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Testemunhas dizem receber ameaças
LUCAS FIGUEIREDO
da Sucursal de Brasília
Os sem-terra Maria Zilda Pereira
Alves e Paulo Rodrigues de Araújo
-testemunhas do assassinato dos
líderes sem-terra Onacílio Araújo
Barros, o "Fusquinha", e Valentin
Serra, o "Doutor"- disseram
ontem que estão sendo ameaçados
de morte.
As testemunhas relataram ontem na Comissão de Direitos Humanos da Câmara como "Fusquinha" e "Doutor" foram mortos,
na semana passada, em Parauapebas. A comissão pediu ao Ministério da Justiça e à Polícia Federal
proteção para os dois.
Ontem, o deputado e advogado
do MST Luiz Eduardo Greenhalgh
(PT-SP) e o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) se reuniram com o
ministro Raul Jungmann (Política
Fundiária) e com o presidente do
Incra, Milton Seligman, para discutir o caso.
Maria Zilda disse, na comissão,
que uma carta anônima contendo
ameaças de morte a ela e a outros
líderes do MST na região está circulando em Parauapebas.
A sem-terra acusou o dono da
fazenda Goiás 2, Carlos Antônio
da Costa, de ter ordenado a um
funcionário dele, identificado como Donizete, que atirasse nos líderes do movimento. "Não houve
confronto, foi execução", disse.
"Inocência"
Maria Zilda contou que "Fusquinha" acreditava que o dono da fazenda não faria mal aos sem-terra.
"Ele dizia que o Carlos iria lucrar
duas vezes, vendendo a fazenda
para o governo fazer reforma
agrária e vendendo para nós material de construção de sua loja (Casa Goiás) para fazermos nossas casas", afirmou a sem-terra. "Foi
inocência do Fusquinha, ele era
muito puro."
Durante o depoimento, a
sem-terra chorou ao contar como
seus companheiros foram mortos,
ao lado dela. "Um dos funcionários dos fazendeiros chegou a colocar o revólver na minha boca,
mas meus companheiros gritaram
'não mate a mulher', e eu escapei", contou Maria Zilda.
Durante a operação de despejo
dos sem-terra, determinado pela
Justiça do Pará, funcionários de
fazendeiros, armados, perguntavam quem eram os líderes do
acampamento, disse Maria Zilda.
"Só saí viva porque respondi que
era somente uma acampada. Mas
agora eles sabem que eu sou líder
também", disse.
Apesar do medo, Maria Zilda
disse que, ainda assim, está disposta a contar o que viu e participar do reconhecimento do suposto matador, conhecido como Donizete, e do suposto mandante,
Carlos Antônio da Costa, dono da
fazenda invadida. Leia, a seguir,
trechos da entrevista.
Folha - Como os líderes sem-terra foram mortos?
Maria Zilda Pereira Alves - Eu
estava ao lado dos dois quando
eles foram mortos. Os fazendeiros
perguntavam quem eram os líderes. O Donizete se dirigiu para o
"Doutor" e disse: 'se eu tomasse
sua pasta, você acharia ruim?'. Falou isso sacudindo o menino. O
primeiro a receber o tiro foi o
"Doutor". O tiro foi de tão perto
que o "Doutor" levou um baque e
caiu. Foi bem no peito o tiro. Aí o
"Fusquinha" levantou o braço e
ficou falando "o que é isso, o que é
isso'. Foi quando ele recebeu o tiro. Mesmo ferido, o "Fusquinha"
ainda tentou correr mas caiu morto poucos metros à frente.
Folha - Quem deu os tiros?
Maria Zilda - O Donizete.
Folha - O dono da fazenda invadida, Carlos Antônio da Costa, estava no local?
Maria Zilda - Estava sim. Foi ele
quem mostrou o "Fusquinha" e o
"Doutor" para o Donizete.
Folha - A sra. é capaz de reconhecer o Carlos e o Donizete?
Maria Zilda - Sou sim.
Folha - A sra. tem medo de que
lhe aconteça alguma coisa?
Maria Zilda - Muito medo.
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