São Paulo, segunda-feira, 03 de abril de 2000


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REAÇÃO
Acusados dizem que prefeito quer "desestabilizar" Câmara de SP
"Lista da propina" é obra de Pitta, afirmam vereadores

Cleo Velleda - 15.abr.99/Folha Imagem
O vereador Milton Leite (PMDB), apontado na "lista da propina"


ROBERTO COSSO
da Reportagem Local

Vereadores paulistanos atribuem ao prefeito Celso Pitta (PTN) a responsabilidade pela divulgação, no fim-de-semana, da lista de supostos pagamentos feitos pelo Executivo a sete parlamentares da base governista na Câmara Municipal.
A responsabilização do prefeito fez os vereadores recrudescerem o discurso contra ele, o que indica que Pitta deve ter problemas na Câmara durante esta semana.
Amanhã será instalada a comissão que analisará o pedido de impeachment feito pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
"É possível que o Executivo tenha plantado isso para tentar desestabilizar a Câmara", afirma o vereador Milton Leite (PMDB), que teria recebido R$ 650 mil segundo a lista em poder do Ministério Público.
"Para quem mais interessaria a divulgação dessa palhaçada que atingiu a Câmara inteira?"
Ele afirma que os administradores da cidade "devem alimentar mais mentiras com o objetivo de abafar os trabalhos da comissão de impeachment".
Leite afirma que mantém sua posição segundo a qual o pedido de impeachment de Pitta não pode ser arquivado pela comissão. "A rejeição do pedido pela comissão é legal, mas não é moral. O impeachment precisa ser analisado pelos 55 vereadores, não por uma comissão de 7", diz.
Ele ameaça pressionar o vereador Ivo Morganti (PMDB), representante do partido na comissão, a votar a favor do impeachment. "Se o Ivo tiver dificuldades de fazer isso, eu vou lá e voto pelo acolhimento da denúncia."
O vereador Toninho Paiva (PFL), acusado na lista, também culpa o Executivo. "O governo está jogando as últimas cartadas."
Para ele, a prefeitura "está tentando desestabilizar tudo para ver se salva". "Se o governo espera me prejudicar, acho que o governo vai ser muito mais prejudicado."
A assessoria de imprensa de Pitta foi procurada durante a tarde de ontem pela Folha para comentar as críticas. Nenhum dos recados deixados em secretárias eletrônicas foi respondido.
Sob o compromisso de não terem seus nomes revelados, outros vereadores da situação e da oposição também colocam a culpa em Pitta e dizem ter assumido posição em prol do impeachment.
Alguns afirmam que a riqueza de detalhes com os quais os supostos pagamentos foram divulgados somente poderia partir de quem conhece os métodos de controle desse tipo de operação.
Os vereadores também ressaltam que a lista dos sete parlamentares que receberiam a mesada do Executivo inclui alguns dos que têm apresentado maiores problemas políticos ao governo.
Milton Leite e Miguel Colasuonno foram os que defenderam com maior ênfase nas reuniões internas do PMDB a necessidade de apuração das denúncias da ex-primeira-dama Nicéa Pitta contra o prefeito.
Paiva votou a favor do impeachment de Pitta em 99, quando participava da comissão que fez análise preliminar do pedido. Quando a questão foi analisada em plenário, não compareceu.
Desde que saiu na cadeia, em fevereiro, a vereadora Maria Helena Fontes (PL) faz discursos ameaçadores contra o Executivo e seus colegas de Câmara.
Mesmo antes de assumir definitivamente seu cargo, o vereador Alan Lopes já participava do chamado ""bloco iceberg", que fez pouco mais de um mês de oposição ao prefeito.
Também foi divulgada, pela revista ""IstoÉ", a informação de que Ministério Público do Estado teria um documento anônimo segundo o qual vereadores tucanos e cinco petistas receberiam a ""mesada" do Executivo.
A bancada do PSDB na Câmara também apontou para Pitta e a pessoas ligadas a ele o envolvimento do partido nas denúncias.
"Essas denúncias partiram do gabinete do prefeito. Será que o prefeito é imbecil a ponto de pagar a quem lhe faz oposição?", reagiu o presidente do diretório municipal do partido, João Câmara, que se reuniu ontem com os sete vereadores tucanos e os deputados estaduais Walter Feldman e Edson Aparecido, presidente estadual do partido.
O líder da bancada, Aurélio Nomura, disse que "isso partiu de pessoas ligadas ao governo como forma de desestabilizar a oposição" a Pitta.
Segundo Aparecido, o partido prepara manifestação para esta quinta-feira, em frente à Câmara, como forma de pressionar os vereadores.
O vereador Roberto Trípoli, que segundo o suposto documento seria o intermediário entre bancada e prefeitura, criticou o documento. ""Vamos limpar a cidade do malufismo. Vamos provar por A mais B quem é quem", disse. "Sempre votei contra Maluf e Pitta. É estranho ganhar dinheiro para falar mal", disse.


Colaborou Lydia Medeiros, da Reportagem Local

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