|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FOGO AMIGO
Conceição compara país a caminhão desengonçado
Economista do PT ameniza o tom, mas critica política econômica
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de fazer duros ataques à
equipe econômica do governo
Luiz Inácio Lula da Silva, a economista Maria da Conceição Tavares, que é ligada ao PT, amenizou
o tom, sem deixar de fazer suas
críticas, e classificou a política
econômica em vigor de "freio de
arrumação".
A expressão é usada para descrever medidas drásticas necessárias para organizar uma bagunça.
No jargão popular, é quando o
motorista de um ônibus lotado
pisa no freio para amontoar os
passageiros na frente e abrir espaço para entrada de mais pessoas.
"Nós estamos num desequilíbrio brutal, o que houve foi um
freio de arrumação", disse a economista, antes de participar de
um seminário do Ministério do
Trabalho, ontem em Brasília, sobre geração de renda e emprego.
No seminário, Maria da Conceição disse que o governo terá dificuldades para conseguir criar 10
milhões de postos de trabalho, como prometido na campanha presidencial, se não houver a retomada de investimentos, sobretudo
nos setores que mais empregam.
Antes da reunião, a economista
comparou o Brasil com um "caminhão desengonçado". "Agora,
é claro, quando você faz um freio
de arrumação, num país que parece um caminhão desengonçado, sai gente por tudo quanto é lado. Então dá trombada. Não deu
trombada, mas deu desarrumação", afirmou.
Embora não criticasse a política
econômica administrada pelo ministro da Fazenda, Antônio Palocci Filho, desprezou a excessiva
preocupação com os índices de
risco país, principalmente pela
imprensa. Enfatizou que o país
precisa criar empregos, objetivo
que não será alcançado pelo Ministério da Fazenda.
"Aí fica tudo contente [depois
do freio de arrumação] - "Você
viu? Caiu o risco Brasil". Muito
bem, ótimo. Isso quer dizer que o
ministro [da Fazenda] é competente. E daí? Por acaso é o Ministério da Fazenda que vai gerar empregos? Não", disse a economista.
Na semana retrasada, Conceição Tavares concedeu uma entrevista à Folha, na qual chamou o
secretário de Política Econômica
de Palocci, Marcos Lisboa, de "débil mental". Segundo ela, Lisboa
seria um semi-analfabeto responsável pela política econômica.
Ontem, Tavares foi mais moderada e não fez referências a nenhum membro do governo, mas
não deixou de criticar. Lembrou
que o país "está num período no
qual saiu de uma crise atroz, de
balança de pagamentos, de desequilíbrio da dívida pública e externo e está com o crescimento no
chão e a inflação explodindo".
Crescimento
Além de deixar claro que a atual
política econômica não é suficiente para criar os empregos prometidos pelo governo (seria preciso
retomar investimentos), Maria da
Conceição disse que o crescimento, por si só, também não gera o
número de postos necessários.
"Mesmo que você cresça a 4%
ao ano, se não investir, sem programar nada, não se consegue gerar o emprego requerido", afirmou. O seminário, do qual participou o ministro do Trabalho, Jaques Wagner, visava buscar soluções para o pouco dinamismo do
mercado de trabalho.
Um das soluções apresentada
pela economista à imprensa, antes do seminário, é o maior investimento em construção civil, que
emprega bastante. Maria da Conceição criticou a queda de crédito
para o setor.
"Nós temos três bancos públicos. Precisa de crédito [para a
construção civil]. O crédito caiu
de 33% PIB (total de riquezas de
um país) -que já era uma porcaria- para 22% do PIB", disse ela.
Texto Anterior: Equipe: Favre é nomeado pelo governo e será assessor especial de Gushiken Próximo Texto: Frase Índice
|