São Paulo, segunda-feira, 03 de abril de 2006

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QUESTÃO INDÍGENA

Vítimas investigavam morte de pastor

Grupo de índios caiuás é acusado de matar dois policiais em Dourados

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

Um grupo de índios caiuás é acusado de ter matado a tiros, facadas e pauladas dois policiais civis e de ferir outro, por volta das 16h de anteontem, em uma área disputada com fazendeiros em Dourados (MS). Quatro índios foram presos ontem. A Polícia Civil afirmou que dezenas deles participaram da emboscada.
"Os policiais tinham a informação de que o autor do homicídio de um pastor evangélico [ocorrido na sexta-feira] estaria escondido lá, naquele acampamento", disse o delegado Fernando Paciello sobre o motivo da ida ao local.
"Ao descerem do carro, os policiais foram emboscados e barbaramente torturados por um grupo de índios", disse o delegado.
Os caiuás tomaram dos policiais três revólveres calibres 38, uma pistola e uma escopeta. Segundo o delegado, o grupo atirou com as armas tomadas das vítimas. Morreram Ronilson Magalhães Bartie, 36, e Rodrigo Lorenzatto, 26. Emerson José Gadani, 33, levou apenas facadas e sobreviveu.
A polícia diz não saber por que os índios atacaram os policiais. "Ainda não se sabe o que aconteceu. É bom deixar claro que aquilo era um acampamento, não uma aldeia", disse o delegado.
"A versão dos índios é que os policiais deram um "cavalo-de-pau" dentro da área. Ainda apuramos a motivação. O caso nos surpreendeu porque os caiuás são muito pacíficos", disse Marcos Homero Lima, assessor técnico do MPF (Ministério Público Federal), que esteve ontem na área.
Segundo o MPF, cerca de cem índios -incluindo mulheres e crianças- estão há dois anos em uma área de 40,8 hectares, que é parte da fazenda Campo Belo.
No mês de fevereiro - ainda de acordo com o MPF-, o Tribunal Regional Federal em São Paulo autorizou a permanência dos índios na área. O grupo reivindica um território indígena de 8.800 hectares chamado Passapiraju.
O MPF informou que há três inquéritos na Polícia Federal que apuram agressões e ameaças de fazendeiros contra índios naquela área em litígio. "Na semana passada, o cacique [líder indígena] Carlito [Oliveira] telefonou e disse que tinham pessoas estranhas rondando a área", disse Lima.
"Pelo que os índios [presos] confessaram, o autor do crime foi o cacique Carlito [Oliveira]. Ele deu a ordem e estava foragido", disse o delegado Paciello.
Por se tratar de assassinato, os índios estão presos na Polícia Civil. Se a investigação apontar conflito agrário envolvendo indígenas, o caso passará à Polícia Federal. Isso ocorreu na morte do índio guarani Dorvalino Rocha, 39, assassinado em dezembro por um segurança de fazenda em Antônio João (MS). Para Paciello, a morte dos policiais não envolve disputa agrária. "Eles [os índios] já são aculturados", afirmou.


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