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QUESTÃO AGRÁRIA
Entidades criticam governo e afirmam que exoneração de Marcelo Resende do Incra é vitória dos "ruralistas"
MST e CPT dizem que demissão é "traição"
EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA
Tanto o MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra)
como a CPT (Comissão Pastoral
da Terra) rotularam a demissão
de Marcelo Resende da presidência do Incra como uma "traição"
do governo federal e do Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Para eles, foi uma vitória do "latifúndio", dos "ruralistas" e da "reforma agrária de mercado".
Os sem-terra e o braço agrário
da Igreja Católica já avisaram o
novo presidente do órgão, Rolf
Hackbart, que ele não terá o apoio
das entidades. "O Rolf foi bastante advertido do passo em falso que
daria. Ele assume consciente de
que não tem o apoio das entidades populares. Ele foi avisado, por
isso dispensa as nossas solidariedade e participação", disse o presidente nacional da CPT, dom Tomás Balduíno.
Hoje pela manhã integrantes da
coordenação e da direção nacional do MST se reúnem em São
Paulo para avaliar a situação pós-demissão de Resende. À tarde, devem conceder entrevista coletiva
ou divulgar nota. Ontem, eles preferiram não comentar publicamente a demissão.
"O fato de o Rossetto demitir já
vem de longa data. Ele tentou camuflar na forma de incompatibilidade pessoal, mas hoje [ontem]
está mais do que evidente que é
uma divergência política. Uma divergência sobre a política de reforma agrária", disse dom Tomás.
Segundo o presidente da CPT, a
demissão está diretamente ligada
à pressão de setores conservadores do Congresso. "[A demissão
de Resende] foi uma traição ou
quem sabe uma ajuda no sentido
das reformas [tributária e previdenciária], das alianças [com
PMDB e parte do PP]. Mas é um
golpe profundo, muito grave, naquilo que era o clamor do povo
em torno do candidato Lula e de
sua vitória", afirmou.
Historicamente divergente da
linha do MST, a Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) reagiu com
indiferença sobre a queda de Resende. "Acho [a demissão] uma
coisa normal num Executivo que
tem seus subordinados. Caso o
governo avalie que as políticas
não estão funcionando, pode
substituir para adequar. Se for para ajudar, acho que foi necessária", disse o presidente da entidade, Manoel José dos Santos.
A Contag tem hoje o comando
da Secretaria de Reforma Agrária
do ministério. Comandada por
Eugênio Peixoto, antigo quadro
da Contag, a secretaria gere os
programas de crédito fundiário.
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