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QUESTÃO AGRÁRIA
Movimentações não eram declaradas à Receita Federal
CPI aponta irregularidade em
operação de R$ 2,1 mi do MST
ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em mais uma sessão repleta de
troca de ofensas, parlamentares
da CPI (Comissão Parlamentar de
Inquérito) da Terra consideraram
irregular a movimentação de R$
2,1 milhões feita por uma cooperativa ligada ao MST (Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra).
A comissão ouviu ontem o ex-secretário-executivo da Anca (Associação Nacional de Cooperação
Agrícola), José Trevisol, e três office-boys que trabalhavam para a
entidade.
Segundo parlamentares, pelo
menos R$ 2,1 milhões recebidos
pela Concrab (Confederação das
Cooperativas de Reforma agrária
do Brasil) de convênios públicos
ou doações estrangeiras foram
movimentados de maneira irregular -com saques em caixa por
meio de cheques acima de R$
5.000 em nome da entidade, cheques ao portador e nominais.
Emerson Rodrigues da Silva,
Edmilson José de Pinho e Orlando Vieira de Araújo-os três office-boys identificados como responsáveis por movimentações
milionárias com recursos da Concrab- fizeram saques que ultrapassam os R$ 700 mil.
A quebra de sigilo bancário e
fiscal da Concrab foi realizado pela comissão.
Na apresentação que fizeram à
CPI, os três disseram que as movimentações eram feitas a mando
de Trevisol, então secretário-executivo da entidade. Eles confirmaram que os valores não foram
declarados à Receita Federal porque eram repassados à entidade.
Silêncio
Auxiliados por advogados da
Anca, Trevisol e os três office-boys não responderam às perguntas dos parlamentares. Todos
invocaram o direito de permanecer em silêncio.
Segundo o presidente da comissão, senador Álvaro Dias (PSDB-PR), a falta de explicações deverá
exigir uma investigação profunda
da CPI, pois "as questões não ficarão sem respostas".
Trevisol, em uma apresentação
inicial, explicou a transferência de
R$ 400 mil da Anca para um plano de previdência privada em nome dele e de uma funcionária da
entidade. Segundo ele, os dois
planos, no valor de R$ 200 mil cada, foram adquiridos como forma
de investimento, por sugestão do
gerente do banco.
Trevisol garantiu que os valores
não eram provenientes de convênios públicos. Por serem doações
internacionais, estariam sendo investidas "a longo prazo". Ele afirmou que os valores já foram devolvidos ao caixa da Anca.
A CPI já aprovou a quebra de sigilo bancário da Anca e da UDR
(União Democrática Ruralista).
Ao final da sessão, que durou
quase cinco horas e foi interrompida diversas vezes por causa de
discussões entre os parlamentares, foram apresentados requerimentos para a quebra dos sigilos
bancário e fiscal da gráfica Editora Peres e da Sociedade Editorial
Brasil de Fato, duas empresas que
prestaram serviços para a Anca.
Os membros da bancada ruralista planejam ainda convidar para depor os gerentes das agências
bancárias onde as movimentações foram feitas.
Tensão
No momento de maior tensão
da reunião de ontem da CPI, os
deputados Alberto Fraga (Sem
partido-DF), da bancada ruralista, e Luci Choinacki (PT-SC), do
grupo simpático ao MST, discutiram sobre o direito dos depoentes
de ficar em silêncio.
Fraga chamou a colega de "histérica", "fofoqueira" e disse que
ela precisava "se casar". As ofensas causaram rebuliço na comissão e troca de xingamentos. A sessão teve de ser suspensa por alguns minutos, até que a calma
voltasse à sala.
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