São Paulo, quarta, 3 de setembro de 1997.



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ELEIÇÕES
Tucanos atacam governador paranaense, inaugurando mais uma disputa regional dos partidos governistas
Lerner amplia confronto entre PSDB e PFL

CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial


A consequência imediata da passagem de Jaime Lerner do PDT para o PFL, formalizada ontem, é abrir mais uma frente estadual de conflito eleitoral entre PFL e PSDB, os dois principais partidos da base de apoio ao governo Fernando Henrique Cardoso.
Rafael Grecca, o ex-prefeito de Curitiba e uma espécie de braço direito de Lerner, dá a medida do grau de conflito ao dizer que o PSDB paranaense recusou espaço para Lerner no partido por "ódio político".
A principal liderança do PSDB do Paraná, hoje, é o ex-governador Álvaro Dias, derrotado por Lerner na disputa pelo governo estadual em 1994.
O "ódio político" mencionado por Grecca transparece claramente na avaliação que o deputado Luiz Carlos Hauly, do PSDB, faz dos motivos que levaram Lerner a escolher o PFL: "É o filho pródigo que volta à casa. Ele saiu da Arena e volta ao PFL, depois de 13 anos de socialismo moreno", ironiza Hauly, aludindo ao passado de Lerner como prefeito biônico pela antiga Arena e ao rótulo que cercava o PDT.
Hauly atribui a recusa dos tucanos do Paraná em aceitar Lerner não a "ódio político", mas a uma "incompatibilidade absoluta" entre os dois grupos, o dele próprio e de Álvaro Dias, vindos do PMDB, e o de Lerner, ex-arenista.
Escambo
Como líder do terceiro grande grupo político paranaense, o senador Roberto Requião (PMDB) também parte para o ataque a Lerner, seu tradicional rival estadual: "É um escambo (troca)".
O senador diz que o governo Lerner tem financiamentos pendentes de aprovação pelo Senado e tem também o contrato com a montadora francesa Renault à espera de exame pelos senadores.
Sua hipótese é a de que Lerner preferiu um partido forte no Senado, para fazer o "escambo", ou seja, mudar de partido em troca da aprovação dos financiamentos e do contrato. O grupo Lerner nega com ênfase e até indignação.
Rafael Grecca diz que Lerner e aliados deixaram o PDT porque o partido "atrapalhava na busca de apoios tanto para a governabilidade do Paraná como para a própria reeleição do governador".
Grecca vira o foco das acusações para Leonel Brizola, o líder histórico do PDT: "Com todo o respeito pelo passado de Leonel Brizola, ele virou um censor de idéias".
Lerner e o pessoal do PSDB concordam, em todo caso, em um ponto: o confronto pelo governo do Paraná não vai perturbar o apoio de ambos ao governo Fernando Henrique Cardoso.
"Eu, como prefeito do PDT, subi ao palanque do Fernando Henrique", chega a dizer Grecca.
Luiz Carlos Hauly reforça: "Passada a eleição, não vejo problemas" (para a coligação nacional entre os dois partidos).
É possível, mas o fato é que a mudança de Lerner para o PFL amplia o número de Estados em que já se insinua um confronto aberto entre os dois principais partidos da base governista federal.
Antes, esse cenário já se desenhava no Rio de Janeiro (Cesar Maia, PFL x Marcello Alencar, PSDB), São Paulo (Estado em que o PFL pode apoiar Paulo Maluf contra Mário Covas, do PSDB) e Bahia (em que o conflito é antigo entre tucanos e pefelistas).



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