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São Paulo, quarta-feira, 03 de setembro de 2003

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QUESTÃO AGRÁRIA

Rossetto cita falta de "sintonia" e nomeia amigo para o cargo

Desgastado depois de invasões, presidente do Incra é demitido

Rose Brasil/Agência Brasil
O ministro Miguel Rossetto (à esq.) cumprimenta o economista Rolf Hackbart, que assume o Incra


JOSÉ ALBERTO BOMBIG
ENVIADO ESPECIAL E A BRASÍLIA

O ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, anunciou ontem a troca do geógrafo Marcelo Resende, 34, pelo economista Rolf Hackbart, 45, no posto de presidente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).
A demissão de Resende, desgastado após 171 invasões de terra nos oito meses deste ano, foi justificada como parte de um ajuste técnico, mas o próprio Rossetto afirmou que, com a escolha de Hackbart, seu amigo, buscará "afinar" o discurso entre o ministério e o instituto.
"Fazem parte de um processo de gestão pública os ajustes, as sintonias mais claras, o padrão mais afinado. É exatamente isso que nós estamos buscando", disse o ministro do Desenvolvimento Agrário. "Que bom que esse companheiro, com a sua competência, também é meu amigo."
O governo federal espera também abrir um novo canal de diálogo com empresários rurais e movimentos de trabalhadores sem terra.
Ligado ao PT gaúcho, Hackbart trabalhou, durante o governo de Olívia Dutra, no BRDE (Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul), controlado por Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, onde travou contato com empresários e trabalhadores rurais. Atualmente, ele, que deverá assumir o cargo na próxima semana, trabalha na liderança do partido no Senado.

Padrão de ajuste
Ao anunciar a substituição, Rossetto negou atritos com Resende. "Não há nada que desabone, que desrespeite o trabalho dedicado do presidente Marcelo. O que nós estamos buscando é um padrão de ajuste", disse.
A Folha procurou Resende ontem, mas foi informada por seus assessores de que ele só comentaria a demissão hoje, em entrevista que deverá acontecer à tarde.
Resende foi indicado para o cargo pela CPT (Comissão Pastoral da Terra), da Igreja Católica, e possui estreitos vínculos com o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Entre as principais críticas à gestão de Resende à frente do Incra -responsável pela parte operacional da reforma agrária- está a de que ele "aparelhou" as superintendências regionais do instituto com dirigentes ligados ao MST, o que contrariou os ruralistas e os demais movimentos de trabalhadores sem terra.
Apesar de ter enfatizado a necessidade de "ajuste" e "sintonia", Rossetto afirmou que os superintendentes regionais do Incra, a equipe formada por Resende, não serão trocados. "Todos serão mantidos", disse o ministro.
O compromisso também foi assumido pelo novo presidente. "Nós seremos cobrados pela eficácia da execução do programa de reforma agrária. Todos têm carteira de identidade brasileira, são lutadores da reforma agrária", disse Hackbart.

Diálogo
No entanto, ao reiterar seu compromisso com a reforma agrária, único antídoto, segundo ele, contra a violência no campo, o novo presidente do Incra adotou um discurso sobre economia e produtividade.
"A reforma agrária é parte do plano de desenvolvimento econômico e social deste país. Não é uma mera política social", afirmou Hackbart.
Na tentativa de cumprir o compromisso assumido pelo governo de assentar 60 mil famílias neste ano, Hackbart prometeu intensificar as negociações. "Vou ampliar o diálogo. Este é o governo do diálogo", disse.


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