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BRASIL PROFUNDO
Polícia acredita que decisão sobre homologação da Raposa/Serra do Sol pode gerar confronto em Uiramutã
PF tem plano para conter conflito em RR
JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM UIRAMUTÃ (RR)
A Polícia Federal de Roraima
elaborou plano de contingência
para evitar o que considera provável conflito entre manifestantes a
favor e contra a demarcação contínua da terra indígena Raposa/
Serra do Sol, de 1,69 milhão de
hectares, no nordeste do Estado.
Na avaliação da PF, o conflito
pode ocorrer assim que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinar a homologação da área.
Se a demarcação contínua feita
em 1998 for confirmada por Lula,
descontentará grupos a favor da
presença de não-índios, que terão
de sair da área. Se Lula optar pela
demarcação com "ilhas" -mantendo estradas, plantações e a cidade de Uiramutã-, descontentará grupos como CIR (Conselho
Indígena de Roraima) e Funai
(Fundação Nacional do Índio).
Há índios a favor e contra a demarcação contínua. De acordo
com o delegado da PF em Roraima Osmar Tavares de Melo, o plano já foi enviado à direção do órgão em Brasília, pois havia a possibilidade de Lula tomar sua decisão na terça-feira passada.
No dia, Lula recebeu parecer do
Congresso contrário à demarcação contínua e ouviu de ao menos
sete ministros uma posição a favor da área contínua. O presidente decidiu aguardar decisão judicial sobre uma liminar que anulou a portaria que demarcou a reserva. Ele também espera um parecer jurídico sobre a situação legal de Uiramutã, que, com a homologação contínua, não terá como manter o status de município.
Reforço de agentes
Melo disse que o plano de contingência prevê o reforço de agentes da PF de outros Estados. "Temos levantamento dos principais
pontos de tensão e conflito e pretendemos enviar agentes a essas
áreas para que, após a decisão do
governo, o processo homologatório ocorra pacificamente."
O delegado afirmou também
que a estratégia foi elaborada levando-se em conta os protestos
ocorridos no Estado em janeiro
passado, quando manifestantes
contra a demarcação contínua fecharam estradas em vários pontos do Estado, invadiram as sedes
da Funai e do Incra em Boa Vista e
mantiveram reféns três religiosos.
"Os protestos nos possibilitaram um levantamento das principais áreas em que pode haver
conflitos entre grupos opostos."
Se ocorrer a demarcação contínua, o plano já prevê como será a
retirada dos não-índios e o realojamento de arrozais e fazendas. O
delegado disse não poder divulgar
quais ações preventivas estão sendo realizadas, pois "o planejamento perderia o sentido".
Novos indiciamentos
Depois dos protestos de janeiro,
a PF indiciou três pessoas -o arrozeiro Paulo César Quartieiro, o
vice-prefeito de Pacaraima, Francisco Roberto do Nascimento, e o
índio Genival Costa da Silva-,
sob a suspeita de seqüestro,
ameaça e danos ao patrimônio.
Segundo a PF, há indícios de
que os três participaram do seqüestro dentro da terra indígena
Raposa/Serra do Sol, durante os
protestos de janeiro, de dois padres e um missionário da congregação chamada Consolata, que
presta ajuda aos povos indígenas.
Na época, a diocese de Roraima
acusou a prefeita de Uiramutã,
Florany Mota (PT), de ter fornecido um caminhão da prefeitura
para o grupo que fez o seqüestro.
A PF diz que não foram encontrados indícios contra Florany.
Informou, no entanto, que investiga outras 36 pessoas que participaram dos protestos e podem ainda ser indiciadas.
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