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QUESTÃO AGRÁRIA
Medida, que começa neste mês, permite a cobrança de crédito de implantação e 80% do valor da terra
Governo emancipará 258 assentamentos
ABNOR GONDIM
da Sucursal de Brasília
O governo deve definir até o
final de abril a
emancipação de
258 assentamentos rurais
para passar a
cobrar dos agricultores os créditos de implantação (R$ 3.925) e 80% do valor das
terras.
O primeiro passo para a emancipação foi acertado ontem com a
assinatura de portaria dos ministérios Extraordinário de Política
Fundiária e da Agricultura.
Com a emancipação, o governo
quer retirar da reforma agrária o
caráter de doação e desestimular
novas invasões de terra pelo MST
(Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra). A meta é atingir mais de 10% dos cerca de 2.000
assentamentos existentes.
"Reforma agrária não é esmola",
disse o ministro Raul Jungmann
(Política Fundiária). "Reforma
agrária é um crédito subsidiado
que se dá a uma família produtiva.
Não é ato de piedade."
Segundo ele, o governo federal
nunca cobrou dos assentados os
créditos de implantação e os recursos usados na desapropriação
ou aquisição de imóveis. A cobrança de parte desses recursos é
prevista no Estatuto da Terra (64).
Crédito mais caro
A portaria interministerial assegura aos assentados acesso a uma
linha de crédito do governo, o
Pronaf (Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar), criada para atender a agricultura familiar. Esse financiamento é mais caro do que o do
Procera (Programa de Crédito Especial para a Reforma Agrária).
Segundo a portaria, os ministérios irão oferecer técnicos para
ajudar os assentados a elaborar
projetos dirigidos à obtenção de
crédito do Pronaf.
A principal vantagem do Procera é que apenas metade do valor
do empréstimo é cobrada. No Pronaf, o beneficiário tem de pagar
todo o empréstimo, embora os juros só incidam sobre 50%.
"Os assentados precisam virar
empreendedores para lidar com as
noções de lucro e despesas e para
assumir a autêntica cidadania",
disse o ministro interino da Agricultura, Ailton Fernandes.
Segundo assessores do Ministério da Agricultura, os assentados
não devem procurar o Pronaf. Um
dos motivos é o aumento do teto
de financiamento do Procera, de
R$ 7.500 para R$ 9.500, que entra
em vigor no final deste mês.
O aumento foi anunciado anteontem pelo presidente do Incra
(Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Milton
Seligman, em resposta às reivindicações do MST.
As propostas em estudo no Incra
pretendem desburocratizar a
emancipação. Isso tem beneficiado os assentados em projetos consolidados e criados há 20 anos.
Para tentar evitar maiores reações, o Incra defende que o valor
da dívida dos assentados seja estabelecido pela equivalência preço-produto. Ou seja, a dívida será
fixada de acordo com o preço do
produto produzido pelo assentado. Isso evitará a incidência de juros e correção monetária.
Na semana passada, o ministro
Jungmann e a diretoria do Incra
iriam definir as novas regras para
emancipação dos projetos. Mas a
reunião convocada para discutir o
assunto foi suspensa por causa das
mortes de dois líderes do MST em
Parauapebas (sudeste do Pará).
A Folha não localizou ontem dirigentes do MST para comentar as
propostas. Dirigentes disseram,
em 97, que são contra a emancipação porque a maioria dos projetos
não tem infra-estrutura e falta assistência técnica aos assentados.
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