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Lula veta porteira fechada na Esplanada, e aliados reagem
Presidente reúne toda a equipe e pede que ministros mesclem legendas nas pastas
Petista pede tolerância na coalizão, proíbe bate-bocas e comentários sobre política externa; líder do PR quer "gestão integral" de pastas
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na primeira reunião com toda a equipe do segundo mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu orientações sobre a composição dos ministérios que frustram pretensões
dos novos titulares e de legendas de sua coalizão. Na abertura, Lula falou ainda sobre a
"gravidade" da crise aérea.
"Em um governo de coalizão,
é saudável que existam pessoas
de outros partidos em outros
ministérios", disse Lula, segundo o ministro da Comunicação
Social, Franklin Martins, que
fez ontem um relato à imprensa da reunião ministerial.
A ordem de Lula contraria a
tese da "porteira fechada" -a
autonomia do titular para nomear correligionários na equipe. Aliados reagiram.
O líder do PR na Câmara, Luciano Castro (RR), afirmou que
sem "porteira fechada" fica difícil cobrar "eficiência de gestão". "Se "verticaliza" os cargos
[concede a porteira fechada ao
partido], a responsabilidade de
gestão é integral do partido. Se
não verticaliza, a responsabilidade é difusa", afirmou.
Questionado se defenderá a
nomeação de integrantes do PR
para outros ministérios, respondeu: "Não gosto muito dessa tese. O PR tem o Ministério
do Transportes e deve estar no
Ministério dos Transportes".
O líder do PSB na Câmara,
Márcio França (SP), disse que a
decisão de não autorizar a "porteira fechada" precisa vir acompanhada de uma mudança no
sistema de preenchimentos
dos cargos. "Já que não haverá
porteira fechada, precisa haver
uma reciprocidade. Não dá
mais para acontecer como no
primeiro mandato, em que o
PT foi ocupando cargos em todos os ministérios sem abrir
para os aliados nos ministérios
petistas", disse França.
O freio à porteira fechada dá
alento ao PT, que teme um "expurgo" nas pastas entregues a
integrantes da coalizão. Reportagem de ontem da Folha mostrou que ao menos 42 petistas
ocupam postos de comando em
pastas de aliados.
A reforma ministerial se arrastou por cerca de cinco meses. Abriu espaço para partidos
de fora da base, como o PDT, e
ampliou a participação do
PMDB. Mexeu em 11 ministérios e criou a pasta de Comunicação Social. Deve ser anunciada nos próximos dias a criação
da Secretaria de Portos.
Comportamento
Lula também impôs ao primeiro escalão uma espécie de
"manual do bom ministro".
Proibiu bate-bocas pela mídia,
vetou todo tipo de comentário
público sobre política externa e
pediu que sejam tolerantes
com militantes de outras siglas
em suas pastas. O presidente
disse que "ministro não critica
ministro" e que "só quem faz
comentários sobre a política
externa é o Itamaraty".
Ele não citou exemplos, mas
várias disputas entre ministros
se tornaram públicas. Houve
casos emblemáticos, como o de
Gilberto Gil (Cultura) e Hélio
Costa (Comunicações) e os duros embates no primeiro escalão contra a política econômica.
Há semanas, o ministro Hélio Costa provocou uma tensão
diplomática com a Venezuela
ao acusar Hugo Chávez de utilizar a TV do país para propaganda estatal. A crítica do ministro
gerou protestos do governo venezuelano.
Ontem, dois dos 35 ministros
faltaram à reunião -Matilde
Ribeiro (Igualdade Racial), em
viagem oficial, e Gilberto Gil
(Cultura), de licença.
Após a exposição de Lula, o
ministro Guido Mantega (Fazenda), traçou um panorama
da economia e reiterou a previsão de crescimento de 5% do
PIB pelos próximos anos.
Foi sucedido por Paulo Bernardo (Planejamento), que defendeu a necessidade de aprovar a "trava" de crescimento da
folha salarial do funcionalismo.
A medida está no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e precisa ser votada no
Congresso. Depois, a ministra
Dilma Rousseff (Casa Civil) fez
uma exposição sobre as obras
do PAC.
(PEDRO DIAS LEITE, EDUARDO SCOLESE E RANIER BRAGON)
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