BERNARDINO FURTADO
enviado especial a Serra Talhada (PE)


Um grupo de 30 militantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) invadiu ontem uma faixa de terra às margens do açude Serrinha, em Serra Talhada, a 450 km de Recife. Serra Talhada é terra natal e reduto político do líder do PFL na Câmara dos Deputados, Inocêncio Oliveira.
Inaugurado há dois anos pelo presidente Fernando Henrique com uma grande festa, o açude Serrinha foi uma vitória pessoal de Inocêncio, que conseguiu aprovar a destinação de verbas do Orçamento da União para concluir a obra. Projetado há 40 anos como a redenção de uma das áreas mais secas e pobres do sertão pernambucano, o açude teve sua construção interrompida várias vezes.
A inauguração, no entanto, não mudou a paisagem em torno do açude. As obras de construção de canais de irrigação e de implantação do pólo agrícola ainda não saíram do papel. Apenas bodes pastam na caatinga. O MST estima que há mil hectares de terras federais às margens do açude.
Rogaciano Pereira da Silva, líder regional do MST, disse que outras 70 famílias deverão se instalar no local os próximos dias, reivindicando o assentamento e as obras de irrigação. "Não tem sentido uma obra tão cara ficar aí inútil, com tanta gente passando fome."
A invasão de ontem foi a primeira do MST em Serra Talhada.
Os invasores do Serrinha foram recrutados nos últimos 30 dias em Serra Talhada e municípios vizinhos. Silva não escondeu a decepção com o pequeno número de pessoas que apareceram na hora da invasão.
Ontem o MST promoveu mais uma invasão na Zona da Mata pernambucana. Cerca de 50 famílias montaram barracos no Engenho Liés, no município de Quipapá. A área, de 1.200 hectares, segundo o MST, pertence à Usina Água Branca, que está com falência pedida na Justiça pelo governo do Estado por conta impostos não pagos.
Hoje representantes do MST se reúnem com técnicos do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) na sede estadual do órgão, em Recife.
O MST espera obter novas áreas para assentar as cerca de 15 mil famílias que diz estarem acampadas sob liderança do movimento no Estado. No domingo, o MST inicia uma marcha que deverá ser encerrada em frente à sede da Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste), em Recife.



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