São Paulo, sexta-feira, 03 de junho de 2005

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QUESTÃO AGRÁRIA

Movimentações não eram declaradas à Receita Federal

CPI aponta irregularidade em operação de R$ 2,1 mi do MST

ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em mais uma sessão repleta de troca de ofensas, parlamentares da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Terra consideraram irregular a movimentação de R$ 2,1 milhões feita por uma cooperativa ligada ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
A comissão ouviu ontem o ex-secretário-executivo da Anca (Associação Nacional de Cooperação Agrícola), José Trevisol, e três office-boys que trabalhavam para a entidade.
Segundo parlamentares, pelo menos R$ 2,1 milhões recebidos pela Concrab (Confederação das Cooperativas de Reforma agrária do Brasil) de convênios públicos ou doações estrangeiras foram movimentados de maneira irregular -com saques em caixa por meio de cheques acima de R$ 5.000 em nome da entidade, cheques ao portador e nominais.
Emerson Rodrigues da Silva, Edmilson José de Pinho e Orlando Vieira de Araújo-os três office-boys identificados como responsáveis por movimentações milionárias com recursos da Concrab- fizeram saques que ultrapassam os R$ 700 mil.
A quebra de sigilo bancário e fiscal da Concrab foi realizado pela comissão.
Na apresentação que fizeram à CPI, os três disseram que as movimentações eram feitas a mando de Trevisol, então secretário-executivo da entidade. Eles confirmaram que os valores não foram declarados à Receita Federal porque eram repassados à entidade.

Silêncio
Auxiliados por advogados da Anca, Trevisol e os três office-boys não responderam às perguntas dos parlamentares. Todos invocaram o direito de permanecer em silêncio.
Segundo o presidente da comissão, senador Álvaro Dias (PSDB-PR), a falta de explicações deverá exigir uma investigação profunda da CPI, pois "as questões não ficarão sem respostas".
Trevisol, em uma apresentação inicial, explicou a transferência de R$ 400 mil da Anca para um plano de previdência privada em nome dele e de uma funcionária da entidade. Segundo ele, os dois planos, no valor de R$ 200 mil cada, foram adquiridos como forma de investimento, por sugestão do gerente do banco.
Trevisol garantiu que os valores não eram provenientes de convênios públicos. Por serem doações internacionais, estariam sendo investidas "a longo prazo". Ele afirmou que os valores já foram devolvidos ao caixa da Anca.
A CPI já aprovou a quebra de sigilo bancário da Anca e da UDR (União Democrática Ruralista).
Ao final da sessão, que durou quase cinco horas e foi interrompida diversas vezes por causa de discussões entre os parlamentares, foram apresentados requerimentos para a quebra dos sigilos bancário e fiscal da gráfica Editora Peres e da Sociedade Editorial Brasil de Fato, duas empresas que prestaram serviços para a Anca.
Os membros da bancada ruralista planejam ainda convidar para depor os gerentes das agências bancárias onde as movimentações foram feitas.

Tensão
No momento de maior tensão da reunião de ontem da CPI, os deputados Alberto Fraga (Sem partido-DF), da bancada ruralista, e Luci Choinacki (PT-SC), do grupo simpático ao MST, discutiram sobre o direito dos depoentes de ficar em silêncio.
Fraga chamou a colega de "histérica", "fofoqueira" e disse que ela precisava "se casar". As ofensas causaram rebuliço na comissão e troca de xingamentos. A sessão teve de ser suspensa por alguns minutos, até que a calma voltasse à sala.


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