São Paulo, sábado, 03 de junho de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA

Em tom de campanha, Lula ataca educação da era PSDB

Fernando Donasci/Folha Imagem
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva em visita ao Salão do Turismo


Sem citar nomes, presidente acusa FHC e Alckmin de negligenciar ensino público

Petista, que improvisou discursos em eventos em São Paulo, voltou a ligar onda de violência a falta de investimentos em educação


MALU DELGADO
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Em três discursos feitos de improviso ontem em diferentes eventos em São Paulo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva formulou novas "teses" sobre pobreza, educação, turismo e até investimentos públicos. Relembrando a própria história e a formação como torneiro mecânico, Lula fez críticas indiretas aos adversários do PSDB, especialmente o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o pré-candidato à Presidência, Geraldo Alckmin. Acusou ambos de negligenciarem o ensino público e técnico.
"Pobre não rejeita pobre. Essa é uma máxima da sociedade", afirmou na cerimônia de contratação de 292 jovens para o Programa Jovem Aprendiz da Petrobras.
"Neste país, falta menos dinheiro e mais criatividade nas pessoas, mais sensibilidade de fazer as coisas", disse, na abertura do 2º Salão do Turismo, ao sugerir e cobrar ações que incrementem o turismo no país.
A simplicidade das palavras, que muitas vezes arrancam risadas das platéias, não esconde que o alvo central dos ataques de Lula são sempre os tucanos.
"Eu vou dar um dado para vocês ficarem surpresos. Todo o sistema de ensino público de São Paulo, que é o maior Estado da Federação, hoje tem apenas 18% dos estudantes universitários em escola pública, e 82% estão em escolas privadas, em uma demonstração de que foi premeditado o abandono da escola pública neste país", disse aos jovens aprendizes, em ataque velado a Alckmin.
Lula criticou a decisão de 1998 do Ministério da Educação de retirar a responsabilidade do ensino técnico do governo federal. "Deixou-se de investir em escola técnica. Revogamos a lei e este ano vamos inaugurar 32 escolas técnicas. [...] Não há, na história da humanidade, nenhum país que se desenvolveu pela ignorância."

"Suco de esperança"
Em clima de final de mandato, flagrado nos sucessivos balanços de gestão que faz, Lula demonstra estar satisfeito com os resultados de seu governo. "Não foram poucos os que ficaram em volta do pé de laranja sapateando e dizendo "isso aqui não vai dar em nada". Hoje [...] estamos tomando um gostoso copo de suco de esperança."
Quando eleito em outubro de 2002, Lula disse que começaria fazendo o necessário, depois o possível, "até chegar no impossível". Agora, o presidente inovou: "O impossível é apenas um pouco mais difícil", afirmou, ao citar números do Prouni (programa que dá bolsa em universidades para jovens carentes).
Lula disse estar convencido de que "não é a pobreza que leva a pessoa a ser bandido", mas a desagregação da estrutura familiar. Afirmou que os criminosos do PCC eram "crianças bochechudas" que estavam nas ruas há mais de uma década.
Aos jovens aprendizes, Lula disse que a formação como torneiro mecânico foi a oportunidade que o levou ao sindicalismo e, depois, à Presidência.
Mais tarde, em discurso para trabalhadores da Petrobras no pátio da Revap (Refinaria Henrique Lage), em São José dos Campos, voltou a provocar os tucanos. "Acho que tem muita gente nesse país que estudou em escola pública, não pagou nada e, depois [de formados], alguns deles se esqueceram de que os outros também precisavam estudar". Fernando Henrique, José Serra e Alckmin estudaram em escolas públicas.
O presidente disse lamentar não ter diploma. "Não digo isso com orgulho, não. Até gostaria de ser economista", brincou, dirigindo-se ao senador Aloizio Mercadante (PT), pré-candidato ao governo de São Paulo.

Turismo
Lula também participou da abertura do 2º Salão do Turismo, e pediu ao ministro da área, Walfrido Mares Guia, ações pró-turismo em aeroportos e a reavaliação da dinâmica da aviação brasileira, "que está antiga e superada".
Lula disse que o turismo está relacionado à auto-estima. "Se nós não depositarmos confiança na nossa gente, na nossa indústria, no nosso trabalhador, quem é que vai acreditar em nós? O nosso concorrente? Nosso concorrente vai querer nos asfixiar", afirmou.
Walfrido Mares Guia cometeu uma gafe e chamou Lula de Luiz Henrique. Bem-humorado, Lula rebateu e disse que o ministro só não pode errar o nome da esposa.


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