São Paulo, sábado, 03 de junho de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA

Lula dobra entrega de cestas de alimentos

Entre 2003 e 2005, o número de cestas distribuídas pelo governo saltou de 715 mil para 1,9 milhão; FHC havia suspendido programa

Atualmente, os sem-terra acampados representam cerca de 70% daqueles que recebem o benefício; para economista, é "retrocesso"


MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Suspensa pouco mais de um ano antes da posse de Luiz Inácio Lula da Silva no Planalto, a distribuição de cestas de alimentos mais que dobrou nos três primeiros anos de mandato do presidente.
Entre 2003 e 2005, o número de cestas distribuídas pelo governo federal saltou de 715 mil para 1,9 milhão. Neste ano, a compra de 44 toneladas de alimentos para compor as cestas deverá consumir R$ 46 milhões, estima o Ministério do Desenvolvimento Social.
Atualmente, os sem-terra acampados representam cerca de 70% dos beneficiários das cestas, calcula o ministério. No ano passado, mais de 226 mil famílias receberam as cestas.
Na segunda-feira, o ministro Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário) defendeu a inclusão dos sem-terra no Bolsa-Família, programa que paga de R$ 15 a R$ 95 por mês a famílias de baixa renda. Mas a falta de endereço fixo e as dificuldades no cumprimento de contrapartidas do programa, como freqüência às aulas, complicam o acesso dos sem-terra à bolsa.
Além dos sem-terra, são atendidas com cestas populações indígenas, quilombolas e moradoras de áreas atingidas por secas ou enchentes.
As cestas não levam a marca do governo e têm variações de composição entre as regiões Norte e Nordeste e Centro-Oeste e Sul. São compostas de arroz, feijão, açúcar, leite em pó, farinha de mandioca ou de trigo, flocos de milho ou fubá, macarrão e latas de óleo.

"Retrocesso"
A distribuição das cestas de alimentos foi retomada com força em março de 2003, depois de uma leva de invasões promovida pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) no primeiro Carnaval do governo Lula.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso mandara suspender o Prodea (Programa de Distribuição Emergencial de Alimentos), a partir de 2001, que considerava ineficaz, numa opção por fortalecer programas de transferência de renda. Naquela época, cerca de 2 milhões de famílias recebiam as cestas.
O auge do Prodea, criado por Itamar Franco, em 1993, aconteceu cinco anos depois -o mesmo da reeleição de FHC.
"É um retrocesso", avalia a economista Sônia Rocha, especialista em combate à pobreza, sobre a volta das cestas. "Sem dúvida, é menos eficiente do ponto de vista do custo administrativo e do bem-estar das famílias", pondera.
A distribuição de cestas de alimentos não foi o único programa social assistencialista ressuscitado por Lula. Ainda em 2003, o governo trouxe de volta a distribuição de leite, semelhante ao programa do governo Sarney (1985-1990).
Atualmente, segundo cálculo do Ministério do Desenvolvimento Social, cerca de 710 mil famílias de Estados do Nordeste e do Norte de Minas Gerais recebem um litro de leite diariamente, com um rótulo do programa Fome Zero. Neste ano, o programa deverá custar R$ 172 milhões.


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