São Paulo, terça-feira, 03 de abril de 2001

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CNBB nega ter rompido com MST

DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Jayme Chemello, disse ontem que a Igreja Católica aceita a invasão de terra desde que ela seja uma estratégia adotada eventualmente. Afirmou também que a CNBB não rompeu com o MST, como foi veiculado na semana passada.
"Que uma ou outra vez o movimento dos sem-terra mostre ao governo que há propriedades não produtivas e de repente invada para criar uma busca dessas terras não é tão grave, porque terra improdutiva não devia ter também", declarou d. Jayme, em entrevista à rádio Guaíba, de Porto Alegre.
Ele comparou a ação dos sem-terra à de um faminto que se apropria de algo para comer. "É como a pessoa que está com fome e ninguém dá nada para ela. De repente ela entra em uma propriedade e rouba uns cachos de uva. A igreja nunca viu isso como um mal", afirmou.
O presidente da CNBB condenou, porém, a invasão como um instrumento sistemático de pressão contra o governo. "Não aceitamos, achamos que é errado", disse. "Vamos supor que o povo, para comer, comece a invadir sistematicamente todos os lugares de venda de comida. Vai acontecer o caos no país, um caos antidemocrático, perigosíssimo."
Ele reiterou que a igreja não apóia radicalismo na reforma agrária e "até faz essa crítica aos sem-terra" quando julga que o movimento comete excessos.
Ao mesmo tempo, a Igreja Católica, de acordo com d. Jayme, acredita que "muita coisa que os sem-terra dizem é verdadeira", como a afirmação de que querem terra para plantar.
D. Jayme afirmou ter sido distorcida sua declaração, na semana passada, segundo a qual a CNBB teria rompido com o MST.
"Essa notícia não foi fiel ao que eu disse. Na verdade, não nos afastamos. O que ocorreu foi que ambas as partes (governo e MST) não conseguiam sentar à mesa de diálogo. Então, pediram a ajuda das CNBB para sentar juntos e conversar. Queríamos apenas aproximar o diálogo. E, quando nós fizemos isso, havíamos achado que havíamos concluído nossa tarefa. Chegou um ponto em que achamos que não nos competia mais continuar", disse.
O religioso afirmou também que o papa João Paulo 2º ""defende a reforma agrária" na qual a distribuição de terra seja acompanhada de uma política de produção e de iniciativas que melhorem a infra-estrutura dos assentados.
"Queremos um esquema razoável que deixe o pessoal no interior, porque na cidade não há trabalho. As cidades estão inchadas, desorganizadas, cada dia mais. Basta ver São Paulo, que é um caos permanente, e o Rio de Janeiro também", afirmou.


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