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São Paulo, quarta-feira, 03 de setembro de 2003

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QUESTÃO AGRÁRIA

Entidades criticam governo e afirmam que exoneração de Marcelo Resende do Incra é vitória dos "ruralistas"

MST e CPT dizem que demissão é "traição"

EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA

Tanto o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) como a CPT (Comissão Pastoral da Terra) rotularam a demissão de Marcelo Resende da presidência do Incra como uma "traição" do governo federal e do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Para eles, foi uma vitória do "latifúndio", dos "ruralistas" e da "reforma agrária de mercado".
Os sem-terra e o braço agrário da Igreja Católica já avisaram o novo presidente do órgão, Rolf Hackbart, que ele não terá o apoio das entidades. "O Rolf foi bastante advertido do passo em falso que daria. Ele assume consciente de que não tem o apoio das entidades populares. Ele foi avisado, por isso dispensa as nossas solidariedade e participação", disse o presidente nacional da CPT, dom Tomás Balduíno.
Hoje pela manhã integrantes da coordenação e da direção nacional do MST se reúnem em São Paulo para avaliar a situação pós-demissão de Resende. À tarde, devem conceder entrevista coletiva ou divulgar nota. Ontem, eles preferiram não comentar publicamente a demissão.
"O fato de o Rossetto demitir já vem de longa data. Ele tentou camuflar na forma de incompatibilidade pessoal, mas hoje [ontem] está mais do que evidente que é uma divergência política. Uma divergência sobre a política de reforma agrária", disse dom Tomás.
Segundo o presidente da CPT, a demissão está diretamente ligada à pressão de setores conservadores do Congresso. "[A demissão de Resende] foi uma traição ou quem sabe uma ajuda no sentido das reformas [tributária e previdenciária], das alianças [com PMDB e parte do PP]. Mas é um golpe profundo, muito grave, naquilo que era o clamor do povo em torno do candidato Lula e de sua vitória", afirmou.
Historicamente divergente da linha do MST, a Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) reagiu com indiferença sobre a queda de Resende. "Acho [a demissão] uma coisa normal num Executivo que tem seus subordinados. Caso o governo avalie que as políticas não estão funcionando, pode substituir para adequar. Se for para ajudar, acho que foi necessária", disse o presidente da entidade, Manoel José dos Santos.
A Contag tem hoje o comando da Secretaria de Reforma Agrária do ministério. Comandada por Eugênio Peixoto, antigo quadro da Contag, a secretaria gere os programas de crédito fundiário.


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