco Cavalcante de dizer quem são os responsáveis por mais de cem crimes ocorridos em Alagoas nos últimos anos aumentaram o temor no vivido pelos alagoanos.
O coronel está preso desde o dia 16 de janeiro acusado de liderar a "gangue fardada", que praticou roubo de carros, assaltos a bancos, de ter cometido crimes sob encomenda e de utilizar o dinheiro do crime para financiar campanhas eleitorais.
O secretário Mendes disse não ter dúvidas de que o assassinato do sargento Jaime da Silva Júnior, 31, ocorrido na noite de domingo, em Maceió, "trata-se de queima de arquivo".
O sargento vinha sendo investigado pelas polícias por seus sinais exteriores de riqueza, incompatíveis com seu salário de R$ 850,00 por mês.
Ele possui, segundo informações das polícias, um sobrado e um Gol GTI, além de ser visto com frequência em bares e restaurantes caros de Maceió.
O sargento foi assassinado em seu carro. Três homens dispararam dezenas de tiros contra o Gol. Seis atingiram o sargento, que morreu na hora. Sua namorada, que estava no carro, não foi atingida. Para protegê-la, a polícia não divulga sua identidade.



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