São Paulo, quinta-feira, 03 de agosto de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JANIO DE FREITAS

Presidente-candidato


Deformidades institucionais e políticas trazidas e agravadas pelo direito de reeleiçãonão têm conta nem fim

UMA SITUAÇÃO especial: a Câmara foi paralisada, nos três dias em que os deputados fazem a gentileza de interromper suas atividades eleitoreiras, por causa de uma candidatura alheia a todos eles. A de Lula.
O PT e seus aliados determinaram-se a impedir a votação do reajuste de 16,5% para aposentadorias superiores ao salário mínimo. Os oposicionistas determinaram-se a não admitir os 5% de reajuste fixados pelo governo. Nos jornais e telejornais, a responsabilidade pelo impasse imobilizador da Câmara, no que deveria ser o seu "esforço concentrado", é atribuída a um dos lados segundo a preferência pelos governistas ou pelos oposicionistas. Tanto faz.
A inutilidade das sessões decorre de que Lula não quer o ônus eleitoral de vetar, como lhe caberia, o melhor reajuste, a que o seu governo se opõe. Não é o presidente no exercício de seus atribuições, é o candidato estendendo à Câmara os males presidenciais de suas conveniências eleitoreiras.
As deformidades institucionais e políticas trazidas, umas, e agravadas, outras, pelo direito de reeleição não têm conta nem fim. A cada dia constata-se mais uma, como já se fizera na reeleição de Fernando Henrique. Bem, de uma inovação nascida sob o signo do voto comprado, não se poderia esperar conquistas de decência. Mas é graças aos sanguessugas que as atenções estão desviadas para o Congresso, ou, sem eles, a mistura desabrida de Presidência e candidatura de Lula já estaria gerando uma crise complicada. Cuja possibilidade, aliás, não está eliminada.

Como sempre
O aviso do ministro Guido Mantega de que o governo reagirá a abusos nos aumentos de preços, incentivando importações, lembra uma pergunta: você já notou que o dólar caiu muito e os preços dos importados não caíram nada? Muitos até aumentam seguidamente, a pretexto da inflação que o dólar minguado mais do que compensa.
Ou seja, a queda do dólar não foi repassada ao consumidor: transformou-se em aumento do lucro dos importadores e do comércio (caso de constatação diária nos supermercados). E quando o dólar voltar a um valor menos circunstancial, servirá de motivo para aumento de preço das importações em geral.

De volta
Na "carta ao povo de São Paulo" com que se lança candidato, Antonio Palocci entra pelo ridículo, com a explicação de que sua queda foi provocada por "uma crise política que chegou ao ministério". Não lhe basta o ridículo do motivo real.


Texto Anterior: Petista citará em jantar perspectivas de investimentos para seduzir empresários
Próximo Texto: Ex-procurador é acusado de passar informação a Vedoin
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.