São Paulo, quarta-feira, 03 de julho de 2002

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PT SOB SUSPEITA

Mulher diz que ouviu conversa entre João Francisco e ex-secretário

Suposta testemunha diz que confirma acusações em juízo

LIEGE ALBUQUERQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma suposta testemunha da conversa que o oftalmologista João Francisco Daniel, irmão do prefeito assassinado de Santo André, Celso Daniel, diz ter tido com o ex-secretário de Governo da cidade Gilberto Carvalho afirmou ontem, por telefone, sem querer se identificar, que "confirmará tudo o que ouviu em juízo, se for preciso".
Na conversa que teria presenciado de João Francisco com Gilberto, segundo a suposta testemunha, "Gilberto afirmou que tinha arrecadado e entregado ao José Dirceu [presidente do PT" R$ 1 milhão... Foi mais, R$ 1,2 milhão para usar em campanhas".
A suposta testemunha, uma mulher, conversou ontem por quase 10 minutos com a reportagem da Folha, pelo telefone do consultório de João Francisco. A conversa não foi gravada.
Por conta da decisão, tomada anteontem, pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Nelson Jobim, de arquivar o pedido de abertura de inquérito criminal contra José Dirceu por, entre outras razões, ter considerado que a testemunha secreta citada por João Francisco em seu depoimento ao Ministério Público, no dia 24 de maio, "seria ele mesmo", a reportagem procurou o médico.
A reportagem foi até o consultório e reforçou pedido, feito há duas semanas, para entrevistar pelo menos uma das quatro testemunhas que ele diz ter das conversas com Gilberto e com Miriam Belchior, ex-mulher de Celso Daniel. Nas conversas, ele teria ouvido que havia um suposto esquema de propinas na Prefeitura de Santo André para caixa dois.
João Francisco consentiu, com a garantia de que ele próprio ligasse para o telefone de uma testemunha do consultório, que a conversa não fosse gravada e que a pessoa não se identificasse. A mulher do médico, Marguerita, assistiu à entrevista, junto do marido.
"Mantenho as testemunhas sob sigilo para a própria segurança delas, por aconselhamento dos promotores [do Ministério Público de Santo André". Expondo-se assim, basta eu", disse João Francisco. "O que as testemunhas têm me dito é que, caso necessário, depõem confirmando o que ouviram ao meu lado."
Durante a conversa, a suposta testemunha falou com voz firme, mas parecia um pouco assustada e, um tanto apressada, despediu-se sem dar tempo de outras perguntas. Ela repetiu várias vezes que confirmaria tudo em juízo, quando a reportagem insistia por mais detalhes.
A seguir, a descrição de como foi a ordem da conversa, que foi anotada e, portanto, não é literal.

"É verdade"
A suposta testemunha foi indagada se confirmaria o que João Francisco disse ao Ministério Público e à imprensa. Afirmou: "Tudo que ele tem dito é verdade, se precisar confirmo em juízo". Depois, foi solicitada a descrever como foi a conversa que teria presenciado. "Presenciei conversas com Gilberto e com Miriam. Se precisar, falo como foi em juízo." Disse que presenciou "as conversas" antes do velório de Celso Daniel. "Na casa de João Francisco."
Ao ser questionada se tinha ouvido em alguma conversa algo sobre suposta arrecadação de propina para usar em campanhas, afirmou: "Do Gilberto, que disse que entregou R$ 1 milhão... Foi mais, R$ 1,2 milhão para o José Dirceu, para usar em campanhas".
Foi pedido que ela desse mais detalhes. Ela retrucou: "Como assim, mais detalhes? Falo em juízo tudo, se precisar". Afirmou que "tinha mais gente" ao lado dela e de João Francisco presenciando as conversas.
Para a suposta testemunha, Gilberto e Miriam fizeram as supostas confissões para João Francisco "para alertar, para desabafar por causa da morte [de Celso Daniel"". Afirmou que, se necessário, falará ao Ministério Público, mas não à CPI em Santo André que investiga o suposto esquema de propinas. "Na CPI não confio."
Foi indagada por que não queria se identificar. Disse: "Porque tenho medo, mas, se precisar falar em juízo, vou falar".
Disse achar que Gilberto e Miriam agora negam as supostas conversas com João Francisco -ambos divulgaram uma nota negando as afirmações de João Francisco e foram chamados a depor amanhã à CPI- porque "não querem se envolver mais, também devem ter medo". Foi perguntado do quê eles teriam medo. Ela não respondeu.
A suposta testemunha afirmou que falava de São Paulo. Ao ser indagada se era da família Daniel, respondeu: "Não. E agora, desculpe, preciso desligar".


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