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Presidente critica a Folha por causa do dossiê Caribe
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Fernando Henrique Cardoso criticou ontem a Folha na cerimônia de criação da
Corregedoria Geral da União. Ao
citar reportagem publicada pelo
jornal no domingo ("Extrato bancário do dossiê Caribe é falso"), o
presidente disse:
"Dossiê Cayman. Desse, me dá
gosto de falar hoje. Porque eu li,
ontem, um artigo de um dos principais divulgadores do dossiê
Cayman, dizendo que ele é uma
farsa. Lamento, só, que o jornal tivesse levado dois anos e oito meses para dizer o que eu sabia: que é
uma farsa".
O presidente se confundiu ao
fazer referência à reportagem da
Folha. O jornal não disse que o
dossiê Caribe "é uma farsa". Apenas um trecho dos papéis contidos no dossiê é falso.
O dossiê Caribe é um conjunto
de papéis sem autenticidade comprovada sobre suposta empresa
(a CH, J & T) e conta no exterior
do presidente Fernando Henrique Cardoso, do ministro José
Serra (Saúde), do ministro Sérgio
Motta (Comunicações, morto em
1998) e do governador paulista
Mário Covas (morto neste ano).
Em sua reportagem de domingo, a Folha trata apenas de uma
conta bancária citada no dossiê
Caribe, e não "contas", como afirmou FHC em seu discurso.
Sobre a publicação da informação no domingo, o jornal publicou que teve cópia do extrato em
novembro de 98, há 29 meses.
Não o publicara até então porque
procurava meios de provar se o
papel era falso ou verdadeiro.
Primeiro, como informou a reportagem, foi realizada uma extensa investigação informal para
checar o conteúdo do suposto extrato, cujo saldo era de US$ 352,9
milhões. Essa checagem foi feita
na Suíça, com o auxílio de pessoas
que puderam verificar para o jornal se havia procedência nos dados contidos no papel -uma mera fotocópia.
Uma vez confirmado informalmente que os dados eram forjados, o jornal então entrou em
contato formal com o banco mencionado no extrato -o britânico-suíço Schroders. Obteve uma declaração oficial da instituição,
atestando a falsidade da suposta
conta bancária.
No seu discurso de ontem, o
presidente Fernando Henrique
Cardoso dá como inteiramente
falso o dossiê Caribe:
"Não sei que banco é esse, não
conheci banco nenhum. De qualquer maneira, não se deve nem se
perder mais tempo com alguma
coisa cuja falsidade é patente. E
que os que distribuíram esse dossiê foram objeto de uma ação que
eu estou movendo aqui, no Brasil,
porque não tive, nunca, acesso a
esses papéis. De tão imundos que
são, não chegaram às minhas
mãos, porque acho que não tiveram coragem de me mostrar tal
podridão".
Na realidade, há pelo menos um
trecho do dossiê que é verdadeiro.
A empresa CH, J & T, peça central
dos papéis, existe e tem registro
em Nassau, capital das Bahamas
-a Folha publicou essa informação em sua edição de 11 de novembro de 98, apresentando os
documentos dessa firma.
Diferentemente do que afirma o
presidente, não há provas definitivas sobre a falsidade do restante
do dossiê -apesar de a descoberta da Folha a respeito do extrato
bancário forjado reforçar a tese de
defesa do Planalto.
Teria sido possível esclarecer o
caso no início de 99. A Polícia Federal sugeriu que fossem enviadas cartas rogatórias para os países citados no dossiê Caribe. A
carta rogatória é o instrumento
usado por países para intercambiar informações que podem servir em um processo judicial.
FHC entretanto não demonstrou interesse por esse caminho.
Em 5 de maio de 99, o presidente
decidiu apenas solicitar que fossem processadas os possíveis divulgadores do dossiê -Paulo
Maluf (ex-prefeito de São Paulo),
Lafayete Coutinho (ex-presidente
do Banco do Brasil) e Caio Fábio
(pastor presbiteriano). "Eu acho
um desrespeito ao país levar tantos anos especulando sobre uma
farsa, quando todos nós, homens
responsáveis, de vida pública
aberta, dissemos sempre que era
uma farsa", disse FHC.
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