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ELIO GASPARI
O candidato Geraldo Lott Gomes Távora
A delicadeza de Alckmin diante da traição dos tucanos cearenses está mais para
Lula do que para Covas
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O
QUE FALTA AO doutor Geraldo
Alckmin em sua campanha não
é estratégia de marquetagem,
mas idéias de candidato. Quem conseguir enumerar três idéias do tucano capazes de justificar o voto na sua ilustre
pessoa ganha um pretinho da Daslu.
Para quem não consegue lembrar nada, uma boa cola: "Vou trabalhar para
acabar com o vestibular". Não vale dizer que votar nele é votar contra Lula,
pois esse pode ser um ótimo motivo,
mas não forma uma idéia.
Sua plataforma é um bandejão de
platitudes. Coisas assim: "Eu vou aprofundar a inserção internacional do Brasil. E fazer uma defesa intransigente do
mercado brasileiro". Ou ainda: "Tem
de avançar, não pode ir para trás".
A banalidade de Alckmin é produto
da crise intelectual do pedaço do PSDB
que inventou sua candidatura. O humorista Henfil tinha um personagem
chamado Caboclo Mamadô, que chupava o cérebro das pessoas de quem
não gostava. Quem ouve os grão-tucanos à sua volta fica com a impressão de
que eles foram visitados pelo caboclo.
Alckmin também carrega vacuidades
próprias. É uma reedição civil de três
candidatos do século passado: o brigadeiro Eduardo Gomes (1945 e 1950), o
marechal Juarez Távora (1955) e o general Henrique Lott (1960). Três homens a quem se podia entregar a chave
de casa. Tinham passado, faltava-lhes
futuro. Do brigadeiro e de Juarez, ficou
a lembrança de que eram contra Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek. De
Lott, nem isso.
A maneira como Alckmin costurou
as alianças que o tornaram candidato
bem como delicadeza com que trata a
traição do tucanato cearense sugerem
que seu rigor é amplo na retórica e seletivo no cotidiano. Está mais para Lula
do que para Mário Covas.
O tucanato suicidou-se em junho de 2005
É hipócrita e arrogante a
pretensão da cúpula tucana de
se apresentar ao eleitorado
como guardiã da moralidade.
É raro que se possa apontar
momento em que um político
pensa que teve uma grande
idéia e pula do vigésimo andar. Algo como Jânio Quadros, na manhã de 25 de agosto, contemplando a astúcia de
seu golpe: renunciaria à Presidência e seria recolocado no
Planalto pelo povo. Ficou na
rua. Os tucanos danaram-se
na primeira metade de junho
do ano passado, quando fizeram sua opção preferencial
pela hipocrisia elitista. Diante
da notícia de que em 1998 a
campanha de seu presidente,
o senador Eduardo Azeredo,
fizera com o publicitário Marcos Valério o mesmo tipo de
arranjo que ele viria a fazer em
2002 com o PT, o tucanato decidiu impor sua ética à choldra. Durante quatro meses,
mantiveram Azeredo na presidência do partido. Fritaram-no quando viram o tamanho
da besteira cometida, mas era
tarde.
Em vez de anunciar que
limpariam a casa, os tucanos
acreditaram que tinham um
"habeas caixa". Receberam
avisos de que o alto comissariado petista sabia de otras cositas más. Intimidaram-se e,
em diversas ocasiões, sinalizaram que calibrariam seus canhões. Com isso, deram ao PT
o bordão do "somos todos
iguais".
Nas palavras de Jutahy Magalhães, líder do PSDB na Câmara: "Se é para punir caixa
dois, tem que punir todo mundo". Houve nessa frase uma
constatação verdadeira: todos
os candidatos usaram caixa
dois. Infelizmente, ela não se
destinava a acabar com as
malfeitorias, mas a preservar
malfeitores.
O PSDB não é uma tribo de
larápios. Apenas decidiu não
se tornar um partido que combate os malfeitores. Assim como os petistas fazem circular
a lorota segundo a qual suas
bandalheiras destinam-se a
ajudar os pobres, os tucanos
querem fazer crer que as deles, por velhas, fazem parte do
patrimônio histórico nacional.
Greve de placa
Os trabalhadores brasileiros
deveriam mandar botar uma
placa de bronze na entrada do
Sindicato dos Metalúrgicos de
São Bernardo. Diria o seguinte:
"Sendo presidente deste sindicato o metalúrgico José Feijóo, às 21h30 de terça-feira, 30
de agosto de 2006, horas depois
da dispensa de 1.800 operários
da Volkswagen, a porta deste
sindicato estava fechada. Se alguém quisesse saber das novidades, era informado pelo
guardião das duas fechaduras
da portaria que deveria voltar
no dia seguinte.
Era presidente da República
o excelentíssimo senhor Luiz
Inácio Lula da Silva, operário
metalúrgico de 1959 a 1972 e
presidente deste sindicato de
1975 a 1980.
Era ministro do Trabalho o
excelentíssimo senhor Luiz
Marinho. Operário da Volkswagen desde 1978, presidiu este sindicato de 1997 a 2003.
São Bernardo do 173º da Independência, 116º da República, 3º do governo petista."
Registro
Há 50 anos a rede de ensino
superior americana adotou testes de proficiência para selecionar seus calouros. A medida
destinava-se detonar as panelinhas da elite. Passou o tempo e
algumas escolas pequenas, porém prestigiosas, começaram
dispensar os resultados dos testes da lista de qualificações que
abrem suas portas para os candidatos. Fizeram isso primeiro
porque desejam aumentar a diversidade do corpo de alunos.
Depois, porque duvidam dos
testes como medida de desempenho do estudante.
Sem os testes, um processo
de seleção transparente dá um
trabalho danado para a burocracia escolar.
Está tudo lá
O ministro da Justiça, Márcio
Thomaz Bastos, indicou que não
pretende continuar no governo
num segundo mandato de Lula. Se
isso acontecer, começará a contagem regressiva para a publicação
de um dos tesouros documentais
do comissariado de Nosso Guia.
Desde o dia em que chegou a
Brasília em 2003, Thomaz Bastos
manteve um disciplinado diário.
Há um registro para cada dia,
mesmo que seja pequeno. Alguns
deles são longos e reflexivos. Outros mostram um advogado perplexo.
Em geral, quanto melhor o diário, mais ele demora para ser publicado. O de Getúlio Vargas, iniciado em 1930, esperou 65 anos.
O de Heitor Ferreira, secretário
dos presidentes Ernesto Geisel e
João Baptista Figueiredo, bem
como do general Golbery do Couto e Silva, tornou-se parcialmente conhecido 38 anos depois. A
versão integral do diário de JK
passará muito tempo na geladeira, por razões que nada têm a ver
com a política.
FFHH na pista
FFHH posicionou-se para o
trono de maior autoridade a bordo da nau sem rumo do PSDB. Se
quiser, presidirá o partido, mas
pode também ficar na condição
de pajé. O monarca não tem pretensões, senão as biográficas, do
tamanho do sentimento do mundo. Ademais, pode discutir uma
agenda voltada para o interesse
do país, pois conhece os buracos
que deixou na estrada. FFHH e
Lula detestam-se por conta de
seus defeitos e amam-se pelas
virtudes. Exatamente o contrário
do que sucedeu nos grandes embates dos últimos 50 anos. Basta
lembrar fosso que separou Carlos
Lacerda de Getúlio Vargas e de
JK. Ou a barreira que separava
Tancredo Neves e Ulysses Guimarães dos generais da ditadura.
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