São Paulo, sábado, 03 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PRESIDENTE NA MIRA

Relator da CPI dos Correios afirma que impeachment só não entrou em pauta devido à proximidade das eleições presidenciais

Calendário favorece Lula, diz Serraglio

MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

O relator da CPI dos Correios, Osmar Serraglio (PMDB-PR), disse ontem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva só escapou de enfrentar um processo de cassação do mandato até agora porque, se fosse iniciado, sua conclusão poderia coincidir com a campanha eleitoral do próximo ano.
"Se o Congresso fosse partir para o julgamento político do presidente, demoraria até quase o tempo das eleições. Então, por que uma ruptura anormal [do poder], quando é possível uma alteração normal? Não atropelar o impeachment agora é uma opção política", afirmou.
A declaração foi feita no aeroporto Afonso Pena, entre um vôo vindo de Brasília e outro que seguia a Maringá (PR), na região de Umuarama, onde mora o relator. "Não quero dizer que ele [Lula] perca [em 2006, caso se candidate à reeleição], mas ninguém melhor que a população para dar rumo político [ao presidente]."
Antes de fazer essa análise, o relator ressalvou que não estava dizendo que o presidente Lula tenha envolvimento direto no escândalo que atinge o PT, partidos aliados e o governo, mas que a falta de provas não o exime do risco de ser cassado. "Ainda que ele tivesse envolvimento direto, não há clima para o impeachment na opinião pública. Se houver o clima, ele pode ser cassado."
Serraglio disse que um eventual impedimento de Lula parte de um "juízo [de valor] político e não se firma na prova material". Para o relator, só o descrédito do presidente já seria razão para o Congresso ""tomar uma conduta mais drástica" para assegurar a estabilidade da instituição governo.

Severino
O relator ainda disse que a cassação do mandato de Lula interessa apenas à oposição, mas que ela tem consciência de que, se conseguisse destituir o presidente, não ascenderia ao poder, que "continuaria na situação". Em caso de impedimento de Lula, o vice José Alencar e o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), substitutos na ordem direta, são aliados do PT no poder.
O relator voltou a ser duro nas referências a Severino, que defendeu punições brandas aos 18 deputados que Serraglio relacionou como passíveis de cassação por evidências de se beneficiar ou agenciar o valerioduto.
"Há ameaças no ar e quem tem rabo preso tem que se cuidar. E a gente não sabe quem tem rabo preso. Aí aparece alguém dizendo que o [deputado federal José] Janene, [do PR, líder do PP] vai abrir a caixa-preta; que o Roberto Jefferson vai abrir a caixa-preta. Aí você não sabe se o Severino está ou não cativo a isso."
Serraglio também reagiu à queixa do ex-ministro José Dirceu de que o relator faltou com decoro parlamentar e que o prejulgou. "O que eu fiz para ter faltado com o decoro? Ele não diz."
Disse também que as novas revelações que Jefferson ameaça fazer no plenário da Câmara, quando da votação de sua cassação, não alteram o relatório que assinou com o relator da CPI do Mensalão, Ibrahim Abi-Ackel (PP).


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