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Distribuição de alimentos divide especialistas
MARCELA CAMPOS
DA REDAÇÃO
A distribuição de cestas básicas como estratégia para reduzir fome e miséria é alternativa
controversa, na opinião de especialistas ouvidos pela Folha.
Lena Lavinas, professora do
Instituto de Economia da
UFRJ, afirma que a ação é ineficiente do ponto de vista econômico e foi substituída ao longo do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) pela transferência de renda.
Para Lena, ao receber o dinheiro de programas como o
Bolsa-Família e comprar alimentos no mercado, as famílias podem se beneficiar de
ofertas e de produtos da estação. "Estocar, distribuir é caro
para o governo e os alimentos
muitas vezes chegam deteriorados", afirma. Segundo a professora, as famílias são capazes
de escolher como gastarão os
recursos. "Se alguém fica doente, se tem que pagar uma conta
atrasada, vai usar parte do dinheiro. Se recebe em alimento,
não tem essa opção."
Na opinião da professora, o
governo agiu corretamente nos
casos em que a distribuição de
cestas buscou aliviar situação
emergencial de falta de alimentos em aldeias indígenas e em
áreas de secas e enchentes.
A especialista em políticas
sociais Rosa Maria Marques,
do departamento de Economia
da PUC-SP, diz que a questão
do assistencialismo é complexa
e faz duas grandes críticas. A
primeira é que, na forma como
são feitos, os programas constituem ações de governo. "Não
são encarados como direito ao
alimento e à renda, como deveriam, mas como uma benesse."
A segunda é que, embora
considere correta do ponto de
vista de atendimento emergencial aos mais pobres, a política
assistencialista não mexe nos
determinantes da pobreza, que
continua a ser gerada.
Marta Arretche, professora
do departamento de Ciência
Política da USP, vê impacto positivo desse tipo de ação. "O objetivo é aliviar a pobreza nos
bolsões. Freqüentemente se
cobra desses programas resultados que estão além do escopo
deles, que seriam obtidos por
reformas de âmbito mais geral." Ela afirma que, em um
país com o nível de pobreza do
Brasil, tem que haver solução
assistencial emergencial.
Para Marta, uma estratégia
mais ampla de combate à pobreza passaria por criar condições para que as pessoas tivessem fonte de renda derivada do
trabalho, mas alcançar esse resultado depende de questões
macroeconômicas relativas,
por exemplo, ao crescimento e
a reformas trabalhistas.
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