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BASTIDOR
Presidente pede menos ideologia e mais trabalho
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Decidido a acelerar a implantação da reforma agrária, o presidente Lula autorizou o ministro Miguel Rossetto a discutir
com estatais e bancos oficiais a
hipótese de cederem terras de
sua propriedade para o assentamento de lavradores. O Banco do Brasil chegou a formular
uma lista de fazendas que, recebidas em pagamento de dívidas de credores inadimplentes,
poderia servir a esse propósito.
Súbito, para surpresa da direção do BB, algumas das propriedades listadas começaram
a ser invadidas por integrantes
do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Levado ao conhecimento do
Planalto, o episódio foi visto
como demonstração prática
dos efeitos do "aparelhamento" da máquina administrativa
do setor agrário, posta a serviço
dos movimentos sociais.
A demissão de Marcelo Resende marca o início do "desaparelhamento" do Incra. Seu
afastamento foi decidido pessoalmente por Lula e imposto
ao ministro Miguel Rossetto
(Desenvolvimento Agrário),
que o engoliu a contragosto.
Resende não agia só. Movia-se sob aplausos de Rossetto,
que o havia recrutado em Minas Gerais graças justamente à
simpatia que nutre pelo MST.
Com a aprovação do ministro,
loteou os cargos de direção do
Incra entre MST, Contag, CUT
e Pastoral da Terra. Lula quer
agora "desintoxicar" a área.
A palavra foi empregada por
um auxiliar do presidente. Significa que, para o Planalto, o
melhor é repor a discussão em
torno da reforma agrária em
trilhos técnicos. Superintendentes estaduais do Incra que
não se afinem com os novos
objetivos serão afastados.
A decisão do presidente sinaliza para outras áreas. Lula quer
menos barulho e mais ação.
Menos ideologia e mais trabalho. Vai ao lixo, por exemplo,
documento preparado no final
de julho por um grupo de trabalho constituído por Rossetto
e supervisionado por Resende.
Trata da reformulação do Incra. Anota coisas assim: "Requer-se uma revolução organizativa, e nada menos que uma
revolução". Lula disse a um auxiliar que o essencial não é promover "revoluções". Se o governo conseguir assentar trabalhadores rurais em atmosfera de tranquilidade, dando-lhes crédito e infra-estrutura, já
estará cumprindo o seu papel.
A penúria financeira conspira contra os objetivos do presidente. O governo esperava assentar 60 mil famílias em 2003.
Acha que chegará, no máximo,
a 7.000 famílias. A meta é incerta mesmo para 2004. No papel,
só há dinheiro para assentar 25
mil famílias no ano que vem.
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