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Itamar lança Aécio à Presidência
ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA A BELO HORIZONTE
Em sua primeira entrevista coletiva após deixar a Embaixada do
Brasil em Roma e voltar ao país, o
ex-presidente Itamar Franco criticou ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e lançou o governador Aécio Neves como candidato suprapartidário das "forças
de Minas" à Presidência. Itamar é
do PMDB, e Aécio, do PSDB. Aécio, por sua vez, disse que está
"preparado para ser candidato" e
que a "a sucessão de 2006 passa
obrigatoriamente por Minas".
Segundo Itamar, Lula erra ao
manter no cargo pessoas envolvidas em denúncias de corrupção,
como o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles: "Quando você deixa quistos no governo,
eles acabam dando metástase".
Depois, Itamar especificou à Folha por que lançou Aécio: "Minas
tem que acordar, porque os paulistas estão se mexendo de forma
muito audaciosa. Eles estão ganhando velocidade e, depois, fica
difícil acompanhar", disse, em referência à disputa entre o governador paulista Geraldo Alckmin e
o prefeito paulistano José Serra.
"Minas tem um nome, que é o
do governador. Aécio é um nome
que tem probidade, é um defensor dos direitos humanos e tem
todas as qualificações para ser o
futuro presidente da República."
Indagado pelos jornalistas mineiros sobre a própria candidatura, Itamar contou que foi sondado
anteontem para ser candidato
num telefonema do presidente do
PMDB, deputado Michel Temer
(SP), mas declinou do convite. Ele
deu uma dica sobre o cargo que
pretende disputar em 2006: "Gostei muito de ser senador".
Aécio
Em tom de pré-candidato, o governador mineiro Aécio Neves
disse ontem a sucessão de 2006
passa por Minas: "Estou preparado para ser candidato e para não
ser. Não estou louco para ser candidato, mas também não vejo por
que não ser incluído", afirmou.
Aécio disse que o PSDB não suporta mais imposições de candidaturas e tudo precisa ser negociado. Repetindo o avô, Tancredo
Neves, avisou: "Candidato precisa
ser uma opção natural, senão está
fadado ao fracasso, a uma candidatura que não decola".
Ele julga legítimo que haja mais
de um pretendente no PSDB, mas
disse que é importante ampliar
alianças para fora do partido e
que, ao final, escolhido o nome,
"não haja mágoas e fissuras". O
candidato deve agir de forma a sedimentar apoios e até amizades,
para que os correligionários participem da campanha "com gosto".
"Política também se faz com amizade, com boas conversas, com leveza, com prazer", diz Aécio, satisfeito com a fama de gostar de
festas e de viagens: "Espero que isso conte a favor, não contra".
Na sua opinião, o PSDB cometeu o erro de julgar precipitadamente que Lula já estava reeleito e
agora repete o erro, mas às avessas, pensando que Lula já está
derrotado. Entre os dois extremos, Aécio acha que os tucanos
não devem pensar em candidaturas "nem para perder nem para
ganhar, mas para disputar". Apesar de fragilizado, Lula ainda é um
nome considerável na disputa.
Mais importante que as pesquisas quantitativas, ele acha que são
as qualitativas. São estas que mostram o humor do eleitor, as tendências, as possibilidades, a adequação dos candidatos ao momento. Hoje, as pesquisas dão
Serra como o principal nome tucano para bater Lula. Aécio considera esse dado "relevante", mas
alerta que não é definitivo.
Ele, que trabalha abertamente
pela eleição do senador Tasso Jereissatti (CE) para a presidência
do PSDB em novembro, defendeu
em conversa com o prefeito de
São Paulo, José Serra, que Serra
deveria ser uma espécie de patrono da candidatura do cearense.
Tasso é tradicional adversário
de Serra no partido, mas é considerado "opção natural" para o
cargo. Ao apoiá-lo, o prefeito estaria se prevenindo contra possíveis manchetes assim: "Tasso derrota Serra e ganha a presidência
do PSDB". Serra, porém, tem se
mostrado refratário ao apoio, temendo que Tasso articule o partido contra a candidatura dele.
Para Aécio, o mais importante
agora é "construir pontes" dentro
e fora do PSDB. Ele conversou
com Fernando Henrique Cardoso
na quinta-feira da semana passada, com Alckmin na última terça e
com Serra anteontem. Com Tasso
e com o líder tucano no Senado,
Arthur Virgílio (AM) fala várias
vezes por semana. Fora do PSDB,
Aécio conversou longamente nesta semana com o vice-presidente
José Alencar (PL) e sedimentou
uma boa relação com Itamar.
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