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CELSO PINTO
As opções com o
menor risco Brasil
Com o risco Brasil finalmente abaixo de mil pontos,
cresce a ansiedade no mercado
em saber quando o governo voltará a lançar papéis no mercado
externo. Daqui a duas semanas,
fará um ano desde a última
emissão internacional da República.
Também daqui a duas semanas, vence US$ 1,9 bilhão em títulos do governo brasileiro. Teoricamente, abre-se um espaço de
pelo menos US$ 1,9 bilhão para
colocações públicas ou privadas.
Qual a melhor opção?
A resposta divide os analistas.
Mário Mesquita, do ABN Amro,
por exemplo, acha que o governo deve esperar o risco Brasil
cair para 800 pontos, o que pode
ocorrer em um ou dois meses.
Ao não emitir, o governo está
abrindo espaço para o setor privado. Não vale a pena pagar demais apenas para marcar presença.
O ex-diretor da Área Externa
e ex-presidente do Banco Central Demosthenes Madureira
Pinho Neto tem uma visão oposta. "Depois de passarmos por
tantas crises, é redundante ficar
preocupado com o preço da
emissão", diz ele. "Se existe uma
janela de oportunidade, vai e
faz." Ele acha que o papel da República é abrir portas para o setor privado, não seguir emissões
privadas.
"É purismo achar que, se a República emitir a um prêmio um
pouco maior, vai se desgastar",
diz. A experiência dos anos recentes mostrou que os prêmios
oscilam muito. Mais importante
é aproveitar oportunidades. Hoje, ela existe. Mas há dúvidas sobre como será o mundo pós-guerra do Iraque, em termos de
fluxos de capitais e investimentos, adverte.
O Banco Central prevê captar
US$ 3 bilhões neste ano. Se não
o fizer, consegue fechar as contas. Mas, embora as reservas
brutas estejam em US$ 42 bilhões, líquidas do dinheiro do
FMI e de títulos brasileiros, elas
estavam em US$ 14,2 bilhões no
final de fevereiro. Como lembra
o BBV banco, não é muito para
uma conta de US$ 10,7 bilhões
em principal e juros externos
vencendo neste ano. E é pouco
confortável se lembrarmos que
só o principal que vence em títulos do governo subirá a US$ 8,1
bilhões em 2004 (menos o que
foi recomprado pelo BC no mercado). O governo terá uns US$ 4
bilhões do Bird e do BID neste
ano, mas está claro que seria
bom reforçar as reservas utilizáveis com alguns bilhões em captações.
O fato de o risco Brasil, medido pelo Embi, estar a 900 ou
1.000 pontos não quer dizer que
este será o prêmio pago pelo país
para emitir um papel. O Embi
mede a cotação do dia dos papéis da República, compara com
o risco americano e chega ao
prêmio de risco médio pago. Como os papéis mais longos rendem mais, emissões mais curtas
ou em mercados distintos podem ficar abaixo do Embi. De
fato, um levantamento do BBV
para os últimos seis anos mostra
que, das 30 emissões feitas, só
três foram acima do Embi; a
maioria (20) ficou entre 50 e 300
pontos abaixo. A média do prêmio pago pela República de
1999 para cá, depois do câmbio
flutuante, foi de 789 pontos.
Obviamente, o ideal seria ver
o risco Brasil cair mais e o governo colocar papéis a um prêmio
ainda menor e com prazos
maiores. O setor privado voltou
ao mercado, mas a prazos curtos, inferiores a um ano. Uma
emissão bem recebida da República poderia ajudar a ampliar
os prazos.
Duro é saber até quando a janela de oportunidade estará
aberta. O risco Brasil despencou
60% desde setembro, pela combinação entre o conservadorismo econômico do novo governo
e o exagero na avaliação anterior do mercado do risco de uma
moratória brasileira. Mas é bom
ficar claro que os outros emergentes, exceto o Brasil, também
tiveram uma redução forte no
risco, de 40%, no mesmo período.
Quer dizer, o Brasil surfou a
mesma onda de maior liquidez
internacional, graças aos juros
baixos nos países desenvolvidos,
que beneficiou os emergentes, só
que com um impulso a mais. O
risco Brasil ainda é alto demais:
o da Rússia é inferior a 400 pontos, o do México, inferior a 300,
os do Chile e da África do Sul,
inferiores a 200 pontos.
No caso do Brasil, voltaram os
investidores mais especulativos
(fundos de "hedge") no último
trimestre do ano passado. Os
fundos dedicados à região começaram a voltar em janeiro e
os fundos mais gerais (e conservadores) voltaram nas últimas
cinco ou seis semanas. Além disso, quem fez posições especulativas contra o Brasil ("short selling"), muita vezes alavancadas com empréstimos, está desmontando, o que ajuda bastante a cotação especialmente dos
títulos da dívida ("bradies"), como o "C-Bond".
Melhorou o fluxo, mas até
quando? Desde a crise da Tailândia, em 1997, os ciclos de otimismo com emergentes em geral e o Brasil em particular acabaram engolidos por uma nova
crise a cada seis meses.
E-mail: CelPinto@uol.com.br
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