São Paulo, sexta-feira, 03 de agosto de 2001

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Oposição quer dados sobre planos militares

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Partidos de oposição cobraram explicações do governo sobre a política de inteligência do Exército. O PT vai apresentar um requerimento de informações ao ministro Pedro Parente (Casa Civil), e a Comissão de Direitos Humanos deverá convocar o ministro Geraldo Quintão (Defesa) para esclarecimentos sobre a máquina de espionagem mantida em sigilo pelo Exército.
Documentos aos quais a Folha teve acesso, que tiveram trechos publicados ontem, revelam que a política de inteligência militar classifica os movimentos sociais como "forças adversas" e admite "arranhar direitos dos cidadãos" para manter a ordem pública.
Para disfarçar as operações de inteligência, o Exército utiliza documentos falsos e cria firmas fantasmas. Unidades de inteligência do Exército funcionam em casas descaracterizadas.
"Isso revela que o governo não se distanciou da política de patrulhamento dos adversários. E utiliza métodos piores que o da ditadura. Naquela época, pelo menos, sabíamos quais os instrumentos de repressão. Agora, eles são clandestinos", afirmou o líder do PT na Câmara, Walter Pinheiro (BA).
Segundo o presidente da Comissão de Direitos Humanos, Nelson Pellegrino (PT-BA), além da convocação do ministro Quintão, também serão requisitadas cópias dos documentos do Exército que foram apreendidos pelo Ministério Público Federal em Marabá, sul do Pará.
"Esses documentos revelam profundo desrespeito à ordem democrática, aos princípios constitucionais e a tratados internacionais sobre direitos humanos assinados pelo Brasil", afirmou Pellegrino.

Acusações
Os documentos apreendidos foram tema de discursos no plenário. Advogado do MST (Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) disse que o massacre de sem-terra em Eldorado do Carajás (PA), em que 19 sem-terra morreram em abril de 1996, teria ocorrido conforme orientações do esquema de inteligência do Exército.
O MST é citado em cartilhas da máquina de espionagem do Exército apreendidas pelo Ministério Público. "Com que cara leio documento do Exército que diz que os inimigos internos têm de ser eliminados e, entre eles, o MST?", questionou Greenhalgh.
"Não podemos aceitar que o aspecto democrático [das Forças Armadas] fique subjacente", afirmou a deputada federal Jandira Feghali (PC do B-RJ).



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