UOL

São Paulo, quarta-feira, 03 de setembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BASTIDOR

Presidente pede menos ideologia e mais trabalho

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Decidido a acelerar a implantação da reforma agrária, o presidente Lula autorizou o ministro Miguel Rossetto a discutir com estatais e bancos oficiais a hipótese de cederem terras de sua propriedade para o assentamento de lavradores. O Banco do Brasil chegou a formular uma lista de fazendas que, recebidas em pagamento de dívidas de credores inadimplentes, poderia servir a esse propósito.
Súbito, para surpresa da direção do BB, algumas das propriedades listadas começaram a ser invadidas por integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Levado ao conhecimento do Planalto, o episódio foi visto como demonstração prática dos efeitos do "aparelhamento" da máquina administrativa do setor agrário, posta a serviço dos movimentos sociais.
A demissão de Marcelo Resende marca o início do "desaparelhamento" do Incra. Seu afastamento foi decidido pessoalmente por Lula e imposto ao ministro Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), que o engoliu a contragosto.
Resende não agia só. Movia-se sob aplausos de Rossetto, que o havia recrutado em Minas Gerais graças justamente à simpatia que nutre pelo MST. Com a aprovação do ministro, loteou os cargos de direção do Incra entre MST, Contag, CUT e Pastoral da Terra. Lula quer agora "desintoxicar" a área.
A palavra foi empregada por um auxiliar do presidente. Significa que, para o Planalto, o melhor é repor a discussão em torno da reforma agrária em trilhos técnicos. Superintendentes estaduais do Incra que não se afinem com os novos objetivos serão afastados.
A decisão do presidente sinaliza para outras áreas. Lula quer menos barulho e mais ação. Menos ideologia e mais trabalho. Vai ao lixo, por exemplo, documento preparado no final de julho por um grupo de trabalho constituído por Rossetto e supervisionado por Resende.
Trata da reformulação do Incra. Anota coisas assim: "Requer-se uma revolução organizativa, e nada menos que uma revolução". Lula disse a um auxiliar que o essencial não é promover "revoluções". Se o governo conseguir assentar trabalhadores rurais em atmosfera de tranquilidade, dando-lhes crédito e infra-estrutura, já estará cumprindo o seu papel.
A penúria financeira conspira contra os objetivos do presidente. O governo esperava assentar 60 mil famílias em 2003. Acha que chegará, no máximo, a 7.000 famílias. A meta é incerta mesmo para 2004. No papel, só há dinheiro para assentar 25 mil famílias no ano que vem.


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: MST e CPT dizem que demissão é "traição"
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.