São Paulo, quarta-feira, 03 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/A LISTA DE VALÉRIO

Repasses a sócia de publicitário somam R$ 15,5 mi, todos em 2003; segundo funcionária da SMPB, saques eram realizados por dois policiais civis de MG

Agência de Duda sacou em ano não-eleitoral

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O total de recursos do suposto esquema de caixa dois transferido pelo empresário Marcos Valério para a publicitária Zilmar Fernandes da Silveira -sócia de Duda Mendonça-, representa cerca de 50% a mais do valor declarado ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) como pagamentos aos marqueteiros por serviços prestados na campanha eleitoral de 2002.
O objetivo dessas transferências do caixa dois, que totalizaram R$ 15,5 milhões, não foi esclarecido pela gerente administrativa da SMPB, Simone Reis Vasconcelos, em seu depoimento de anteontem à Polícia Federal.
As datas dos repasses são todas de um ano não-eleitoral, 2003. Mais da metade dos pagamentos se deu entre fevereiro e abril daquele ano (R$ 10 milhões), um ano e três meses antes da disputa eleitoral de 2004.
Duda Mendonça, que hoje divide com outras duas agências o contrato de publicidade da Presidência, atuou na campanha de Lula por meio da empresa CEP (Comunicação e Estratégia Política), da qual Zilmar é sócia.
De acordo com a prestação de contas enviada ao TSE, a CEP atuou em cinco campanhas eleitorais em 2002. Os valores declarados ao TSE foram os seguintes: Lula a presidente, com R$ 8,9 milhões; José Genoino (PT), ao governo de São Paulo, R$ 150 mil; Benedita da Silva (PT), ao governo do Rio, R$ 1,2 milhão; Aloizio Mercadante (PT), ao Senado por São Paulo, R$ 50 mil; e Adhemar de Barros Filho (PP), a deputado federal por São Paulo, R$ 65 mil.
Os valores agora revelados por Valério colocam em xeque uma nota pública divulgada por Zilmar no último dia 21, quando a CPI dos Correios divulgou o primeiro repasse à publicitária, no valor de R$ 250 mil. Em nota, Zilmar disse que sua empresa recebera apenas R$ 500 mil, por suposto trabalho realizado para o Diretório Nacional do PT.
De acordo com o depoimento prestado anteontem à Polícia Federal, em Brasília, pela gerente administrativa de Valério, Simone Vasconcelos, os saques destinados à sócia de Duda eram realizados por dois policiais civis de Minas Gerais, David Rodrigues Alves e Luiz Costa Lara.
No depoimento que prestou à Polícia Federal de Minas Gerais, David Alves disse que entregava o dinheiro a Cristiano Paz, sócio de Marcos Valério. O policial Lara afirmou que o dinheiro que sacou ficou sob responsabilidade de um taxista que morreu meses depois.
Entre os supostos responsáveis por receber os repasses, além de Zilmar, do próprio Duda e dos policiais, aparece na planilha de Valério o nome de Antônio Kalil Cury, que é diretor financeiro da Duda Mendonça Associados.
Além das campanhas eleitorais de 2002, o marqueteiro Duda Mendonça também organizou a festa da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. O PT divulgou, à época, que a festa custou cerca de R$ 1,5 milhão.
Em depoimento prestado à Procuradoria Geral da República, o ex-tesoureiro nacional do PT e ex-tesoureiro da campanha eleitoral de Lula, Delúbio Soares, afirmou que dois empréstimos avalizados pelo publicitário Marcos Valério, no valor de R$ 5,4 milhões, foram tomados pelo partido para custear gastos com a transição de governo e com a festa da posse. Assim, esses gastos não estariam incluídos no suposto caixa dois.

PTB
A planilha entregue à Polícia Federal pela funcionária de Marcos Valério, Simone Reis Vasconcelos, atribui R$ 3,8 milhões a pessoas ligadas ao PTB. Em entrevistas à Folha, o ex-presidente nacional do PTB Roberto Jefferson (RJ) havia dito que a sigla recebera R$ 4 milhões do PT, como parte de um acordo para apoio mútuo nas eleições de 2004.
De acordo com a planilha, receberam recursos o tesoureiro informal do PTB, Emerson Palmieri (R$ 2,46 milhões), ex-diretor da Embratur, Jair dos Santos (R$ 1 milhão), ex-motorista do ex-presidente nacional da sigla, José Carlos Martinez, morto num acidente aéreo, e o deputado federal de Minas Gerais Romeu Queiroz (R$ 350 mil).
(RUBENS VALENTE E MARTA SALOMON)


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