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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA
Lula dobra entrega de cestas de alimentos
Entre 2003 e 2005, o número de cestas distribuídas pelo governo saltou de 715 mil para 1,9 milhão; FHC havia suspendido programa
Atualmente, os sem-terra acampados representam cerca de 70% daqueles que
recebem o benefício; para
economista, é "retrocesso"
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Suspensa pouco mais de um
ano antes da posse de Luiz Inácio Lula da Silva no Planalto, a
distribuição de cestas de alimentos mais que dobrou nos
três primeiros anos de mandato do presidente.
Entre 2003 e 2005, o número
de cestas distribuídas pelo governo federal saltou de 715 mil
para 1,9 milhão. Neste ano, a
compra de 44 toneladas de alimentos para compor as cestas
deverá consumir R$ 46 milhões, estima o Ministério do
Desenvolvimento Social.
Atualmente, os sem-terra
acampados representam cerca
de 70% dos beneficiários das
cestas, calcula o ministério. No
ano passado, mais de 226 mil
famílias receberam as cestas.
Na segunda-feira, o ministro
Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário) defendeu a inclusão dos sem-terra no Bolsa-Família, programa que paga de
R$ 15 a R$ 95 por mês a famílias
de baixa renda. Mas a falta de
endereço fixo e as dificuldades
no cumprimento de contrapartidas do programa, como freqüência às aulas, complicam o
acesso dos sem-terra à bolsa.
Além dos sem-terra, são
atendidas com cestas populações indígenas, quilombolas e
moradoras de áreas atingidas
por secas ou enchentes.
As cestas não levam a marca
do governo e têm variações de
composição entre as regiões
Norte e Nordeste e Centro-Oeste e Sul. São compostas de
arroz, feijão, açúcar, leite em
pó, farinha de mandioca ou de
trigo, flocos de milho ou fubá,
macarrão e latas de óleo.
"Retrocesso"
A distribuição das cestas de
alimentos foi retomada com
força em março de 2003, depois de uma leva de invasões
promovida pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) no primeiro
Carnaval do governo Lula.
O ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso mandara
suspender o Prodea (Programa
de Distribuição Emergencial de
Alimentos), a partir de 2001,
que considerava ineficaz, numa
opção por fortalecer programas
de transferência de renda. Naquela época, cerca de 2 milhões
de famílias recebiam as cestas.
O auge do Prodea, criado por
Itamar Franco, em 1993, aconteceu cinco anos depois -o
mesmo da reeleição de FHC.
"É um retrocesso", avalia a
economista Sônia Rocha, especialista em combate à pobreza,
sobre a volta das cestas. "Sem
dúvida, é menos eficiente do
ponto de vista do custo administrativo e do bem-estar das
famílias", pondera.
A distribuição de cestas de
alimentos não foi o único programa social assistencialista
ressuscitado por Lula. Ainda
em 2003, o governo trouxe de
volta a distribuição de leite, semelhante ao programa do governo Sarney (1985-1990).
Atualmente, segundo cálculo
do Ministério do Desenvolvimento Social, cerca de 710 mil
famílias de Estados do Nordeste e do Norte de Minas Gerais
recebem um litro de leite diariamente, com um rótulo do
programa Fome Zero. Neste
ano, o programa deverá custar
R$ 172 milhões.
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