São Paulo, sexta-feira, 03 de agosto de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SUCESSÃO NO ESCURO

João Herrmann vai discutir aliança com Itamar e Lula

PPS oferece renúncia de Ciro para unir oposições

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

O deputado João Herrmann Neto (SP), vice-presidente nacional do PPS, já conversou com o governador Itamar Franco e, na segunda-feira, propõe a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que todos os presumíveis candidatos da oposição abdiquem das candidaturas em favor da discussão de idéias para, a partir delas e não de nomes, constituir o que Herrmann chama de "liga das oposições".
O projeto de Herrmann, que tem as bênçãos de Ciro Gomes, o presidenciável do PPS, parte do pressuposto de que a desunião das oposições representa oferecer de presente ao governo a chance de colocar seu candidato no segundo turno. A idéia desdobra-se nas seguintes etapas:
1 - Todos abrem mão de suas candidaturas.
2 - A partir daí, discutem idéias que serão a plataforma da oposição para a disputa de 2002.
3 - Forma-se a "liga de oposições" que escolhe então os candidatos a presidente e a vice.
Herrmann admite que a escolha do nome dependerá do "peso" que cada um dos postulantes exibir nas pesquisas de opinião pública. O que significa, pelo menos à primeira vista, que o candidato, se houver a união oposicionista, será mesmo Luiz Inácio Lula da Silva, que tradicionalmente mantém a liderança nas pesquisas entre os nomes de oposição.
"O que eu não posso é aceitar um nome antes da negociação, porque significaria aceitar também as suas idéias. E o PPS não está de acordo com algumas idéias do PT", diz Herrmann.
O projeto Herrmann prevê também saídas para a hipótese, de resto a mais provável, de que não haja união oposicionista. Nesse caso, a "liga" ficaria transferida para o segundo turno.
Se nem isso for possível, os oposicionistas comprometer-se-iam com um "pacto de governabilidade" para apoiar o eleito, no pressuposto de que seja da oposição.
O vice-presidente do PPS nega que a sua iniciativa se deva à queda de Ciro Gomes nas pesquisas mais recentes, nas quais teria sido ultrapassado pelo governador do Rio, Anthony Garotinho (PSB), além de Itamar Franco.
Na última pesquisa feita pelo Datafolha, entre 25 e 28 de junho, Ciro tinha 14% das intenções de voto (cenário C), contra 17% na pesquisa realizada em 21 de março deste ano. No mesmo período, Lula subiu sete pontos, de 24% para 31%, enquanto Garotinho passou de 7% para 10%.
Herrmann já conversou com Itamar Franco ontem, no hospital em que o governador se recuperava de uma operação.
"A presidência do PMDB é o vestibular que vou prestar", disse Itamar, aludindo à sua intenção de disputar o comando do partido, como alavanca para sua candidatura presidencial. A disposição de Itamar de, passando no "vestibular", ir para a faculdade (a disputa presidencial) é outra indicação da dificuldade para concretizar a "liga das oposições".
Falta acrescentar à lista de problemas o fato de que o PPS não ter interlocução no Rio com o governador Garotinho. Herrmann diz que o "engenheiro" do pretendido acordo de oposições é o ex-governador Leonel Brizola (PDT).
O presidente interino do PT, José Genoino, vê com ceticismo a idéia de Herrmann. "Espanta-me essa proposta. Não está em nossos planos renunciar à candidatura própria. Não vamos entrar nessa", disse.


Colaborou a Reportagem Local



Texto Anterior: No ar - Nelson de Sá: A pior seca
Próximo Texto: Serra derrota Malan na alíquota dos remédios
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.