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São Paulo, sábado, 03 de maio de 2003

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FOGO AMIGO

Conceição compara país a caminhão desengonçado

Economista do PT ameniza o tom, mas critica política econômica

ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de fazer duros ataques à equipe econômica do governo Luiz Inácio Lula da Silva, a economista Maria da Conceição Tavares, que é ligada ao PT, amenizou o tom, sem deixar de fazer suas críticas, e classificou a política econômica em vigor de "freio de arrumação".
A expressão é usada para descrever medidas drásticas necessárias para organizar uma bagunça. No jargão popular, é quando o motorista de um ônibus lotado pisa no freio para amontoar os passageiros na frente e abrir espaço para entrada de mais pessoas.
"Nós estamos num desequilíbrio brutal, o que houve foi um freio de arrumação", disse a economista, antes de participar de um seminário do Ministério do Trabalho, ontem em Brasília, sobre geração de renda e emprego.
No seminário, Maria da Conceição disse que o governo terá dificuldades para conseguir criar 10 milhões de postos de trabalho, como prometido na campanha presidencial, se não houver a retomada de investimentos, sobretudo nos setores que mais empregam.
Antes da reunião, a economista comparou o Brasil com um "caminhão desengonçado". "Agora, é claro, quando você faz um freio de arrumação, num país que parece um caminhão desengonçado, sai gente por tudo quanto é lado. Então dá trombada. Não deu trombada, mas deu desarrumação", afirmou.
Embora não criticasse a política econômica administrada pelo ministro da Fazenda, Antônio Palocci Filho, desprezou a excessiva preocupação com os índices de risco país, principalmente pela imprensa. Enfatizou que o país precisa criar empregos, objetivo que não será alcançado pelo Ministério da Fazenda.
"Aí fica tudo contente [depois do freio de arrumação] - "Você viu? Caiu o risco Brasil". Muito bem, ótimo. Isso quer dizer que o ministro [da Fazenda] é competente. E daí? Por acaso é o Ministério da Fazenda que vai gerar empregos? Não", disse a economista.
Na semana retrasada, Conceição Tavares concedeu uma entrevista à Folha, na qual chamou o secretário de Política Econômica de Palocci, Marcos Lisboa, de "débil mental". Segundo ela, Lisboa seria um semi-analfabeto responsável pela política econômica.
Ontem, Tavares foi mais moderada e não fez referências a nenhum membro do governo, mas não deixou de criticar. Lembrou que o país "está num período no qual saiu de uma crise atroz, de balança de pagamentos, de desequilíbrio da dívida pública e externo e está com o crescimento no chão e a inflação explodindo".

Crescimento
Além de deixar claro que a atual política econômica não é suficiente para criar os empregos prometidos pelo governo (seria preciso retomar investimentos), Maria da Conceição disse que o crescimento, por si só, também não gera o número de postos necessários.
"Mesmo que você cresça a 4% ao ano, se não investir, sem programar nada, não se consegue gerar o emprego requerido", afirmou. O seminário, do qual participou o ministro do Trabalho, Jaques Wagner, visava buscar soluções para o pouco dinamismo do mercado de trabalho.
Um das soluções apresentada pela economista à imprensa, antes do seminário, é o maior investimento em construção civil, que emprega bastante. Maria da Conceição criticou a queda de crédito para o setor.
"Nós temos três bancos públicos. Precisa de crédito [para a construção civil]. O crédito caiu de 33% PIB (total de riquezas de um país) -que já era uma porcaria- para 22% do PIB", disse ela.


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