São Paulo, quarta, 3 de setembro de 1997.



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'GRITO DOS EXCLUÍDOS'
Afirmação é reação a crítica feita pelo presidente
Bispo diz que FHC sofre da 'petulância do intelectual'

LUIS HENRIQUE AMARAL
da Reportagem Local

O coordenador da Pastoral Social da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), d. Demétrio Valentini, afirmou ontem que o presidente Fernando Henrique Cardoso sofre da "petulância do intelectual".
Foi uma resposta à afirmação que FHC fez em entrevista coletiva anteontem. O presidente disse que a solução dos problemas sociais não sairá da "batina".
"Lembro que nós não usamos mais batina", ironizou o bispo.
FHC se referia ao "3º Grito dos Excluídos", protesto que acontecerá no dia 7 e é organizado pela CNBB, pela CUT (Central Única dos Trabalhadores), pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e pela Central de Movimentos Populares.
A crítica de FHC também atingiu o "boné" do MST. "Perdem tempo os que pensam tirar da cartola ou da batina ou do boné a solução social, porque a solução social não é mágica, depende de um compromisso efetivo de vida, de consciência de trabalho", disse.
O presidente afirmou ainda que o Dia da Independência não deve ser uma "data de desunião".
Cartão Vermelho
Para d. Demétrio Valentini, as críticas do presidente têm o objetivo de "desautorizar" os questionamentos da igreja. "Se, com essas críticas, Fernando Henrique quer prescindir da igreja, ele está caindo em um grande engano, provavelmente causado pela petulância do intelectual", afirmou.
O bispo ressaltou que o "grito" tem caráter de "união": "O que queremos é unir e integrar todos dentro da pátria".
Ainda sobre as críticas de FHC, d. Demétrio afirmou que o "grito" não será um protesto contra o presidente. "Trata-se uma iniciativa da CNBB que recebeu a adesão das outras entidades. O objetivo é questionar toda a sociedade."
O dirigente nacional do MST João Pedro Stedile disse ontem que o presidente Fernando Henrique fez uma "provocação deselegante" à Igreja Católica ao afirmar anteontem que a solução dos problemas sociais não sairá "da batina".
Quanto à afirmação de FHC segundo a qual a solução não sairia "do boné", Stedile afirmou que ela "também não vai sair da varinha mágica de um príncipe".
Segundo Stedile, o Dia da Pátria é de "todos os brasileiros", e o objetivo do ato será "discutir os problemas da pátria".
Para ele, "um desses problemas" é a política do governo: "Por isso daremos um cartão vermelho para o presidente".



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