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CELSO PINTO
Uma proposta para o
câmbio
Como mudar a política
cambial sem recorrer a uma
máxi, sem criar sobressaltos,
mas, ao mesmo tempo, garantindo um ganho de competitividade?
Dois economistas, Fábio
Giambiagi, do BNDES, e José
Carlos dos Reis Carvalho, do
Banco Pactual, oferecem uma
sugestão, como acadêmicos,
para tentar conciliar esses objetivos, num artigo para a revista "Conjuntura Econômica", que circula nos próximos
dias. É, na definição de ambos, uma tentativa de "continuidade com mudança", ou
de "mudança sem descontinuidade".
Soa complicado, mas o centro da idéia é simples. O sistema cambial atual opera por
pequenas mudanças em minibandas cambiais que se movem dentro de uma banda
maior (alterada de 12 a 18
meses). A sugestão é que essas
minibandas comecem a se
alargar, ao longo de quatro
anos.
Nesse período, a desvalorização cambial continuaria a
correr acima da inflação interna -ou seja, o câmbio
continuaria a ser desvalorizado em termos reais, para recuperar competitividade. De todo modo, como a inflação interna continuaria a cair, o valor dos reajustes cambiais
também iria declinando.
No final de 2002 ou início de
2003, quando o câmbio real já
tivesse recuperado um nível
mais competitivo, e a inflação
interna estivesse correndo a
um nível compatível com a inflação internacional, já não
seria necessário continuar
desvalorizando o câmbio. Haveria, então, duas alternativas para o governo.
Uma seria manter o câmbio
fixo ou quase fixo (dentro, por
exemplo, de uma banda mínima). Teria o inconveniente da
rigidez. É bom lembrar que a
reputação de câmbios fixos ou
rigidamente controlados foi
fortemente abalada pela crise
da Ásia.
Os dois propõem uma outra
alternativa, a de transformar
o sistema cambial numa banda larga de flutuação. Para
não haver saltos em relação
ao sistema atual, a cotação do
real frente ao dólar, no momento da mudança, serviria
como o ponto central da nova
banda larga. A partir desse
ponto, a cotação poderia oscilar até 2,5% para cima ou
2,5% para baixo. Um ano depois de implantado o sistema
de banda larga, o governo poderia considerar a hipótese de
permitir que a margem de flutuação dobrasse para até 5%
acima ou 5% abaixo do ponto
central.
Na prática, portanto, o sistema iria mudando gradualmente a partir do próximo
ano. O governo não precisaria
anunciar toda a estratégia,
diz Carvalho, até para preservar uma margem de manobra.
Em 99, a desvalorização seria ainda de 7,5%, bem acima
da inflação. A primeira mudança seria espaçar mais os
minireajustes. Hoje, são feitos
mais ou menos seis minireajustes mensais. Os ajustes passariam a ser apenas três e caminhariam para ser apenas
um por mês. Cada reajuste,
portanto, seria um pouco
maior do que é hoje. Em três
anos, a média de cada ajuste
subiria de 0,12% para 0,33%.
A lógica seria fazer com que
esses ajustes um pouco maiores correspondessem a alterações de minibandas também
maiores.
Para evitar que o mercado
especulasse a cada véspera de
reajuste, o artigo sugere o uso
de juros punitivos, conforme o
comportamento do mercado
dentro das minibandas.
Para permitir uma queda
nos juros, diz Carvalho, é preciso mexer com a expectativa
de desvalorização futura, mas
também reduzir o risco de volatilidade. Só diminuir a desvalorização não adianta, porque o mercado sabe que a
conta externa só é sustentável
com um crescimento baixo.
Coordenar um ganho real do
câmbio com regras claras para o sistema futuro permitiria
uma transição suave. Com
menos expectativa de desvalorização futura, argumenta
Carvalho, os juros poderiam
ser menores.
De outro lado, contudo, ambos listam várias razões para
não se fazer uma desvalorização abrupta, tipo máxi: 1) a
pressão inflacionária, 2) a insegurança sobre novos reajustes, 3) poderia ser insuficiente
para resolver os problemas
das contas externas, 4) o governo perderia sua reputação,
5) haveria impactos econômicos negativos, 6) não há
exemplos de mudanças bruscas bem sucedidas em países
emergentes.
Independentemente dos méritos da proposta, ela chega
numa hora oportuna. Por menos que o governo deseje, o
assunto que mais eletriza o
mercado, hoje, é discutir o futuro da política cambial.
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