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ELEIÇÕES 2006/PUBLICIDADE SUSPEITA
Nossa Caixa adquiriu 500 unidades a mais para projeto de Lu Alckmin; banco afirma que houve "problema de especificação"
Estatal é acusada de ocultar compra de fornos
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A Nossa Caixa adquiriu, em duplicidade, 500 fornos a gás por
R$ 400 mil para doação ao programa das padarias artesanais
que Lu Alckmin criou ao presidir
o Fundo Social de Solidariedade
do Estado de São Paulo. O banco
foi acusado de ocultar os registros
dessa despesa adicional. A Nossa
Caixa afirma que houve "problemas de especificação" dos fornos.
A compra em duplicidade está
citada nos autos da investigação
em curso no Ministério Público,
pedra no sapato do pré-candidato
tucano Geraldo Alckmin na caminhada à Presidência.
A Promotoria deverá desdobrar
em vários procedimentos, na área
cível e criminal, a apuração iniciada em dezembro sobre a publicidade do banco estadual.
Deverão ser alvo de exame serviços prestados por escritórios de
advocacia, contratos na área de
informática, além de irregularidades identificadas pela auditoria
interna em notas fiscais da gráfica
que imprimia o jornal do banco.
A Nossa Caixa informa que os
fornos fora do padrão foram destinados, "como instrumento de
relacionamento de grande interesse do banco", a prefeituras, escolas, hospitais e entidades beneficentes, "com retorno de imagem
altamente positivo". O banco informa ainda que, "para atender
ao programa de padarias, aprovou novo processo licitatório".
Em setembro, a Prefeitura de
Araraquara divulgou, em seu site,
a inesperada doação. "Fui procurado pelo gerente da Nossa Caixa
com a boa notícia de que o "banco
dos paulistas" estava oferecendo
os fornos para a prefeitura", disse
o vice-prefeito Sérgio Médici.
A Prefeitura de Votorantim cita,
em seu site, a doação a entidades
de dois fornos "oferecidos gentilmente numa ação social promovida pelo banco Nossa Caixa".
A Nossa Caixa está sendo investigada a partir de carta anônima
alertando para uma "operação-abafa" na sindicância para apurar
a suspeita de irregularidades nos
serviços de publicidade.
Ao perceber que a apuração caminhava para transformá-lo em
"bode expiatório", isentando a diretoria, o ex-gerente de marketing
Jaime de Castro Júnior -demitido por justa causa- listou várias
operações duvidosas.
O ex-gerente de marketing disse
que a aquisição dos fornos foi
"ajustada pelo departamento de
compras, ocultando a aquisição
do material em duplicidade, registrando a despesa em processo
distinto do original". Segundo ele,
o presidente Carlos Eduardo
Monteiro determinou-lhe "assumir a despesa sem alardes e encontrar uma saída, um destino
para os fornos adquiridos".
Contratos de informática
Há nos autos uma lista de 14
contratos na área de informática
-no total de R$ 1,2 bilhão-, alguns dos quais com suspeitas de
superfaturamento e de direcionamento. Eles foram citados nos autos como "alguns dos maiores
contratos do banco".
Um dos contratos, o de nš Dices.3-2004/673, com a Asbace
(Associação Brasileira dos Bancos
Comerciais Estatais), envolve
R$ 847 milhões. Questiona-se a
falta de licitação e os valores envolvidos, em comparação com os
preços praticados no mercado.
A Itautec -grande fornecedora
de caixas automáticos- apresentou representação à Secretaria da
Fazenda contra a Nossa Caixa pela contratação da Asbace. Segundo a Nossa Caixa, a reclamação do
banco privado se deve ao fato de o
banco oficial "não ter interesse na
aquisição de ativo fixo [máquinas
e instalações], altamente sujeito a
obsolescência, nem na contratação de mão-de-obra para abastecimento, segurança e manutenção do parque instalado em lugares dispersos do Estado".
Jornal do banco
O jornal "Nossa Caixa", com tiragem mensal de 120 mil exemplares, era impresso por uma editora que fornecia notas fiscais
com o endereço de uma oficina
mecânica. A irregularidade foi
identificada pela própria auditoria interna durante a sindicância,
ao examinar por amostragem a
legalidade dos fornecedores.
A responsável pela impressão
era a Editora Giga. O jornal era
encartado na revista "Conexão
Paulista". Relatório da auditoria
revela que um dos sócios da editora também é diretor da Rede
Anhangüera de Comunicação
("Correio Popular"), de Campinas. "Os serviços gráficos contratados pela Editora Giga são partilhados com outras empresas do
grupo", registra a auditoria. No
encarte, consta a informação:
"Fotolito, impressão e acabamento Imprensa Oficial", embora a
nota fiscal seja da Editora Giga.
O Ministério Público requisitou
à Nossa Caixa cópias dos contratos com escritórios de advocacia.
Nesse capítulo, atendeu ao autor
da carta anônima que provocou a
investigação no início de dezembro: "Peço que sejam investigados
todos os contratos do banco com
escritórios de advocacia terceirizados, de 2004 até agora: por meio
desses escritórios, com preços superfaturados pelos serviços, há repasse de verbas para terceiros interessados".
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