São Paulo, sexta-feira, 03 de setembro de 2004

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DESINTEGRAÇÃO NACIONAL

Presidente erra na conta ao dizer que "parte mais rica do país" influencia políticos do Norte e do Nordeste

Bancada nordestina defende o Sul, diz Lula

Sérgio Lima/Folha Imagem
Lula cumprimenta o ministro Ciro Gomes, no Palácio do Planalto


EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em discurso na abertura de reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social sobre desenvolvimento regional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esboçou uma crítica às bancadas do Norte e do Nordeste no Congresso, mas errou nas contas que embasavam seu raciocínio.
"É uma coisa contraditória. Vocês percebem que nem tudo é resolvido pela maioria, porque, se for fazer o somatório no Congresso, você vai perceber que a maioria dos congressistas é do Norte e do Nordeste. E dizem que eles próprios acusam que a maioria das políticas é para ajudar o Sul e o Sudeste. Então, significa que tem muito deputado do Norte e do Nordeste votando nas políticas do Sul e do Sudeste e não votando nas do Nordeste. E por que predomina isso? Por causa do poder de pressão, dos interesses da parte mais rica do país", declarou o presidente em seu discurso.
Ao contrário do que disse Lula, porém, as bancadas do Sul e do Sudeste no Congresso Nacional são mais numerosas que as do Norte e do Nordeste: as primeiras contam com 277 parlamentares (256 deputados federais e 21 senadores); as segundas, com 264 (216 deputados e 48 senadores). Sul e Sudeste levam vantagem na Câmara; Norte e Nordeste, no Senado. Ao todo, o Congresso tem 513 deputados e 81 senadores.

Desenvolvimento regional
A reunião de ontem do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social tratou de políticas nacionais de desenvolvimento regional. Antes de falar, Lula ouviu uma explanação de 45 minutos feita pelo ministro Ciro Gomes (Integração Nacional), que mostrou mapas e dados nos quais indicou a necessidade de um direcionamento de investimentos para as regiões Norte e Nordeste.
Para o presidente, "cheira a irracionalidade" as regiões mais desenvolvidas do país (Sul e Sudeste) disputarem verbas de desenvolvimento com Centro-Oeste, Norte e Nordeste.
Logo no início de seu discurso, Lula tocou no tema: "Vira e mexe eu vejo na imprensa uma divergência que me cheira a irracionalidade, ou seja, vira e mexe eu vejo o Sul ou o Sudeste do país brigando pelo dinheiro do desenvolvimento para o Norte, para o Nordeste ou para o Centro-Oeste, como se fosse a mesma coisa".
Lula disse que o Sul e o Sudeste, "por "n" fatores", já tiveram vantagens comparativas e contam hoje com melhores profissionais, estradas e universidades.
Depois disso, o presidente buscou evitar que suas declarações causassem polêmica com governadores e prefeitos.
"Então, eu acho normal que cada um tente, o governador, brigar pelo seu Estado; o prefeito, brigar pela sua cidade; mas nós temos que brigar pelo país. Quando eu era dirigente sindical, meu único interesse eram os metalúrgicos. O mundo, para mim, resumia-se aos metalúrgicos. Agora, que eu sou presidente, o mundo se resume ao Brasil", acrescentou.


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