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PT SOB SUSPEITA
Mulher diz que ouviu conversa entre João Francisco e ex-secretário
Suposta testemunha diz que confirma acusações em juízo
LIEGE ALBUQUERQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma suposta testemunha da
conversa que o oftalmologista
João Francisco Daniel, irmão do
prefeito assassinado de Santo André, Celso Daniel, diz ter tido com
o ex-secretário de Governo da cidade Gilberto Carvalho afirmou
ontem, por telefone, sem querer
se identificar, que "confirmará tudo o que ouviu em juízo, se for
preciso".
Na conversa que teria presenciado de João Francisco com Gilberto, segundo a suposta testemunha, "Gilberto afirmou que tinha arrecadado e entregado ao
José Dirceu [presidente do PT" R$
1 milhão... Foi mais, R$ 1,2 milhão
para usar em campanhas".
A suposta testemunha, uma
mulher, conversou ontem por
quase 10 minutos com a reportagem da Folha, pelo telefone do
consultório de João Francisco. A
conversa não foi gravada.
Por conta da decisão, tomada
anteontem, pelo ministro do STF
(Supremo Tribunal Federal), Nelson Jobim, de arquivar o pedido
de abertura de inquérito criminal
contra José Dirceu por, entre outras razões, ter considerado que a
testemunha secreta citada por
João Francisco em seu depoimento ao Ministério Público, no dia 24
de maio, "seria ele mesmo", a reportagem procurou o médico.
A reportagem foi até o consultório e reforçou pedido, feito há
duas semanas, para entrevistar
pelo menos uma das quatro testemunhas que ele diz ter das conversas com Gilberto e com Miriam Belchior, ex-mulher de Celso Daniel. Nas conversas, ele teria
ouvido que havia um suposto esquema de propinas na Prefeitura
de Santo André para caixa dois.
João Francisco consentiu, com a
garantia de que ele próprio ligasse
para o telefone de uma testemunha do consultório, que a conversa não fosse gravada e que a pessoa não se identificasse. A mulher
do médico, Marguerita, assistiu à
entrevista, junto do marido.
"Mantenho as testemunhas sob
sigilo para a própria segurança
delas, por aconselhamento dos
promotores [do Ministério Público de Santo André". Expondo-se
assim, basta eu", disse João Francisco. "O que as testemunhas têm
me dito é que, caso necessário, depõem confirmando o que ouviram ao meu lado."
Durante a conversa, a suposta
testemunha falou com voz firme,
mas parecia um pouco assustada
e, um tanto apressada, despediu-se sem dar tempo de outras perguntas. Ela repetiu várias vezes
que confirmaria tudo em juízo,
quando a reportagem insistia por
mais detalhes.
A seguir, a descrição de como
foi a ordem da conversa, que foi
anotada e, portanto, não é literal.
"É verdade"
A suposta testemunha foi indagada se confirmaria o que João
Francisco disse ao Ministério Público e à imprensa. Afirmou: "Tudo que ele tem dito é verdade, se
precisar confirmo em juízo". Depois, foi solicitada a descrever como foi a conversa que teria presenciado. "Presenciei conversas
com Gilberto e com Miriam. Se
precisar, falo como foi em juízo."
Disse que presenciou "as conversas" antes do velório de Celso Daniel. "Na casa de João Francisco."
Ao ser questionada se tinha ouvido em alguma conversa algo sobre suposta arrecadação de propina para usar em campanhas, afirmou: "Do Gilberto, que disse que
entregou R$ 1 milhão... Foi mais,
R$ 1,2 milhão para o José Dirceu,
para usar em campanhas".
Foi pedido que ela desse mais
detalhes. Ela retrucou: "Como assim, mais detalhes? Falo em juízo
tudo, se precisar". Afirmou que
"tinha mais gente" ao lado dela e
de João Francisco presenciando
as conversas.
Para a suposta testemunha, Gilberto e Miriam fizeram as supostas confissões para João Francisco
"para alertar, para desabafar por
causa da morte [de Celso Daniel"". Afirmou que, se necessário, falará ao Ministério Público,
mas não à CPI em Santo André
que investiga o suposto esquema
de propinas. "Na CPI não confio."
Foi indagada por que não queria se identificar. Disse: "Porque
tenho medo, mas, se precisar falar
em juízo, vou falar".
Disse achar que Gilberto e Miriam agora negam as supostas
conversas com João Francisco
-ambos divulgaram uma nota
negando as afirmações de João
Francisco e foram chamados a depor amanhã à CPI- porque "não
querem se envolver mais, também devem ter medo". Foi perguntado do quê eles teriam medo.
Ela não respondeu.
A suposta testemunha afirmou
que falava de São Paulo. Ao ser indagada se era da família Daniel,
respondeu: "Não. E agora, desculpe, preciso desligar".
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