São Paulo, sábado, 03 de agosto de 2002

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ELEIÇÕES 2002

TRANSIÇÃO NO ESCURO

Governo dispensa aval da oposição a acordo com FMI

Ministro diz que manifestações de adversários têm sido "positivas"

Atual governo é quem tem de fechar a negociação, diz Parente

FLÁVIA SANCHES
KENNEDY ALENCAR

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro-chefe da Casa Civil, Pedro Parente, disse que o governo considera "importante que os candidatos [à Presidência" por meio de seus porta-vozes autorizados" deixem claras suas posições em relação ao novo acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional). E afirmou que, até o momento, as manifestações têm sido "bastante positivas".
Ao elogiar os candidatos a presidente e seus "porta-vozes", Parente chegou a citar o senador Roberto Freire (PPS-PE) como exemplo de interlocutor da esquerda com declarações positivas. "Têm aparecido manifestações no meu modo de ver mais positivas na direção daquilo que é importante para o país, não para este governo, não para o próximo governo, mas para o país."
Diante da recusa dos presidenciáveis de oposição de endossar formalmente o novo acerto, diferentemente do que aconteceu na Coréia do Sul em 1997, o governo e o próprio FMI desistiram dessa exigência. Apenas o candidato do governo, o tucano José Serra, deu apoio incondicional.
"Quem tem de, neste momento, formalizar, assinar e discutir os detalhes do acordo é o governo que governa até dia 31 de dezembro", afirmou Parente.
Na falta de um aval formal dos oposicionistas, que querem deixar o ônus da crise na conta do presidente Fernando Henrique Cardoso e da candidatura Serra, a intenção do governo é obter apoio para aprovar medidas no Congresso que melhorem a expectativa da comunidade financeira internacional em relação à capacidade futura do Brasil de honrar seus compromissos.
A Folha apurou que a chamada minirreforma tributária, projeto que isenta as exportações de algumas contribuições sociais, amenizando o efeito cascata na cobrança de tributos, pode ser o gancho para FHC convidar a oposição para uma conversa. O PT, por exemplo, apoiaria a aprovação desse projeto. No entanto, FHC analisa o custo-benefício dessa iniciativa e tem negado já a fazer contatos formais com a oposição.
Se o presidente conseguir fechar logo o acordo, provocando uma queda significativa do dólar, pode amenizar a necessidade de entendimento com a oposição e argumentar que, mais uma vez, foi um bom gerente da crise. A campanha de Serra tem dúvida quanto ao efeito de uma costura com a oposição, pois teme que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Ciro Gomes (PPS) saiam ganhando mais do que o tucano.
O que existe hoje é um bom clima entre FHC e a cúpula do PT, pois ambos identificam em Ciro um adversário perigoso. Mas os petistas também não dão corda a um eventual acordo entre governo e oposição. Lula tem dito que, se convidado, se encontra com FHC. Conversa com o FMI, só em caso de ser eleito.
Segundo Parente, um eventual diálogo de FHC com a oposição deve esperar um momento certo: "O presidente FHC estará sempre disposto a fazer aquilo que for importante para o país e para que a gente possa concluir essa transição da melhor forma possível, com o mercado funcionando em caráter de maior normalidade".

Acordo
As negociações para o novo acordo do FMI com o governo brasileiro "caminham bem e com senso de urgência", afirmou o ministro Pedro Parente.
De acordo com o ministro, o governo está confiante nas negociações em Washington, mas bastante cuidadoso em razão do mercado, que seria sensível ao "que se fala e não se confirma". Ele não falou em prazos para a conclusão do acordo, mas declarou que, "pelas coisas que sei e ouvi, tudo está caminhando nesse processo normal de discussões".
Sobre o problema de escassez das linhas de financiamento para o país, o ministro afirmou não haver nenhuma negociação especial, mas que a questão-chave no momento é a expectativa do mercado. "Infelizmente, por um surto de irracionalidade, o mercado foi a R$ 3,60. Hoje [ontem", apenas pelas declarações positivas, pelas discussões concretas que estão acontecendo com o Fundo, foi a R$ 3,03", afirmou.



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