São Paulo, terça-feira, 03 de abril de 2001

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Mobilização na região surpreendeu governo e PF

MALU GASPAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A mobilização do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) em Uruana de Minas (MG) pegou a Polícia Federal e o governo de surpresa.
Apesar de vir realizando um extenso trabalho de mapeamento de possíveis pontos de conflito com os sem-terra em todo o país, em nenhum momento o trabalho da PF chegou a detectar a possibilidade de um cerco à fazenda Renascença, do embaixador Paulo de Tarso Flecha de Lima.
Tampouco o Incra teve informações sobre a mobilização na região, no noroeste mineiro. Segundo a assessoria de imprensa do ministro Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário), o ministério também foi surpreendido com a mobilização em Uruana.
A Polícia Federal trabalhava com a hipótese de que os manifestantes mudassem para a fazenda Córrego da Ponte, em Buritis (MG), que pertence aos filhos do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Segundo a PF, o envio de manifestantes que estão em Uruana de Minas para Buritis chegou a ser discutido na semana passada entre os sem-terra, mas teria sido descartado. O MST nega essa informação.
Segundo Kenon Oliveira, coordenador regional do MST, a necessidade de fazer uma mobilização como a de Uruana foi discutida durante o último seminário do movimento, ocorrido nos dias 18 e 19 de março.
"Chegamos à conclusão de que era necessário fazer uma manifestação nessa mesma época para cobrar o que nos foi prometido na época em que estivemos acampados em Buritis", diz Oliveira.
O coordenador dos sem-terra na região afirma que o objetivo inicial do movimento era voltar à fazenda em Buritis. "Decidimos por Uruana no dia em que soubemos que as saídas de Minas em direção a Buritis estavam todas fechadas pela Polícia Militar."
Apesar de os sem-terra garantirem que não está em discussão o envio de manifestantes para a região da fazenda da família do presidente, a Polícia Federal considera que a possibilidade não está descartada.
Um dos líderes da manifestação em Uruana, Jorge Augusto Xavier, conhecido como Jorjão, foi enviado de Buritis. Com ele, segundo o coordenador dos sem-terra, foram também cerca de 150 pessoas que estavam acampadas em Buritis.
"O nosso movimento trabalha com a solidariedade entre seus membros. O pessoal foi para lá para apoiar nossas reivindicações", diz Oliveira.
Com exceção da mobilização em Uruana de Minas, a PF acredita ter mapeado em todo o país os pontos críticos que podem gerar conflito até o próximo dia 17, marcado como o dia nacional de mobilização do movimento. No caso de Minas Gerais, a PF avalia que seu trabalho é dificultado pela falta de integração com a Polícia Militar, subordinada ao governador Itamar Franco (PMDB).


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