São Paulo, terça-feira, 03 de abril de 2007

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Lula veta porteira fechada na Esplanada, e aliados reagem

Presidente reúne toda a equipe e pede que ministros mesclem legendas nas pastas

Petista pede tolerância na coalizão, proíbe bate-bocas e comentários sobre política externa; líder do PR quer "gestão integral" de pastas


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na primeira reunião com toda a equipe do segundo mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu orientações sobre a composição dos ministérios que frustram pretensões dos novos titulares e de legendas de sua coalizão. Na abertura, Lula falou ainda sobre a "gravidade" da crise aérea.
"Em um governo de coalizão, é saudável que existam pessoas de outros partidos em outros ministérios", disse Lula, segundo o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, que fez ontem um relato à imprensa da reunião ministerial.
A ordem de Lula contraria a tese da "porteira fechada" -a autonomia do titular para nomear correligionários na equipe. Aliados reagiram.
O líder do PR na Câmara, Luciano Castro (RR), afirmou que sem "porteira fechada" fica difícil cobrar "eficiência de gestão". "Se "verticaliza" os cargos [concede a porteira fechada ao partido], a responsabilidade de gestão é integral do partido. Se não verticaliza, a responsabilidade é difusa", afirmou.
Questionado se defenderá a nomeação de integrantes do PR para outros ministérios, respondeu: "Não gosto muito dessa tese. O PR tem o Ministério do Transportes e deve estar no Ministério dos Transportes".
O líder do PSB na Câmara, Márcio França (SP), disse que a decisão de não autorizar a "porteira fechada" precisa vir acompanhada de uma mudança no sistema de preenchimentos dos cargos. "Já que não haverá porteira fechada, precisa haver uma reciprocidade. Não dá mais para acontecer como no primeiro mandato, em que o PT foi ocupando cargos em todos os ministérios sem abrir para os aliados nos ministérios petistas", disse França.
O freio à porteira fechada dá alento ao PT, que teme um "expurgo" nas pastas entregues a integrantes da coalizão. Reportagem de ontem da Folha mostrou que ao menos 42 petistas ocupam postos de comando em pastas de aliados.
A reforma ministerial se arrastou por cerca de cinco meses. Abriu espaço para partidos de fora da base, como o PDT, e ampliou a participação do PMDB. Mexeu em 11 ministérios e criou a pasta de Comunicação Social. Deve ser anunciada nos próximos dias a criação da Secretaria de Portos.

Comportamento
Lula também impôs ao primeiro escalão uma espécie de "manual do bom ministro". Proibiu bate-bocas pela mídia, vetou todo tipo de comentário público sobre política externa e pediu que sejam tolerantes com militantes de outras siglas em suas pastas. O presidente disse que "ministro não critica ministro" e que "só quem faz comentários sobre a política externa é o Itamaraty".
Ele não citou exemplos, mas várias disputas entre ministros se tornaram públicas. Houve casos emblemáticos, como o de Gilberto Gil (Cultura) e Hélio Costa (Comunicações) e os duros embates no primeiro escalão contra a política econômica.
Há semanas, o ministro Hélio Costa provocou uma tensão diplomática com a Venezuela ao acusar Hugo Chávez de utilizar a TV do país para propaganda estatal. A crítica do ministro gerou protestos do governo venezuelano.
Ontem, dois dos 35 ministros faltaram à reunião -Matilde Ribeiro (Igualdade Racial), em viagem oficial, e Gilberto Gil (Cultura), de licença.
Após a exposição de Lula, o ministro Guido Mantega (Fazenda), traçou um panorama da economia e reiterou a previsão de crescimento de 5% do PIB pelos próximos anos.
Foi sucedido por Paulo Bernardo (Planejamento), que defendeu a necessidade de aprovar a "trava" de crescimento da folha salarial do funcionalismo. A medida está no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e precisa ser votada no Congresso. Depois, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) fez uma exposição sobre as obras do PAC.
(PEDRO DIAS LEITE, EDUARDO SCOLESE E RANIER BRAGON)

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