São Paulo, sábado, 03 de setembro de 2005

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NOVAS CONEXÕES

Promotores apuram se PT desviou dinheiro em BH para pagar Duda

THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O Ministério Público de Minas Gerais investiga possível relação entre o caixa dois montado pelo PT no governo Luiz Inácio Lula da Silva e o suposto desvio de recursos públicos do projeto de vigilância eletrônica Olho Vivo, da prefeitura petista de Belo Horizonte. Uma das suspeitas é que parte do dinheiro do projeto tenha irrigado o caixa dois do PT e pagado dívidas com o publicitário Duda Mendonça no exterior.
O elo entre os fatos em apuração é o empresário mineiro Glauco Diniz Duarte, ex-diretor da CDL-BH (Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte), entidade que administra os recursos do projeto Olho Vivo. Além de signatário dos convênios do projeto pela CDL-BH, Duarte é dono da GD International Corp, empresa com sede em Pompano Beach, na Florida (EUA), e que remeteu dinheiro para uma conta de Duda Mendonça na Dusseldorf Company, uma offshore (empresa em que os sócios não são identificados) no paraíso fiscal das Bahamas.
Entre as 40 transferências que Duda comprovou documentalmente ter recebido na conta da Dusseldorf, quatro foram intermediadas pela GD International Corp (atual Gedex Inter Corp). Os depósitos, feitos em julho e agosto de 2003, somam US$ 269.923 -cerca de R$ 630 mil, ao câmbio de ontem. Um comerciante brasileiro vizinho da empresa disse à reportagem que ela fechou as portas há duas semanas.
Em depoimento à CPI dos Correios, Duda disse ter recebido, por meio da Dusseldorf, R$ 10,5 milhões de caixa dois do PT, como pagamento de dívidas da campanha de 2002. Disse ainda que, pelos serviços prestados ao PT nas eleições municipais de 2004, que incluíram a campanha do prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, restou um débito de R$ 14,7 milhões. A Prefeitura de Belo Horizonte diz não ter dívidas de campanha com Duda.
Em maio, a Folha divulgou que uma empresa fantasma -a MF Comercial, de São Paulo- forneceu pelo menos R$ 1,2 milhão em equipamentos importados para o projeto Olho Vivo. Para a Promotoria, eles foram contrabandeados e comprados por um valor ainda menor do que o registrado na nota fiscal, que era falsa.
O Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) já detectou movimentações expressivas de recursos por parte de Duarte e de Marco Antônio Wardil Júnior, procurador da MF Comercial, apurou a Folha. O Ministério Público pediu a quebra dos sigilos bancário e fiscal deles.
Lançado em dezembro de 2004, o projeto de vigilância por câmeras é destaque da gestão Pimentel. Dos repasses de R$ 14,7 milhões da prefeitura para a entidade dos lojistas previstos no primeiro convênio do projeto, assinado em janeiro de 2004, houve transferência de R$ 4,4 milhões, em três parcelas do ano passado. Os repasses foram suspensos após a revelação de indícios de irregularidades.
Apesar de os depósitos da GD para Duda terem sido feitos em 2003, portanto antes da assinatura do convênio do Olho Vivo, a Promotoria não descarta a hipótese de que transferências posteriores tenham ocorrido. A suposta conexão entre o caixa dois do PT e o projeto de vigilância é investigada pelo Ministério Público mineiro no inquérito que apura irregularidades no Olho Vivo.


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