São Paulo, sábado, 03 de agosto de 2002

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Ciro descarta assinar acordo antes de eleição

OTÁVIO CABRAL
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

O candidato da Frente Trabalhista à Presidência, Ciro Gomes, descartou ontem a possibilidade de participar de qualquer pacto para garantir a governabilidade do final do mandato de Fernando Henrique Cardoso. Ciro disse que não assinará acordo ou carta de intenções com o Fundo Monetário Internacional antes da eleição.
Segundo Ciro, se ele se comprometer com qualquer movimento que vise manter o atual sistema econômico, estará traindo o seu eleitorado, que é de oposição e deseja modificar totalmente os rumos da economia na era FHC.
"Se assumisse isso [o pacto de governabilidade" estaria malversando uma imensa expressão de vontade de mudança que vejo no país", declarou ontem em Salvador, onde passou o dia em campanha ao lado do ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL). "Sou candidato de oposição. De oposição a esse modelo econômico que nos oprime."
O candidato trabalhista criticou as conversas entre o PT e o governo para a aprovação de uma medida provisória que regule as ações do mercado financeiro. "É absolutamente inusitado, esdrúxulo mesmo, que candidatos que nem sabem se vão dormir já comecem a armar as redes."
A possibilidade de conversar com dirigentes do FMI para assinar um acordo de ajuda econômica ao Brasil que dure até 2003 também foi criticada. Para ele, a responsabilidade de assinar acordos e tratados internacionais é do atual governo. Se ele for eleito, aí poderá firmar novos acordos e cumprir ou não os que foram acertados no mandato anterior.
Disse, porém, que nada fará para prejudicar os entendimentos entre o Brasil e o FMI: "Confio no espírito público dos negociadores brasileiros. Seria a última pessoa a atrapalhar um entendimento que viesse para consertar o desastre produzido pelo atual governo".
O presidenciável jogou toda a culpa pela crise econômica que o país atravessa em FHC e seus aliados, principalmente José Serra. Para ele, a oposição não pode ser responsabilizada pela crise.
"O candidato oficial, desesperado, começa a semear boatos sobre a oposição para, usando o destino do país, tentar mudar uma equação de impopularidade que eles mesmos produziram." Serra, para Ciro, também é responsável pelo atual desgaste econômico.
Criticou editorial do jornal "Washington Post", que culpa a oposição pela crise: "Sou um homem prudente, mas sempre que a prudência põe em xeque a soberania nacional, eu fico com a guarda da soberania nacional".
Embora negue estar preocupado em agradar o mercado, Ciro admitiu modificar alguns pontos polêmicos de seu programa de governo, como o que prevê a convocação de eleições em caso de crise sistêmica, que, segundo ele, nem está no programa, mas em um livro que escreveu em 95 ao lado de Roberto Mangabeira Unger: "Não sou FHC, não vou pedir que esqueçam o que escrevi e o que falei. Mas nem tudo que escrevi estará em meu programa".



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