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São Paulo, quinta-feira, 03 de abril de 2003

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CELSO PINTO

As opções com o menor risco Brasil

Com o risco Brasil finalmente abaixo de mil pontos, cresce a ansiedade no mercado em saber quando o governo voltará a lançar papéis no mercado externo. Daqui a duas semanas, fará um ano desde a última emissão internacional da República.
Também daqui a duas semanas, vence US$ 1,9 bilhão em títulos do governo brasileiro. Teoricamente, abre-se um espaço de pelo menos US$ 1,9 bilhão para colocações públicas ou privadas. Qual a melhor opção?
A resposta divide os analistas. Mário Mesquita, do ABN Amro, por exemplo, acha que o governo deve esperar o risco Brasil cair para 800 pontos, o que pode ocorrer em um ou dois meses. Ao não emitir, o governo está abrindo espaço para o setor privado. Não vale a pena pagar demais apenas para marcar presença.
O ex-diretor da Área Externa e ex-presidente do Banco Central Demosthenes Madureira Pinho Neto tem uma visão oposta. "Depois de passarmos por tantas crises, é redundante ficar preocupado com o preço da emissão", diz ele. "Se existe uma janela de oportunidade, vai e faz." Ele acha que o papel da República é abrir portas para o setor privado, não seguir emissões privadas.
"É purismo achar que, se a República emitir a um prêmio um pouco maior, vai se desgastar", diz. A experiência dos anos recentes mostrou que os prêmios oscilam muito. Mais importante é aproveitar oportunidades. Hoje, ela existe. Mas há dúvidas sobre como será o mundo pós-guerra do Iraque, em termos de fluxos de capitais e investimentos, adverte.
O Banco Central prevê captar US$ 3 bilhões neste ano. Se não o fizer, consegue fechar as contas. Mas, embora as reservas brutas estejam em US$ 42 bilhões, líquidas do dinheiro do FMI e de títulos brasileiros, elas estavam em US$ 14,2 bilhões no final de fevereiro. Como lembra o BBV banco, não é muito para uma conta de US$ 10,7 bilhões em principal e juros externos vencendo neste ano. E é pouco confortável se lembrarmos que só o principal que vence em títulos do governo subirá a US$ 8,1 bilhões em 2004 (menos o que foi recomprado pelo BC no mercado). O governo terá uns US$ 4 bilhões do Bird e do BID neste ano, mas está claro que seria bom reforçar as reservas utilizáveis com alguns bilhões em captações.
O fato de o risco Brasil, medido pelo Embi, estar a 900 ou 1.000 pontos não quer dizer que este será o prêmio pago pelo país para emitir um papel. O Embi mede a cotação do dia dos papéis da República, compara com o risco americano e chega ao prêmio de risco médio pago. Como os papéis mais longos rendem mais, emissões mais curtas ou em mercados distintos podem ficar abaixo do Embi. De fato, um levantamento do BBV para os últimos seis anos mostra que, das 30 emissões feitas, só três foram acima do Embi; a maioria (20) ficou entre 50 e 300 pontos abaixo. A média do prêmio pago pela República de 1999 para cá, depois do câmbio flutuante, foi de 789 pontos.
Obviamente, o ideal seria ver o risco Brasil cair mais e o governo colocar papéis a um prêmio ainda menor e com prazos maiores. O setor privado voltou ao mercado, mas a prazos curtos, inferiores a um ano. Uma emissão bem recebida da República poderia ajudar a ampliar os prazos.
Duro é saber até quando a janela de oportunidade estará aberta. O risco Brasil despencou 60% desde setembro, pela combinação entre o conservadorismo econômico do novo governo e o exagero na avaliação anterior do mercado do risco de uma moratória brasileira. Mas é bom ficar claro que os outros emergentes, exceto o Brasil, também tiveram uma redução forte no risco, de 40%, no mesmo período.
Quer dizer, o Brasil surfou a mesma onda de maior liquidez internacional, graças aos juros baixos nos países desenvolvidos, que beneficiou os emergentes, só que com um impulso a mais. O risco Brasil ainda é alto demais: o da Rússia é inferior a 400 pontos, o do México, inferior a 300, os do Chile e da África do Sul, inferiores a 200 pontos.
No caso do Brasil, voltaram os investidores mais especulativos (fundos de "hedge") no último trimestre do ano passado. Os fundos dedicados à região começaram a voltar em janeiro e os fundos mais gerais (e conservadores) voltaram nas últimas cinco ou seis semanas. Além disso, quem fez posições especulativas contra o Brasil ("short selling"), muita vezes alavancadas com empréstimos, está desmontando, o que ajuda bastante a cotação especialmente dos títulos da dívida ("bradies"), como o "C-Bond".
Melhorou o fluxo, mas até quando? Desde a crise da Tailândia, em 1997, os ciclos de otimismo com emergentes em geral e o Brasil em particular acabaram engolidos por uma nova crise a cada seis meses.

E-mail: CelPinto@uol.com.br


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