São Paulo, segunda-feira, 03 de julho de 2006

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Toda Mídia

Nelson de Sá

Quem é o culpado?

Fim de jogo e o narrador Galvão Bueno, ao vivo, saiu à caça das bruxas ou, melhor, "de quem é a culpa".
Pois o engraçado e todo-poderoso Antonio Tabet, do blog independente Kibe Loco, que já comandou a ridicularização de enquetes on-line da Argentina à Europa, fez enquete própria, perguntando "quem é o culpado pela derrota na Copa?" Nem quarteto nem Roberto Carlos. A vitória, muito à frente do resto, foi dele mesmo, Galvão Bueno, com 49,93% dos votos.

Globo/Reprodução
As duas últimas imagens do novo comercial da Nike, com Ronaldo "emagrecido" se dissolvendo no logo

A GLOBO ESCALA 1
Pedro Bial, que descrevia Juninho como "lá de São Januário" no "JN", e Galvão Bueno tanto fizeram que o treinador escalou o jogador -como deu a Folha, sábado.
Começa o jogo e, diz o locutor, "Juninho bate melhor do que ninguém" (e acerta a barreira), "Juninho abre bem" (e erra o passe). Até os "comentaristas" criticaram e por fim, quando o jogador saiu sob vaia, o narrador cedeu, "realmente o Juninho não rendeu o que todo mundo esperava".

"TODO O BRASIL"
O blog de Juca Kfouri abriu o primeiro post da derrota:
- Parreira pôs o que queriam (este blogueiro, inclusive) mas o time não fez nada, talvez por jamais ter treinado.
Foi também a argumentação de Tostão. O Noblog foi mais direto, "o Brasil que todo o Brasil queria, com Juninho no meio, não jogou nada".
Mas foi preciso o inglês Alex Bellos para explicar Parreira, no "Financial Times":
- A mídia do Brasil dizia que seu comportamento era irritante. A CBF o criticava por não mostrar liderança. Quando escolheu o time, ele abandonou o quarteto por uma formação não-testada.

A GLOBO ESCALA 2
Mais que Juninho, a Globo e seu locutor se esforçaram para manter Ronaldo no time, com Robinho no banco. Sábado, a jogada de Zidane foi narrada com constrangimento:
- Toque por cima do Ronaldo, um chapéu com simplicidade em cima do Ronaldo.
Para registro, na transmissão da SporTV, canal esportivo da Globo, o comentarista Telmo Zanini, um dos poucos que destoaram defendendo a saída de Ronaldo na primeira fase, não estava mais no ar.

O PODER
Também para registro histórico, no fim de semana estreou finalmente na Globo o comercial da Nike com o veloz Ronaldo, virtualmente "emagrecido" e, acredite, mandando a torcida calar a boca.
Curiosamente, em entrevista ao espanhol "El País", sábado, Ronaldo disse com ironia e virou título, "O gol tem o poder de emagrecer".

BIG BROTHER BRASIL
A seleção perdeu, a Seleção do Faustão virou quase nada -e saíram à caça de culpados.
Pelé, na TV alemã, avisou que três jogadores ficaram parados no gol, mas a edição global, mal terminou a partida, só mostrou Roberto Carlos.
Narrador e "comentaristas" atacavam, lágrimas nos olhos, a "falta de personalidade" dos jogadores e daí para baixo.
Na partida, como noticiou a Folha, "a Globo abocanhou 90% do total da audiência". Resultado, na manchete do Terra, ontem, "Torcida vaia Roberto Carlos". Na Folha Online, "Gestos obscenos".
Sem destaque, nos sites, a notícia de que "Parreira pede que não cacem bruxas". Dele também, sobre a cobertura:
- Verdadeiro Big Brother.

FÉRIAS
Enquanto o "Fantástico" tentava manter a audiência global apelando a Luiz Felipe Scolari e Portugal, Vinicius Mota, na Folha Online, saudava "o lado bom da derrota":
- Férias da crônica esportiva. Põe o Juninho, alarga a chuteira do Ronaldo, dá liberdade para o Gaúcho, troca o quadrado pelo triângulo, falta alegria, falta "desempenhar" (abusaram desse verbo)... Saem os palpiteiros do futebol e entram os da política, que descobrirão, quiçá com a mesma perspicácia, quem ganha.

Globo/Reprodução
No "Fantástico" a "leitura labial" mostrou "o religioso" Felipão falando só "Deus do céu", "Ave Maria" etc., nada de palavrão desta vez


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@ - Nelson de Sá


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