São Paulo, terça-feira, 03 de abril de 2001

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ALIADOS EM CRISE

Senador diz que Corregedoria Geral é uma decisão "louvável" de FHC, mas volta a criticar o presidente

ACM afirma ser causa de criação de órgão

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) considerou "louvável" a criação de uma Corregedoria Geral da União, mas disse que o presidente Fernando Henrique Cardoso só tomou essa atitude por causa de suas denúncias de corrupção no governo.
ACM afirmou que o presidente ""não tem humildade" para reconhecer que criou o novo órgão por causa de sua ""grita". E fez um alerta: ""Se (a corregedoria) não funcionar, é malandragem". Para o senador, FHC foi ""leniente" com a corrupção em seu governo e, se tivesse tomado essa atitude antes, a situação não teria ""se agravado tanto".
Já o presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), principal opositor de ACM, afirmou que FHC foi ""oportuno" e ""didático" ao tratar da questão do combate à corrupção. ""É um direito político do presidente dar sua versão dos fatos. A sociedade brasileira merecia essa exposição e a providência que o presidente tomou foi correta", disse.
Segundo ACM, a medida tomada pelo presidente não será suficiente para impedir a criação da CPI da corrupção.
""Não se pode dizer que a CPI está sepultada. Acho que deve ter uma CPI. A CPI instalada seria melhor para o presidente. Ele ainda vai pagar um preço alto por não fazê-la", disse o senador.
Apesar do discurso em defesa da CPI, ACM ainda não garantiu os votos dos deputados que seguem sua orientação política no pedido que propõe sua criação. ""Se for necessário para a CPI, darei o sinal (para que os carlistas assinem). Se não for, não darei."
O senador negou que dará uma trégua a FHC, apesar de elogiar sua atitude de dar uma satisfação à sociedade de que há corrupção no governo e de que ele quer combatê-la. ""Continuo em uma posição de independência em relação ao governo. O trombone tocará quando for necessário", disse, referindo-se à declaração de FHC de que é um ""trombone isolado".
ACM começou a entrevista cauteloso, mas acabou fazendo críticas a FHC, principalmente ao comentar o fato de o presidente tê-lo vinculado ao regime militar no pronunciamento de ontem.
""O presidente Fernando Henrique foi mais beneficiado pelo regime militar que muita gente que estava sofrendo naquele tempo. O regime militar lhe deu uma aposentadoria muito boa."
ACM disse ainda que FHC está cercado de pessoas oriundas do regime militar, como o ministro Pratini de Moraes (Agricultura), o vice-presidente Marco Maciel e o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC). ""Ele está com uma equipe mista."
O líder do PT na Câmara, deputado Walter Pinheiro (BA), afirmou que FHC quer tirar o foco da CPI da corrupção ao criar a Corregedoria Geral. "Ele está pressionado pela opinião pública que identifica corrupção no governo e tomou a iniciativa para evitar a CPI", disse.
A oposição vai insistir na criação da CPI. Na Câmara, os líderes de oposição vão tentar obter pelo menos 12 assinaturas na bancada do PL e 15 entre os carlistas.
Para a criação da CPI mista são necessárias 171 assinaturas na Câmara e 27 no Senado. A oposição conseguiu o apoio de 25 senadores e 144 deputados.
Os governistas aproveitaram o ato do presidente para reforçar o discurso contrário à criação da CPI. "Isso acaba com a demagogia e o palanque eleitoral. A corrupção existe em todos os governos. Temos de combatê-la, mas não com demagogia", afirmou o líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA).


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