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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ XADREZ PARTIDÁRIO
Vice-presidente sai da legenda por não concordar com a manutenção de Valdemar Costa Neto no comando da sigla; destino é incógnita
Alencar deixa PL e procura novo partido
ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O vice-presidente, José Alencar
(PL), decidiu ontem deixar o PL,
partido ao qual se filiou no fim de
2001, pouco antes de fechar o
acordo para ser vice na chapa que
levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Planalto.
Após comunicar sua decisão ao
presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, Alencar disse
que ainda não tinha uma nova sigla. "Há um tempo para cada coisa", disse a assessores. Ex-peemedebista, ele precisa escolher um
novo partido até o final de setembro, um ano antes das eleições do
próximo ano.
Até dois dias atrás, o vice José
Alencar afirmava que não pretendia mudar de partido, apesar de
garantir que não falaria "dessa
água não beberei".
Alencar começou a analisar sua
saída do PL há alguns meses,
quando denúncias de corrupção e
participação no suposto esquema
do "mensalão" atingiram em
cheio seu partido.
A confissão do presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, de
que recebeu recursos do PT e fez
caixa dois para campanhas eleitorais, desgastaram a imagem da sigla. Após assumir a irregularidade, Valdemar renunciou ao mandato, para fugir da cassação pedida pelo PTB.
Em entrevista, Valdemar chegou a envolver Alencar no acordo
que selou a aliança entre PT e PL.
A negociação, segundo ele, envolveu uma ajuda financeira dos petistas de R$ 10 milhões.
Segundo o presidente do PL, o
PT acabou não fazendo os repasses dos R$ 10 milhões durante a
campanha presidencial, em 2002,
quando Luiz Inácio Lula da Silva
foi eleito. Parte do dinheiro (R$ 6
milhões), segundo Valdemar,
acabou sendo transferido por Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT,
depois da eleição, por meio do
empresário Marcos Valério.
A permanência de Valdemar na
liderança do partido desagradou
o vice-presidente, que tentou negociar uma saída do ex-deputado
do posto. No início da semana, ao
falar de Valdemar, Alencar afirmou que líderes partidários devem se afastar quando cometeram irregularidades, pois "não há
espaço na vida pública para falcatruas". E chegou a ressaltar que é
melhor ser "incompetente do que
ser corrupto".
O PL ainda tem três deputados
federais com pedido de abertura
de processo de cassação aprovado
pelas CPIs do Congresso, a dos
Correios e a do Mensalão -Carlos Rodrigues (RJ), Wanderval
Santos (SP) e Sandro Mabel (GO),
líder da sigla na Câmara dos Deputados.
Mudanças
A saída de José Alencar do PL é
mais uma etapa do troca-troca
partidário, que já provocou a
anunciada transferência do deputado Delfim Netto (PP-SP) para o
PMDB. Por sinal, é no PP do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PE), que a debandada
promete ser maior. Além de Delfim Netto, Pratini de Moraes, ex-ministro da Agricultura de Fernando Henrique Cardoso, se filiou nesta semana ao PFL.
Nas próximas semanas, Ivan
Ranzolin (SC) também deve ir para o PFL. Outros que estudam
convites para mudar de partido
são Ricardo Barros (PR) e Francisco Turra (RS). Barros, ex-líder
do governo FHC, deve se reunir
com o ex-presidente tucano nos
próximos dias para discutir seu
futuro político.
O êxodo de parlamentares e de
lideranças políticas deve atingir
principalmente os partidos da base aliada envolvidos nas investigações do "mensalão". Além de PP,
devem sofrer baixas PL, PTB e o
PT, cujas saídas começarão a ser
deflagradas depois das eleições
diretas marcadas para setembro.
O troca-troca partidário vai se
intensificar agora porque a legislação eleitoral determina que
qualquer mudança de partido só
poderá ocorrer até um ano antes
da eleição.
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